Infecções hospitalares são uma questão de saúde pública global. E uma iniciativa dentro do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), do Ministério da Saúde, mostra a relevância disso: é o Saúde em Nossas Mãos.
O projeto é tocado pelos hospitais Alemão Oswaldo Cruz, Einstein, Moinhos de Vento, Sírio-Libanês, BP – a Beneficência Portuguesa de São Paulo e Hcor. E basicamente oferece orientação aos profissionais das UTI de instituições públicas, além de auxiliar na implementação de novos processos que aumentam a segurança do paciente e reduzem as taxas de infecção.
O foco do Saúde em Nossas Mãos está nas três principais infecções hospitalares:
- Infecção primária da corrente sanguínea associada a cateter venoso central (IPCSL)
- Pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV)
- Infecção do trato urinário associado ao uso de cateter vesical (ITU-AC)
O resultado do projeto? Desde 2018, foram evitadas mais de 13 mil infecções em unidades de terapia intensiva (UTIs) de 303 hospitais públicos. Estima-se que mais de 5 mil vidas de pacientes do SUS foram salvas em todas as regiões do país, com o bônus de uma economia em custos de saúde de mais de R$ 718 milhões.
Os resultados foram apresentados neste mês, em Brasília, no encerramento do segundo ciclo do projeto, que é dividido em triênios. “Trata-se de um projeto de grande impacto e capilaridade, visto a quantidade de participantes em todo o país”, afirmou Aristides de Oliveira, diretor de Programa da Secretaria de Atenção Especializada à Saúde, do Ministério da Saúde, em comunicado à imprensa.
Ana Paula Pinho, representante dos Diretores de Responsabilidade Social dos Hospitais Proadi-SUS pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz, afirmou que recentemente o projeto trouxe desafios, como a inclusão de UTIs pediátricas e neonatais. “Os números por si só falam da grandiosidade do projeto dada a diversidade do nosso Brasil e as características de cada região”, complementou, também no comunicado.
O tamanho do problema
Os quadros mais de infecção hospitalar são pneumonias, infecções urinárias e contágios atrelados ao uso de dispositivos, como os cateteres. Aliás, o nome técnico é infecção relacionada à assistência à saúde (IRA), até porque esses problemas podem surgir em serviços de saúde além dos hospitais, como centros cirúrgicos ambulatoriais, postos ou instituições de cuidados de longa permanência.
“IRAS causam mais tempo de permanência hospitalar, aumento dos custos em saúde e maior risco de morte”, afirma a infectologista Carla Kobayashi, do Hospital Sírio-Libanês.
Nos países em desenvolvimento, 10 em cada 100 pessoas hospitalizadas se expõem ao quadro, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A prevenção e o controle requerem avaliações contínuas e a implementação de melhorias da qualidade do atendimento – o que nem sempre é simples.
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Lavagem das mãos
Nesse contexto, um dos pilares é a higienização adequada das mãos. Para isso, qualquer indivíduo que entra em um hospital deve ter acesso a pia, sabonete e álcool em gel, além de instruções adequadas sobre como limpar as mãos direitinho.
Os benefícios não se resumem à proteção aos pacientes. Os próprios profissionais de saúde estão sujeitos a contrair infecções hospitalares pelo contato frequente com pessoas doentes. Especialmente para eles, muito treino é necessário.
Regulamentação
A preocupação com a infecção hospitalar, embora tenha crescido nos últimos anos, não é de hoje. No Brasil, por exemplo, o controle desse tipo de infecção foi regulamentado em 1983.
Quinze anos depois, o Ministério da Saúde determinou, por meio de uma portaria, que todo hospital deveria criar uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH). A medida visava implementar ações preconizadas pelo Programa de Controle de Infecções Hospitalares (PCIH) para reduzir a incidência e gravidade do problema.
“A prevenção das infecções não depende somente da atuação da CCIH, mas muito, e principalmente, dos profissionais que estão na ponta, cuidando dos pacientes. Eles é que vão fazer o controle de infecção”, diz a pesquisadora Diana Ventura, do Laboratório de Bacteriologia Aplicada a Saúde Única e Resistência Antimicrobiana do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
A especialista pondera que, nesse contexto, bons resultados só serão alcançados se houver trabalho em equipe. Algo que, naturalmente, passa pela gestão hospitalar. É papel dessas instituições oferecer suporte, como orientações a funcionários e pacientes, e fornecimento de material para a higienização.
O que muitas vezes é um grande desafio, e não somente no Brasil.
Cenário preocupante
Metade das unidades de saúde do mundo sofrem com a falta de serviços básicos de higiene. Estamos falando de itens como água e sabão ou álcool em gel. A escassez se estende dos pontos de atendimento aos banheiros das instalações.
Fora isso, cerca de 3,8 bilhões de pessoas estão em risco de infecção ao utilizarem esses serviços, de acordo com a OMS e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
E mais grave: 688 milhões são atendidos em locais sem qualquer serviço de higiene. Os dados são de um relatório divulgado pelas agências da ONU em 2022.
De acordo com o documento, pelo menos 40 países relataram pontos críticos da oferta em seus centros de saúde, totalizando 35% da população mundial.
Ambientes (e mãos) contaminados são fonte importante de transmissão de vírus, bactérias, fungos e por aí vai. Por isso, a OMS cobra dos países o fortalecimento de serviços de água, saneamento e higiene.
O problema afeta principalmente pessoas em maior vulnerabilidade, como grávidas, recém-nascidos e crianças. Ampliar o acesso à higienização é crucial para que seja ofertada assistência de qualidade, preservando vidas, segundo a OMS.
Infecção hospitalar: um caso de sucesso no Brasil e os desafios atuais Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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