sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Tratamento inovador para calvície pode ajudar pessoas com diabetes tipo 1

Para você entender o motivo pelo qual um medicamento para uma versão de calvície foi testado – com sucesso até agora – contra o diabetes tipo 1, peço um minuto de sua atenção de modo a fazer algumas explicações. 

A primeira: no diabetes tipo 1, o próprio sistema imunológico dispara anticorpos e células de defesa contra as chamadas células beta do pâncreas, que produzem insulina. Resultado: esse hormônio fica em falta no corpo e, sem ele, os níveis de açúcar no sangue sobem. 

A segunda: não sabemos ao certo o motivo pelo qual o sistema imunológico, cuja principal função é nos defender de  vírus, bactérias, fungos e outras ameaças, resolve se virar contra as células beta. Mas o fato é que isso acontece, o que significa que o diabetes tipo 1 é uma doença autoimune. 

+Leia também: Diabetes: não é só sobre o que comer, mas quando e como comer

Continua após a publicidade

E a terceira: o tratamento medicamentoso padrão do diabetes tipo 1 consiste em aplicações de insulina – junto com alimentação saudável, exercícios físicos regulares, monitorização da glicose e muita informação. Sem insulina, a doença se torna letal em dias ou semanas.

No dia 6 de dezembro de 2023, foi publicado um interessante estudo australiano na revista The New England Journal of Medicine avaliando os efeitos endocrinológicos de um medicamento que bloqueia o sistema imunológico – o baricitinibe

Este remédio ficou famoso em novembro de 2023 por ter sido aprovado no Brasil contra um tipo autoimune de calvície – a alopecia areata moderada a grave. Ele também é indicado para casos específicos de artrite reumatóide – outra doença autoimune. 

Continua após a publicidade

Ou seja, é uma opção promissora contra certas doenças autoimunes? Seria o diabetes tipo 1 outra?

Neste estudo de fase 2, foram incluídas 91 pessoas com idade média de 18 anos e diabetes tipo 1 diagnosticado antes de 100 dias, o que é muito precoce. Metade dos voluntários fez o tratamento padrão, enquanto a outra metade fez o mesmo tratamento padrão e ainda tomou comprimidos diários de baricitinibe (a dosagem era de 4 miligrama). E o que aconteceu ao final de um ano? 

Compartilhe essa matéria via:
Continua após a publicidade

Por meio de exames, notou-se que aqueles que utilizaram baricitinibe viram o pâncreas produzir mais insulina do que o outro grupo. Isto se traduziu em um menor “sobe-e-desce” da glicose e uma tendência a menores doses de insulina sendo aplicadas no organismo.

Mas atenção: nenhum dos participantes se livrou por completo das aplicações de insulina. 

De uma maneira geral, os efeitos colaterais do baricitinibe foram pouco frequentes e de leve intensidade, mostrando elevada segurança.   

Continua após a publicidade

Vale lembrar que o Brasil é pioneiro na modulação da autoimunidade usando-se de quimioterapia associada a células-tronco da medula óssea das próprias pessoas com diabetes tipo 1 recém-diagnosticadas. 

Os estudos de fase 1 e 2 liderados pelo saudoso cientista, nosso amigo e professor Júlio Voltarelli mostraram que cerca de 90% dos indivíduos ficaram livres de insulina por períodos que variaram de seis meses a 14 anos.  Tenho alegria de ter participado de alguns desses trabalhos. 

BUSCA DE MEDICAMENTOS Informações Legais

DISTRIBUÍDO POR

Consulte remédios com os melhores preços

Favor usar palavras com mais de dois caracteres
DISTRIBUÍDO POR
Continua após a publicidade

A diferença de resultados destes dois estudos talvez seja a intensidade da imunossupressão. No caso brasileiro, a quimioterapia suprime enormemente o sistema imunológico, porém às custas de maiores riscos e efeitos colaterais. 

Já o baricitinibe é um tratamento seguro, porém com eficácia inferior, quando comparamos cada estudo isoladamente. 

Com os resultados deste estudo de fase 2 com baricitinibe, abre-se uma enorme porta para as pesquisas de fase 3, que envolvem um número maior de pessoas com diabetes tipo 1 e um acompanhamento mais longo. Vamos aguardar. 

Publicidade

Tratamento inovador para calvície pode ajudar pessoas com diabetes tipo 1 Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário