segunda-feira, 15 de abril de 2019

É possível atravessar “buracos de minhoca”. Só não seria útil

Há várias décadas, os físicos teóricos trabalham com o conceito de uma estrutura que permitiria cortar caminho em trajetos entre as estrelas ou mesmo entre as galáxias: o buraco de minhoca. Previstos pela teoria da relatividade geral de Einstein, esses túneis sempre foram vistos como potenciais atalhos para chegar até pontos extremamente distantes do Universo muito mais depressa do que pela “superfície”. Mas parece que essas tão sonhadas viagens expressas pelo cosmos não seriam realmente vantajosas.

É o que afirma Daniel Jafferis, físico da Universidade Harvard e autor de um novo estudo sobre essas estruturas. “Leva mais tempo para passar por esses buracos de minhoca do que ir diretamente, então eles não são muito úteis para a viagem espacial”, diz. O pesquisador apresentou suas descobertas no último sábado (13) durante uma reunião da Sociedade Americana de Física (APS, na sigla em inglês) em Denver, nos Estados Unidos.

Segundo ele, há obstáculos que impedem os tipos conhecidos de buraco de minhoca funcionem como atalhos para viagens mais rápidas que a luz. O buraco de minhoca imaginado pelo pesquisador seria a conexão entre dois buracos negros. O problema é que, se um astronauta navegasse na direção de um buraco negro e sua monstruosa gravidade, por exemplo, tudo o que alguém de fora iria ver seria a espaçonave andar cada vez mais devagar, mas nunca atravessar o horizonte de eventos (a “beirada” do buraco negro). Gravidade, tempo e espaço se embaralham no interior do buraco de minhoca, o que inevitavelmente acaba comprometendo a velocidade.

É por isso que os cálculos de Jafferis sugerem ser mais rápido viajar pelo espaço. Chega a ser irônico, para não dizer trágico: a natureza permite a existência de túneis ligando regiões longínquas do espaço, contanto que não haja vantagem na velocidade. “Buracos de minhoca atravessáveis são como pedir um empréstimo bancário”, escrevem os autores no artigo, com sarcasmo. “Você só pode obter um se for rico o bastante para não precisar dele”

Apesar de terem recebido um belo balde de água fria, as viagens intergalácticas não eram bem o foco de Jafferis nessa pesquisa. Ele estava muito mais interessado em contribuir para o desenvolvimento da teoria da gravidade quântica. Você já deve ter ouvido falar que os dois pilares da física moderna, a relatividade geral e a mecânica quântica, são como água e óleo: não se misturam. Achar um elo entre as duas seria descobrir a teoria de tudo.

E, segundo o físico, encontrar caminhos teóricos sobre como construir um buraco de minhoca pelo qual a luz possa viajar ajuda muito nessa busca pela conciliação das duas áreas. O estudo conduzido por Jafferis em colaboração com os colegas Ping Gao, também de Harvard, e Aron Wall, de Stanford, foi baseado em uma hipótese interessante formulada em 2013 pelos físicos teóricos Leonard Susskind e Juan Maldacena.

A ideia foi batizada de ER=EPR, em homenagem aos sobrenomes dos cientistas que escreveram os primeiros artigos sobre buracos de minhoca (Einstein e Rosen) e sobre o entrelaçamento quântico (Einstein, Podolski e Rosen). Esse fenômeno faz partículas emaranhadas compartilharem certas propriedades físicas instantaneamente, mesmo que estejam em galáxias diferentes. Susskind e Maldacena sugerem que o entrelaçamento nada mais é do que um buraco de minhoca.

Jafferis concebeu o conceito de dois buracos negros entrelaçados a nível quântico: conectados, portanto, por um buraco de minhoca. Mesmo que essa ponte não seja exatamente um atalho, a nova teoria fornece insights importantes para a mecânica quântica. “Pela perspectiva exterior, viajar através do buraco de minhoca é equivalente ao teletransporte quântico usando buracos negros emaranhados”, explica o físico. A viagem pode até ser lenta – mas certamente seria muito valiosa para a ciência.


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