A cerveja é majoritariamente associada aos homens: eles estão à frente das maiores fabricantes do mundo, e também costumam ser o público-alvo dos comerciais da bebida. Mas a história nem sempre foi essa. Se hoje você pode curtir uma cerveja depois do expediente, foi porque mulheres alcançaram a forma ideal de produzir o líquido.
Os humanos têm consumido cerveja há pelo menos sete mil anos. Desde os primórdios da produção, as responsáveis por preparar a bebida eram mulheres. Nem é tão estranho se você lembrar da estrutura familiar vigente na época – enquanto os homens geralmente se encarregavam da caça, elas eram responsáveis por coletar grãos e preparar os alimentos (inclusive a cerveja).
E a tarefa perdurou. Na cultura viking e egípcia, por exemplo, elas preparavam a bebida cerimônias religiosas ou mesmo para o consumo dentro de casa, já que a cerveja é um alimento prático e rico em calorias. Os antigos sumérios, que habitavam a região dos rios Tigres e Eufrates, tinham até mesmo uma deusa da cerveja, chamada Ninkasi.
Vamos começar pelo básico da cerveja. Se você gosta da bebida, já deve ter ouvido falar do lúpulo. Essa planta carrega substâncias que dão o aroma e o amargor à cerveja, além de inibir a proliferação de bactérias e melhorar a qualidade da espuma. A primeira pessoa a registrar o uso do ingrediente (e adicioná-lo à cerveja) foi a freira Hildegard von Bingen. A alemã escreveu sobre as propriedades do lúpulo no século 12 em seu livro intitulado Liber Subtilitatum Diversarum Naturarum Creaturarum (Livro das Propriedades ou Sutilezas das Várias Criaturas da Natureza).
Até o século 16, a cerveja foi se tornando um alimento comum para as famílias da Europa, e a sua produção era só mais uma tarefa doméstica para as donas de casa. Viúvas e mulheres solteiras aproveitavam a habilidade com a fermentação para ganhar algum dinheiro extra nos mercados. Já as mulheres casadas podiam fazer parcerias com os maridos para administrar cervejarias.
Encontrar as mulheres cervejeiras no mercado não era difícil: elas usavam chapéus grandes e pontudos para serem reconhecidas pelos clientes; e geralmente estavam diante de grandes caldeirões, onde o líquido era produzido. Aquelas que tinham estabelecimentos próprios deixavam uma vassoura na porta para avisar que a bebida estava disponível para ser comprada. Para completar, era comum que comerciantes criassem gatos, para manter os ratos longe dos grãos.
Se você imaginou uma bruxa revirando um caldeirão alcóolico, não é à toa. Segundo a professora Laken Brooks, em um artigo para o The Conversation, é possível que parte da imagem clássica das bruxas tenha vindo das cervejeiras. Isso porque alguns comerciantes viram a oportunidade de eliminar a concorrência pegando carona na Inquisição – movimento da Igreja Católica que pretendia combater a heresia e a bruxaria.
Os cervejeiros passaram a acusar as mulheres de bruxaria, alegando que elas utilizavam os caldeirões para preparar poções mágicas ao invés do entorpecente. A acusação era grave, já que as moças tidas como bruxas não eram apenas desprezadas pela sociedade, mas também poderiam ser presas e mortas. Nem todos os homens acreditavam que elas eram de fato bruxas, é claro, mas muitos defendiam que produção e comércio de cerveja não era para as mulheres, já que o tempo investido no negócio era desviado dos cuidados de casa e dos filhos.
Com o tempo, a participação feminina no ramo caiu consideravelmente. Hoje, o cenário da produção de cervejas é contrário àquele que perdurou por milênios. Uma pesquisa feita pela Universidade de Stanford, nos EUA, mostrou que apenas 17% das cervejarias artesanais têm uma mulher como CEO, sendo que apenas 4% delas contam com uma mestre-cervejeira.
Como as mulheres passaram de fabricantes de cerveja a acusadas de “bruxaria” Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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