segunda-feira, 31 de maio de 2021

Por que a Coronavac apresenta diferentes taxas de efetividade?

Após a aprovação da Coronavac, vários estudos foram realizados nos países onde ela tem sido aplicada para demonstrar seu potencial frente ao coronavírus na “vida real”. E os dados de proteção, além de variarem de uma pesquisa para outra, diferem dos resultados encontrados nas pesquisas clínicas que justificaram a aprovação dessa vacina contra a Covid-19. Lembre-se de que a Anvisa liberou o uso emergencial por aqui com uma eficácia de pouco mais do que 50%.

Já na pesquisa conduzida pelo Instituto Butantan na cidade de Serrana, no interior de São Paulo, a Coronavac alcançou efetividade de 80% contra casos sintomáticos. A injeção também preveniu as hospitalizações em 86% dos casos e a morte em 95%. Para quem não sabe, quase toda a população adulta dessa cidade do interior de São Paulo recebeu as duas doses da vacina.

Em outra investigação, essa feita pelo governo do Chile com 10,5 milhões de pessoas com mais de 16 anos, a Coronavac apresentou efetividade de 67% contra casos sintomáticos. Ela ainda impediu 85% de hospitalizações, 89% das entradas em UTIs e 80% dos óbitos.

Por sua vez, o grupo Vaccine Effectiveness in Brazil Against Covid-19, apoiado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), realizou um levantamento focado no estado de São Paulo. A efetividade média em indivíduos acima de 70 anos foi de 42%. E, conforme a idade aumenta, essa taxa cai. Dos 70 aos 74 anos, ela fica em de 61,8%. Entre 75 e 79 anos, já vai para 48,9%. E de 80 anos para cima, é de apenas 28%.

A pesquisa – que ainda não foi revisada por outros cientistas e publicada em uma revista científica – contou com a participação de 7 950 idosos com idade média de 76 anos, imunizados entre 17 de janeiro e 29 de abril.

Então é hora de desatar o nó que envolve tamanha variação de resultados.

Eficácia e efetividade não são sinônimos para a ciência

O imunologista Carlos Zárate-Bladés, do Laboratório de Imunorregulação do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina, começa contando que a eficácia de uma vacina contra a Covid-19 é definida em estudos clínicos rigorosos, feitos em condições ideais e controladas. Ela basicamente aponta quantas infecções, casos sintomáticos, hospitalizações ou mortes – a depender do critério utilizado – foram evitadas em um grupo específico que recebeu o imunizante, versus outro que ficou só com o placebo.

Já a efetividade se refere a como essa vacina performa em uma dada população, após as aprovações das agências de saúde. É um ambiente bem menos controlado e heterogêneo. Por um lado, há pessoas que podem esquecer ou não receber a segunda dose, por exemplo. De outro, esse contexto pode se beneficiar da imunidade coletiva, caso muita gente seja vacinada.

Mas por que as taxas de efetividade variam tanto entre os estudos?

Não podemos esquecer das variantes do coronavírus, que predominam de forma distinta em cada país, e podem resistir mais ou menos às vacinas.

Zárate-Bladés destaca que a variação nesses índices também têm a ver com uma questão básica: a reação de cada sistema imunológico. “Existe variabilidade entre os seres humanos e entre as populações”, argumenta.

É possível, portanto, que características genéticas de determinado povo o faça responder melhor à imunização. No mais, uma região com bom atendimento assistencial vai oferecer um suporte melhor à campanha de imunização, o que também conta.

Além disso, hábitos de vida e doenças crônicas influenciam na resposta imune. As pesquisas clínicas incluem diferentes indivíduos justamente para checar se há algum contraste gritante entre cada subgrupo.

A idade parece ser um componente importante para a efetividade de certas vacinas. Veja: conforme envelhecemos, nosso sistema imunológico se torna mais frágil. Experimentos já mostram, por exemplo, que as injeções contra a gripe são menos protetoras nos mais velhos.

Na fase três do estudo clínico da Coronavac feito no Brasil, a média de idade dos voluntários era de 39 anos. Os idosos representavam apenas 4,9% dos participantes. Por isso, já se esperava que houvesse alguma variação entre os mais velhos

Não à toa, os integrantes do Vaccine Effectiveness in Brazil Against Covid-19 concluem que mais pesquisas são necessárias para determinar como otimizar a vacinação dos maiores de 80 anos. Aumentar o número de doses ou optar por outro imunizante seriam opções, mas que dependem da disponibilidade de imunizantes. No momento, o mais importante é incrementar rapidamente o número de vacinados no Brasil.


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Parar de fumar é preciso! Ainda mais na pandemia

Talvez você não saiba, mas o tabagismo é considerado uma doença. Tem inclusive um CID (Código Internacional de Doenças) próprio. O que praticamente todo mundo já ouviu é que fumar é um fator de risco para inúmeros problemas de saúde, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), desordens cardiovasculares, câncer de pulmão, infecções respiratórias e por aí vai. A lista é enorme.

Essa ligação do cigarro com um estado de saúde pior faz inclusive, neste momento da pandemia em que a vacina contra Covid-19 é oferecida a pessoas com comorbidades, muita gente se perguntar se fumar faz parte delas. De fato, percebemos que os casos fatais da infecção pelo coronavírus são mais comuns entre indivíduos que apresentam as enfermidades associadas ao tabagismo. Não à toa, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que “os fumantes podem ter mais chances de desenvolver as formas graves de Covid-19 se comparados aos não fumantes.”

Independente de outros fatores, estima-se que, sozinho, o tabagismo esteja por trás de cerca de 8 milhões de mortes por ano no mundo. Terrível, não? Mas quem fuma sabe do risco e mesmo assim continua fumando. Por quê? Em primeiro lugar, é bom que se diga: não é culpa deles!

Ora, o tabagismo é uma doença e precisa ser tratado como tal. Em outras palavras: os fumantes precisam buscar o médico e um tratamento. Ele existe e é acessível.

Ouvimos famílias dizendo que o sujeito “não cria coragem para largar o cigarro” ou “não toma vergonha na cara para parar de fumar”. Esse não é o caminho, a meu ver. Temos que entender o tabagismo como uma dependência química e psíquica que exige uma abordagem médica ou multiprofissional, com psicoterapia e medicamentos.

Um dos entraves para abandonar o cigarro é o medo que o fumante tem de ficar longe dele. Isso tem a ver com os receptores de nicotina no cérebro: quando sentem que o nível da substância cai no sangue, eles despertam na pessoa a vontade de fumar. E, de unidade em unidade, lá se vão dez, quinze, vinte cigarros. Ou mais de um maço por dia.

O primeiro passo do tratamento é justamente perder o medo. A medicina tem estratégias para isso, que envolvem apoio psicológico individual ou em grupo, terapia ocupacional e prescrição de produtos de reposição de nicotina ou medicamentos.

Parar de fumar não só reduz o risco de um quadro severo de Covid-19 como ajuda a prevenir mais de 60 tipos de doença. Os benefícios, aliás, começam de imediato: 20 minutos sem cigarro já fazem a pressão arterial baixar, em 12 horas o monóxido de carbono no organismo tende a normalizar, em dois ou três meses diminuem sintomas como tosse e perda do fôlego.

Olha quantas vantagens! Sem contar a economia, bem-vinda nestes tempos em que cada centavo se tornou mais precioso. Vamos perder o medo de ficar sem cigarro. Vamos procurar o médico e vencer o tabagismo. Respirar é preciso!


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Pare de fumar pelo bem do pênis, dos rins e da bexiga

Enquanto a medicina reconhece há muito tempo que o hábito de fumar está ligado ao surgimento de pelo menos 50 doenças — entre elas a disfunção erétil e tumores de rim e bexiga —, uma parcela da humanidade parece andar na contramão das recomendações. Dados recentes da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) indicam que, apesar de uma queda nos números, mais de 12% da população brasileira ainda fuma.

Tanto o tabagismo ativo quanto a exposição passiva à fumaça estão implicados no maior risco de problemas de saúde que vão de infarto a tumores agressivos como o de pulmão. Na urologia, uma das doenças mais frequentes e letais associada ao cigarro é o câncer de bexiga, que, quando atinge a camada muscular do órgão, leva à morte em pelo menos 50% dos casos.

Não é à toa que a World Bladder Cancer Patient Coalition instituiu maio como o Mês Mundial do Câncer de Bexiga, e a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), em apoio à campanha, destinou uma série de ações visando esclarecer a população sobre os efeitos nocivos do cigarro, tanto no surgimento dessa enfermidade como em outros aspectos da saúde urológica.

Há muito se reconhece a ligação entre o hábito de fumar e o aparecimento de cânceres urológicos, sendo o exemplo clássico disso o câncer de bexiga. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a estimativa de novos casos para o período de 2020/2022 é de 7 590 em homens e de 3 050 em mulheres.

No nosso meio, o cigarro é o fator causal mais comum para o tumor. As substâncias químicas nocivas presentes no tabaco são absorvidas pela inalação e muitas delas são eliminadas pela urina, proporcionando um contato direto com as células que revestem o trato urinário, especialmente as da bexiga, onde a urina permanece por mais tempo.

Um detalhe traiçoeiro é que esse câncer não costuma produzir sintomas em seu início, podendo o primeiro indício ser a presença de sangramento indolor na urina, às vezes invisível a olho nu, e detectado somente em exames de laboratório. Mesmo quando visível, por vezes é transitório, e o indivíduo acaba atribuindo a situação a uma passagem de cálculo ou ingestão de algum alimento ou medicamento. Quando produz sintomas, esses podem até se assemelhar aos de uma infecção urinária.

Outro câncer relacionado ao tabaco é o de rim. Igualmente traiçoeiro, sua detecção mais frequentemente tem ocorrido de forma incidental em um check-up ou em um exame de imagem por outras razões. Os sintomas, quando presentes, incluem dor ou desconforto na parte lateral do abdômen ou costas, inchaço abdominal, sangue na urina e perda de peso.

Segundo uma revisão em cima de 24 estudos envolvendo mais de 20 mil homens com câncer de próstata, os fumantes não somente apresentaram maior incidência da doença, como também a do tipo fatal, com um risco até 30% maior de morte do que os não fumantes. Vários mecanismos podem estar por trás dessa conexão: de mutações genéticas a alterações no metabolismo. Além disso, não é raro o fumante agregar outras comorbidades, como as cardiovasculares e as respiratórias, que comprometem a evolução em algum momento do tratamento.

Nem o pênis escapa dos efeitos do cigarro. Sabemos que o tabagismo aumenta o risco de disfunção erétil. Uma pesquisa publicada em 2020 por médicos turcos concluiu que o nível de exposição ao cigarro interfere diretamente na capacidade de obter e manter a ereção. A boa notícia é que parar de fumar leva à melhora da função sexual, favorecendo a dilatação das artérias e minimizando a obstrução dos vasos que irrigam o pênis. Quanto antes isso acontecer, melhor, pois os danos às vezes são irreversíveis.

Assim, seja para evitar um câncer, seja para preservar a vida sexual, a medicina não hesita em aconselhar: nunca é tarde e sempre vale a pena parar de fumar. E o melhor mesmo é nem começar.

* Karin Jaeger Anzolch e Roni de Carvalho Fernandes são urologistas e responsáveis pelo Departamento de Comunicação da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU)


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Covid-19: consumo de cigarro cresce, mas sucesso pra largar o vício também

Pesquisas atestam que o tabagismo sofreu um boom durante a pandemia de Covid-19 no Brasil. A má notícia pode ser vista com certa naturalidade quando analisamos o cenário da crise sanitária mundial: está comprovado que o estado de espírito é um fator importante no aumento do consumo de cigarro e afins. Existem evidências sobre a relação entre sentimentos negativos e a vontade de fumar.

Um estudo da Fiocruz constatou que cerca de 33% dos fumantes brasileiros (que representam 12% da população) aumentaram o uso de cigarros durante a pandemia. Enquanto isso, 12% relataram fumar menos e 54% seguem fumando a mesma quantidade. A alta foi maior entre mulheres e indivíduos com ensino médio incompleto. O sentimento de isolamento, tristeza, depressão, ansiedade, medo, pior qualidade de sono e perda de rendimentos foram algumas das justificativas para o acréscimo na quantidade de cigarros consumidos.

Na Austrália, cuja prevalência de fumantes é similar à nossa (11%), não houve mudança radical nesse comportamento: entre aqueles que já fumam, apenas 6,9% aumentaram a quantidade de cigarros usados. Porém, ocorreram outras mudanças negativas entre os australianos, como diminuição da atividade física (48,9%), piora do sono (40,7%) e maior ingestão de álcool (26,6%).

Já na Itália, o tabagismo cresceu 9,1% desde o início da pandemia. Historicamente, tanto na Itália como nos Estados Unidos, há comprovações de maior consumo de tabaco durante recessões econômicas, também atribuídas a problemas financeiros.

Contraponto

Assim como para alguns a tensão promovida pelos efeitos da pandemia exacerbou maus hábitos, para outros a crise está levando a repensar rotas, incluindo se livrar de vícios. E o momento é propício: a combinação de cigarro e Covid-19 pode ser explosiva. Estatísticas apontam que quem fuma tem o dobro de chance de precisar de intubação, na comparação com quem não fuma. Isso acontece porque o tabaco inflama as mucosas das vias aéreas e prejudica os mecanismos de defesa do corpo, fazendo desse grupo um alvo fácil para infecções. E não podemos ignorar a devastação que o cigarro provoca no organismo a qualquer tempo: câncer de pulmão e doenças cardiovasculares e respiratórias estão aí para provar.

Para quem decidiu apagar esse vício de vez, tenho um recado: essa luta não deve ser solitária. O tabagismo é uma doença com mais de cinco circuitos cerebrais envolvidos. Ninguém espera que um paciente com diabetes ou hipertensão se trate sozinho. Da mesma forma, um tabagista que busca uma solução definitiva para o seu problema irá precisar de tratamento e acompanhamento médico. Há estratégias terapêuticas específicas, com uso de remédios, que aumentam em até cinco vezes a chance de parar de fumar e minimizam a possibilidade de recaída precoce e ganho de peso, um dos medos de quem quer deixar o cigarro de lado.

Por isso estamos otimistas com uma técnica comportamental inédita desenvolvida por nossa equipe no InCor. Associada ao tratamento com o medicamento vareniclina, ela duplicou a chance de o paciente parar de fumar. A relevância do trabalho o habilitou a ser apresentado no Congresso da American Heart Association, em novembro de 2020, e já foi aceito para publicação no periódico Tobacco Cessation and Prevention no início deste ano, além de estar inscrito nos Temas Livres do Congresso SOCESP 2021, de 10 a 12 de junho.

Batizado de “fumar de castigo”, o método libera o paciente para fumar quando tiver vontade a partir do oitavo dia de uso da vareniclina, desde que cumpra algumas regras rígidas: fumar sozinho, em pé e olhando para a parede, sem distrações como celular, TV, alimentos ou bebidas. Trata-se de uma forma de dissociar o cigarro com atividades prazerosas. Para aqueles que optaram por deixar o tabaco, o “fumar de castigo” tem promovido mais adesão e continuidade.

Desde 15 de março de 2020, o Centro Especializado em Cessação Tabagismo, do InCor, ofereceu aos fumantes que procuravam tratamento a opção de atendimento remoto, mantendo a opção de consultas presenciais — todos os pacientes foram tratados com o mesmo protocolo. A principal diferença entre as modalidades foi a impossibilidade de realizar a medição de monóxido de carbono (monoximetria) nas teleconsultas para avaliar o consumo de cigarros e confirmar a cessação. Mas isso não invalida a terapia.

A taxa de sucesso do tratamento foi de 63,6% no grupo presencial e de 71,4% no online. Entre os pacientes que efetivamente iniciaram o processo, mas não conseguiram parar, o índice foi 9% no presencial e 14% no remoto. Já o percentual dos que pararam de fumar, mas recaíram antes de completar 52 semanas foi de 27% entre os que foram até o consultório e 14% pra os avaliados de forma online. Diante desses dados, podemos concluir que a efetividade do programa não foi prejudicada pela telemedicina, que foi a principal forma de tratamento durante a pandemia.

O Brasil já está no caminho certo, cumprindo as medidas indicadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a redução do fumo. Graças às campanhas de saúde pública na última década, o número de fumantes brasileiros caiu 40%. Um relatório da OMS revela que, entre os 171 países que aderiram às medidas globais, apenas Brasil e Turquia implementaram diversas ações bem-sucedidas.

Mas ainda há muito a ser feito. Nossa intenção com o desenvolvimento do novo modelo é dissipar de vez essa fumaça para contabilizar apenas números crescentes de ex-fumantes.

*Jaqueline Scholz é cardiologista, assessora científica da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – SOCESP, diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do INCOR (Hospital das Clínicas da USP).


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domingo, 30 de maio de 2021

A verdade que não te contam sobre o abuso sexual infantil

Era dia 18 de maio de 1973, uma menina de apenas 8 anos de idade saía de sua casa para ir à escola. Ela nunca mais voltou. Seis dias após o desaparecimento, Araceli foi encontrada morta. Após a realização da perícia, descobriu-se que ela havia sido brutalmente espancada e estuprada. Hoje, milhares de crianças como Araceli pedem socorro. Você irá atender?

Uma em cada três crianças no Brasil é abusada sexualmente até os 18 anos de idade, sendo que a maioria dos abusadores são parentes próximos, que convivem diariamente com o menino ou a menina. Só que fechamos os olhos diante dessa urgente realidade.

Durante a pandemia do coronavírus, lutamos diariamente contra um inimigo que ceifou milhares de vidas ao redor do mundo. Mas o abuso sexual infantil é uma preocupação um tanto quanto crescente, e que tem chamado a atenção de autoridades no Brasil e no mundo. Por vezes, ele vem acompanhado de mais problemas, como violência física, pornografia, pedofilia, bullying e tantas outras coisas sombrias que não gostamos sequer de pensar.

Infelizmente, a agressão contra crianças não conhece fronteiras. Na maioria dos casos, como comentei, elas são vítimas de violência nas mãos de pessoas em quem confiam. Isso justifica o aumento de ocorrências de abuso infantil durante o isolamento social imposto pela pandemia, já que, nessas circunstâncias, os agressores permanecem dentro de casa em tempo integral com a criança. Dados do Ministério da Saúde mostram que, em 37% dos casos de abuso infantil, o criminoso é da família – em 81,6% das situações, são homens.

A violência sexual é velada, obscura e travestida de medo, vergonha e tabus. Muitas crianças nem conseguem compreender que são vítimas de um crime. Até porque, vale reforçar, o abusador costuma ter a sua confiança. Assim, ele se aproveita sem que ninguém no entorno perceba nada.

Independentemente de qual tipo seja, a violência sexual traz problemas que impactam o resto da vida de uma pessoa. São danos incalculáveis, que podem ter repercussões cognitivas, emocionais, comportamentais, físicas e sociais – isso quando não é até mesmo fatal, como aconteceu com a pequena Araceli.

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Esse é um problema que jamais deveríamos ignorar. Não podemos silenciar nossas vozes para algo tão importante quanto a proteção de nossas crianças.

E, mais do que apenas escrever esse texto, quero te pedir um favor: entenda o que você também pode fazer. Esteja atento aos sinais. Porque a criança que está sofrendo algum tipo de abuso dá pistas disso. Veja alguns indícios:

  1. Analise grandes mudanças comportamentais, além de perda de apetite, apatia, medo aparente de ser tocado (mesmo que para um simples abraço dos pais), ansiedade e explosões de raiva.
  2. Observe hábitos fora do comum, como a criança passar a ter medo extremo de ficar sozinha ou de permanecer perto de certas pessoas. Oscilações de humor e até adoecimento (físico e mental) também merecem olho vivo.
  3. Esteja atento a possíveis traumas físicos, como surgimento de roxos pelo corpo, inchaços e qualquer alteração na região genital e anal.
  4. Identifique se a criança está usando termos eróticos em suas conversas, fazendo desenhos sexuais, dando nomes diferentes às suas partes íntimas ou se apresenta um comportamento erotizado com ela mesma e/ou com outras crianças.
  5. Fique alerta quanto a regressões comportamentais. Por exemplo: voltar a chupar o dedo ou fazer xixi nas calças.

Se houver suspeita de violência de qualquer tipo à criança, não hesite em denunciar. Há caminhos para isso. Você pode utilizar o Disque 100, um serviço de disseminação de informações sobre direitos de grupos vulneráveis e de denúncias de violações aos direitos humanos.

Também é possível denunciar na delegacia especializada da criança e do adolescente ou diretamente no Conselho Tutelar.

E o mais importante disso tudo: ouça a criança. Acredite no que ela está contando. Em situações de abuso, 92% das crianças dizem a verdade, sendo que 8% das invenções são induzidas por adultos. Não ignore um pedido de socorro.

Não podemos nos calar diante dessa realidade. Que mais Aracelis não tenham sua infância roubada, seu futuro selado e sua vida ceifada por algo tão inaceitável em nossa sociedade. E que eu e você possamos fazer a diferença nessa história.

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“Uso uma bolsa de colostomia. E daí?”

Vista por muitos como algo que amedronta, causa repulsa e até mesmo nojo, a bolsa de estomia é, na verdade, a bolsa da vida. Doenças ou malformações que alteram o funcionamento do intestino ou do trato urinário, assim como perfurações ocasionadas na região abdominal por tiros ou facadas, podem levar à necessidade do uso desse recurso.

Mais conhecida como “bolsa de colostomia”, ela pode ser também de ileostomia ou urostomia, conforme a condição do usuário. Qualquer um de nós está sujeito a precisar dela um dia. É a bolsa que dá a chance de se continuar vivendo, com sua família, seus amigos, seus bichos de estimação, seu trabalho, sua casa e fazendo tudo aquilo que se gosta de fazer.

Haverá algumas adaptações e mudanças na rotina, sem dúvida. Mas, à medida que sua vida for se adequando à nova realidade, você, e quem te ama, irá perceber que a bolsa faz parte do dia a dia, e não é algo que define quem você é de verdade.

São inúmeros os relatos positivos dos usuários de bolsa. Ninguém deixou de viajar, namorar, fazer esportes, ir à praia, trabalhar, cuidar da casa ou dos filhos por causa da bolsa. Cada vez mais, ela está sendo mostrada sem ser um motivo de vergonha. Que bom!

Inseridos por lei na condição de deficientes físicos, os usuários têm direitos que devem ser respeitados. Desde 2020, banheiros públicos exclusivos para pessoas com estomia estão sendo incorporados à lei em diversas cidades do Brasil. Uma sociedade que faz da inclusão um objetivo comum só tem a ganhar. Atender a essa demanda em busca de uma melhor qualidade de vida para quem convive com uma estomia é algo essencial e que nos eleva enquanto sociedade. Qualquer preconceito deve ser combatido.

A união de empresas, governos, profissionais de saúde e atendimentos públicos e privados para a solução das demandas de quem usa uma bolsa é essencial. É preciso ouvir esse público, entender suas necessidades, dar-lhes confiança, colocar em prática o empoderamento, oferecer um tratamento humanizado e respeitoso e defender seus direitos no acesso a produtos com a mais avançada tecnologia, como é o caso de um novo modelo de bolsa que acaba de chegar ao país. Tudo isso cumpre nosso compromisso de elevar o padrão de cuidado, a segurança e a qualidade de vida de quem tem um estoma.

É hora de quebrar tabus, preconceitos, medos, crenças limitantes e tudo mais que torna as pessoas com estomia “diferentes”. Vamos viver tudo que há para viver!

* Luiz Tavares é diretor-geral da Coloplast

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sábado, 29 de maio de 2021

Quem tem problema cardíaco pode se exercitar?

Estima-se que no Brasil existam mais de 14 milhões de cardiopatas, pessoas que convivem com doenças cardíacas. Com o aumento da expectativa de vida da população, a previsão é que esse número cresça, acarretando ainda mais danos pessoais, sociais e econômicos.

Uma crença foi construída e ganhou força ao longo de décadas fazendo muitos acreditarem que o esforço excessivo seria o causador de problemas no coração. A partir desse conceito errôneo, aconselhava-se que os pacientes com doenças cardíacas deveriam repousar para recuperar suas forças. No entanto, os estudos mais recentes apontam justamente o contrário, e a reabilitação cardíaca hoje é uma realidade.

Doenças do coração podem ser extremamente limitantes fisicamente. Alguns cardiopatas chegam ao ponto de não conseguir realizar atividades básicas diárias, como pentear o próprio cabelo ou tomar banho, sentem constantemente fraqueza muscular, cansaço e falta de ar.

Por outro lado, o que se observa em centros de reabilitação é que, com estímulos físicos e acompanhamento adequado, isso pode ser revertido e prevenido, tornando funcionais os pacientes que outrora dependiam de cuidados constantes.

É comum acreditar que portadores de problemas no coração só podem fazer atividades físicas leves, como caminhadas e alongamentos. Isso é um dos principais erros e um dos fatores limitadores do ganho de capacidade física e qualidade de vida.

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Pesquisas desenvolvidas em centros especializados e hospitais universitários mostram que o ganho de força através da musculação é uma ferramenta-chave para a saúde e o bem-estar dessa população. Quebrando vários paradigmas, cientistas mostram que, além da musculação, treinamentos intervalados de alta intensidade podem ser seguros e altamente eficientes em cardiopatas.

Agora, é muito importante ressaltar que não é uma questão de simplesmente pegar o tênis e subir numa esteira. Antes de começar as atividades ou se matricular em uma academia, quem tem um problema no coração precisa ter seu risco avaliado por um médico. Inclusive porque algumas situações, como arritmias e alterações nas válvulas cardíacas, podem restringir a prática esportiva.

Ser cardiopata não é sinônimo de ter baixo condicionamento físico para sempre: é possível, saudável e recomendável praticar atividade física de maior intensidade e recuperar a qualidade de vida. Contudo, a supervisão e o acompanhamento qualificados são imperativos para a segurança do processo — e, não à toa, configuram um mercado em ascensão para os profissionais da saúde.

A avaliação por um fisiologista para a personalização do treinamento é fundamental para potencializar os resultados e minimizar os riscos. A maior contraindicação é ficar parado.

* Gustavo Monnerat é profissional de educação física, PhD em fisiologia do exercício e fisiologista do Clube de Regatas Flamengo

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