Divulgação de gravações misteriosas está relacionada a uma lei que foi aprovada no ano passado para combater a pandemia – mas também contém um artigo envolvendo objetos não-identificados
“Jabuti”, na gíria parlamentar, é um artigo que nada tem a ver com determinado projeto de lei – mas foi inserido ali, sorrateiramente, por algum deputado ou senador interessado em aprovar aquela medida (a expressão deriva do dito popular “jabuti não sobe em árvore”, ou seja, está lá porque alguém o colocou). A lei orçamentária HR 133, que foi aprovada pelo Congresso dos EUA e sancionada pelo ex-presidente Donald Trump em dezembro de 2020, tem vários jabutis.
Ela autoriza o governo americano a gastar US$ 2,3 trilhões, com a maior parte do dinheiro indo para combater os efeitos econômicos da pandemia: US$ 900 bilhões em auxílio emergencial pago aos cidadãos americanos. A lei também prevê US$ 740 bilhões em gastos militares, e US$ 664 bilhões em “programas domésticos” – um guarda-chuva que cobre praticamente todas as agências e autarquias americanas. Até aí, normal. Só que essa lei incorporou outra, a Intelligence Authorization Act 2021. E é aí que o bicho, o jabuti, pega.
A lei exige, como condição para financiar as agências de inteligência dos EUA, que a Marinha dos EUA publique “uma análise detalhada de fenômenos aéreos não-identificados”, revelando “dados e inteligência coletados ou possuídos”, e também manda o FBI abrir suas investigações “de fenômenos aéreos não-identificados sobre o espaço aéreo dos Estados Unidos”. É a primeira vez, na história, que algo do tipo acontece.
A ordem será cumprida nas próximas semanas. Em algum momento do mês de junho, o Congresso dos EUA irá receber um relatório oficial sobre OVNIs, em que o Pentágono revelará o que sabe sobre o tema. É por isso que, nos últimos meses, aumentaram os vazamentos e as confirmações de vídeos estranhos, com objetos voadores em situações peculiares. Em abril, os militares confirmaram a autenticidade de um vídeo gravado em 2019, que mostra um objeto triangular sobrevoando o porta-aviões USS Russell. Em maio, fizeram o mesmo com outro vídeo, que mostra um objeto não-identificado entrando no mar na costa da Califórnia. Em 2020, o Pentágono já havia confirmado outros três vídeos (leia mais sobre eles na reportagem “O Incidente Nimitz”).
Ir liberando gravações aos poucos é uma forma de preparar o terreno para o relatório oficial, muito aguardado, diluir seu possível impacto e saciar parcialmente o interesse da sociedade – especialmente aguçado depois que, em agosto de 2020, o Departamento de Defesa dos EUA criou a UAPTF, uma força-tarefa para “detectar, analisar e catalogar fenômenos aéreos não-identificados”.
Nada disso significa, claro, que o relatório vá revelar todas as informações que os EUA possuem. Seria ingênuo fazer isso. Reter os dados mais valiosos, especialmente num tema tão sensível, é uma forma de preservar vantagem estratégica sobre as demais potências – que não pretendem publicar nenhum relatório sobre OVNIs, mas provavelmente já registraram avistamentos do tipo.
Também é possível que os dados em si não sejam assim tão bombásticos: limitem-se a mais gravações, como as já divulgadas, em que pontinhos se deslocam de formas estranhas e difíceis de explicar. Difíceis, mas não impossíveis. Há quem defenda, com bons argumentos, que os objetos voadores são drones experimentais de outros países. Talvez o Pentágono saiba disso, inclusive – e esteja optando, mesmo assim, por caracterizar os avistamentos como OVNIs. Seria uma maneira de mostrar às outras potências que os EUA estão cientes das aeronaves experimentais que invadem seu espaço aéreo – e têm frieza e confiança para dizer isso publicamente, com enorme repercussão global, sob um disfarce praticamente infalível: a investigação de fenômenos alienígenas.
Por que o Pentágono está vazando, e confirmando, vídeos de OVNIs? Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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