A lista de indicados ao Oscar de 2021 será anunciada na próxima segunda-feira (15), mas já há algumas apostas sobre os filmes que estarão por lá. Uma delas é Judas e o Messias Negro, filme lançado em fevereiro deste ano e que traz uma história sobre o grupo dos Panteras Negras, criado em 1966 nos EUA e que lutava pela defesa dos negros contra a violência policial.
O filme acompanha a ascensão política de Fred Hampton (Daniel Kaluuya), ativista pelos direitos civis dos negros e líder dos Panteras Negras morto pelo FBI em 1969. O enredo aborda a história por trás do assassinato, escancarando o envolvimento de William O’Neal, um pequeno criminoso que é coagido pelo serviço de investigação a se infiltrar no movimento e ajudar na investigação contra Hampton.
Salvo algumas licenças dramáticas, o filme dirigido por Shaka King e co-produzido por Ryan Coogler (o diretor de Pantera Negra) é inteiramente baseado em fatos. Abaixo, contamos um pouco sobre a trajetória de Hampton.
Fred Hampton
O envolvimento de Fred no ativismo social começou ainda na infância. Ele nasceu no subúrbio de Chicago em 1948 e, aos 10 anos, já oferecia cafés da manhã aos finais de semana para crianças da vizinhança. Muitos, inclusive, traçam um paralelo entre essa atitude com programas que os Panteras Negras ofereciam gratuitamente em cidades no interior dos EUA: cafés da manhã, alimentos para crianças, serviços jurídicos e clínicas médicas.
Durante o ensino médio, Hampton liderou greves contra a exclusão de negros nas competições de elegiam os “reis” e “rainhas” dos bailes estudantis. Ele também organizou protestos por mais contratações de professores e administradores negros na escola.
Hampton terminou o ensino médio em 1966, ano de fundação dos Panteras Negras. Na época, ele atuava à frente do conselho juvenil da West Suburban Branch e da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP). Não demorou para que o seu ativismo o tornasse popular: em 1968, Fred foi recrutado para lançar o movimento dos Panteras Negras em Chicago. Rapidamente, ele se tornou líder do partido no estado de Illinois e vice-presidente nacional.
William O’Neal
Do outro lado da história, temos William O’Neal. Tudo começa em 1967, quando ele e um amigo roubam um carro em Chicago e fogem para o estado de Michigan. Lá, eles resolvem jogar bilhar em um bar, mas são obrigados a deixar nomes e endereços reais registrados. Péssima decisão da dupla de ladrões.
Três meses depois, O’Neal foi achado pelo agente do FBI Roy Mitchell. Mas ao invés de prendê-lo, Mitchell prometeu limpar a barra do criminoso caso ele atue como informante.
Essa é a versão contada por O’Neal, mas um artigo publicado no Chicago Tribune de 1973 traz outra explicação. De acordo com o jornal, O’Neal teria sido parado na estrada por um policial. Para sair da confusão, ele teria se passado por um agente do FBI e até mesmo apresentado uma identificação falsa para sustentar a mentira. Os agentes oficiais teriam chegado até o criminoso para coagi-lo dessa forma. É essa versão que o filme aborda.
Na época, O’Neal era um jovem entre seus 17 e 18 anos, sem nenhum interesse no ativismo social. Mas conquistou o respeito e admiração de muitos logo que se juntou aos Panteras Negras e passou a se envolver ativamente. No entanto, nem tudo era flores: relatos de pessoas que conheceram O’Neal na época mostram que ele não agia apenas como espião, mas tentava também provocar motivos para ter o que falar – incitando até mesmo a violência nos membros do partido em determinadas ocasiões.
COINTELPRO e o assassinato
A COINTELPRO foi um programa criado pelo FBI em 1956 para desacreditar grupos políticos desfavorecidos. J. Edgar Hoover, o primeiro diretor do FBI – e que comandava a organização na época –, disse (tanto no filme como na vida real) que os Panteras Negras eram uma ameaça à segurança nacional, e que o surgimento de um “Messias negro”.
No filme, Hoover é o mandante do assassinato de Hampton, mas não há provas concretas que liguem seu nome ao caso. Por outro lado, o envolvimento do FBI já foi confirmado. No final de novembro de 1969, o departamento de investigação levou o procurador do condado de Cook County, Edward Hanrahan, e o Departamento de Polícia de Chicago a invadir a casa de Hampton. Pouco depois, no dia 4 de dezembro, 14 policiais armados invadiram o apartamento e dispararam 99 tiros contra os membros dos Panteras Negras que estavam no local.
Hampton estava inconsciente no momento da invasão, provavelmente por ter sido drogado por O’Neal na noite anterior. Fred e seu colega Mark Clark morreram naquela noite. Foi também o informante quem forneceu à polícia uma planta detalhada do apartamento. As autoridades envolvidas alegaram que os primeiros disparos saíram de dentro do apartamento – mas as evidências contradizem a afirmação.
Mesmo após o episódio, O’Neal não foi descoberto e seguiu como informante dentro dos Panteras Negras até o início dos anos 1970. Ele só foi desmascarado em 1973, o que obrigou o FBI a colocá-lo em um programa de proteção para testemunhas. O’Neal, então, mudou-se para a Califórnia, sob a identidade de William Hart.
Em 1986, O’Neal retornou à Chicago com a esposa e o filho. Quatro anos depois, porém, ele morreu após entrar no meio do trânsito e ser atropelado por um carro. O falecimento foi considerado por investigadores como suicídio.
O FBI só admitiu sua participação no assassinato em 1976, em um artigo publicado no jornal The New York Times. O caso ficou sob julgamento por anos e a indenização chegou apenas em 1983, quando os nove membros sobreviventes (e as mães de Clark e Hampton) receberam o valor de US$ 1,85 milhão (US$ 4,4 milhões em valores atuais).
Judas e o Messias Negro está em cartaz nos cinemas e disponível lá fora pelo HBO Max (no Brasil, o serviço de streaming chega em junho). Confira o trailer:
Judas e o Messias Negro: conheça a história real por trás do filme Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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