quinta-feira, 11 de março de 2021

Livro da semana: “O Gene”, de Siddhartha Mukherjee

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Pitágoras – o cara meio matemático, meio guru, sobre o qual se sabe muito pouco além do fato de que existiu – pensava que o sêmem, antes da ejaculação, percorria o corpo masculino coletando vapores místicos de cada órgão. Esses vapores conteriam o que hoje você entende por código genético: as informações necessárias para fabricar um fígado, rim ou perna. Após o ato sexual, o sêmem amadurecia em um bebê no útero da mãe, que fornecia apenas nutrição. Nada de hereditariedade.

Ninguém sabe como Pitágoras explicava o fato de que tantas crianças são parecidas com suas mães – ou o fato de que o sêmen não poderia coletar as instruções para fabricar órgãos exclusivamente femininos no corpo masculino. Era uma visão de mundo machista, é claro, e os gregos tinham uma aversão bem-documentada à figura feminina. Também era uma visão de mundo muito anterior ao método científico contemporâneo, em que só se pode afirmar algo com base em evidências empíricas.

Por outro lado, é difícil imaginar como Pitágoras poderia ter pensado qualquer mais razoável partindo do conhecimento sobre reprodução humana disponível na época, que era, bem… nenhum. No livro O Gene, o biólogo indiano Siddhartha Mukherjee traça a história dos pesquisadores que investigaram a hereditariedade ao longo dos últimos 3 mil anos, começando nos primeiros tropeços gregos, passando pelo presente ao mesmo tempo distópico e excitante da edição de genes e especulando sobre o futuro da manipulação do DNA.

Mukherjee entrelaça essa saga coletiva de nossa civilização em busca de uma explicação para si própria com a saga privada de sua família, vítima de uma série de transtornos mentais hereditários, e as sagas pessoais dos cientistas que protagonizaram essa história ao longo dos séculos. O resultado é um catatau de 600 páginas que mostra como a biologia foi um pilar de acontecimentos que formaram o mundo conteporâneo: a afronta aos criacionistas, a eugenia e o nazismo, a clonagem e os transgênicos são todos símbolos de como nossos genes pautam – e pautarão cada vez mais – a vida fora do laboratório.

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