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Em um vídeo que já pode ser tombado pelo YouTube de tão clássico, o professor da Universidade de São Paulo (USP) Clovis de Barros Filho leva um papo meio bruto com uma turma de estudantes de publicidade. “Você vai chegar em casa, e em vez de entrar no Facebook, vai digitar no Google: Kant, Princípios da Metafísica dos Costumes. É domínio público. Custo zero.”
Com uns 8 minutos de vídeo, vira show de stand up:
“Se você não fizer a experiência da leitura de um texto difícil agora, vai ter perdido a chance. (…) É só uma questão de brio. Você tem brio? (…) Como pode um cara escrever uma coisa que eu não entenda? Não tem como! Eu vou ler aquela m**** até entender! Eu comi na infância! Me deram leite materno! Cérebro tem o tamanho de um cérebro normal! O cara escreveu, você só tem que entender!”
Se teve um cara com brio na história do conhecimento, foi Bertrand Russell. O matemático e filósofo inglês leu as três primeiras páginas – e todo o resto, também – de todos os clássicos da Filosofia Ocidental, da Grécia Antiga até o início do século 20, quando escreveu seus trabalhos mais famosos. E põe viver nisso: nasceu em 1872 e morreu em 1970, com 98 anos, após atuar ativamente no debate público durante as guerras mundiais e a Guerra Fria. Russell foi um dos primeiros intelectuais pop em vida.
Enquanto matemático, Russell ficou famoso pelo livro Principia Mathematica. (Em português, “Princípios da Matemática”, mas é comum grafar o título em latim porque o livro foi lançado assim originalmente. Não confunda com o livro de Newton, escrito mais de dois séculos antes, o “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”, também escrito costumeiramente em latim. Muito chique. )
Nesse catatau, Russell e seu professor Alfred Whitehead fazem um esforço homérico para provar que as verdades básicas da matemática são consequências da lógica. A lógica é algo difícil de explicar. Você pode pensar nela como a ciência que estuda o raciocínio e a argumentação – a lógica nos dá ferramentas para estabelecer se uma sequência de premissas chegou a uma conclusão verdadeira ou falsa. Talvez seja mais esclarecedor dizer que o livro é famoso por levar mil páginas para provar que 1 + 1 = 2.
Enquanto filósofo, Russell fez algo parecido: foi um dos grandes nomes da chamada filosofia analítica, uma escola que buscava expressar os argumentos como sequências de símbolos. Esses símbolos, ao contrário das palavras da linguagem cotidiana, pretendiam ser inteiramente livres de contexto, para não dar brecha à interpretação: uma sequência de premissas pode levar a uma conclusão falsa ou verdadeira, mas jamais às duas coisas ao mesmo tempo.
Para os meros mortais, a maior contrbuição de Russell foi o História da Filosofia Ocidental. Ao longo de mais de mais de mil páginas, divididas em três volumes (Antiguidade, Idade Média, e filosofia moderna), ele resume o essencial sobre a vida e a obra de todos os monstros sagrados da filosofia. Não há uma única página monótona ou incompreensível: Russell fala de Platão ou Schopenhauer com entusiasmo, clareza e, às vezes, até um certo deboche.
De Pitágoras, diz: “foi um dos homens mais brilhantes já vivos – tanto nas ocasiões em que era sábio quanto nas que não era”, e então descreve o autor do teorema como uma mistura de Einstein e Sra. Eddy (uma conhecida pseudocientista e charlatã cristã que foi famosa nos idos de 1900).
Russell é aquele professor que pega o aluno pela mão e faz as coisas se encaixarem feito Lego. Quando chega a hora de ler um Aristóteles ou Rousseau para valer, os textos originais entram na cabeça muito mais fácil. Afinal, o cara escreveu. Você só tem que entender.
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