segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

A lista de exigências de Albert Einstein para “salvar” o seu casamento

Albert Einstein e Mileva Marić se conheceram em 1896. Eles ingressaram juntos na Universidade Politécnica de Zurique, na Suíça, na turma de física e matemática. Havia ainda outros três alunos – Marić era a única mulher.

Desde o início, Albert e Mileva se tornaram inseparáveis. Eles estudavam juntos e, no verão, trocavam correspondências apaixonadas. Em 1900, Einstein arriscou um poema para a crush. Depois, enviou um esboço do seu pé, para que ela pudesse tricotar um par de meias para ele. Fofo, não?

Mas a paixão não foi eterna. Eis aqui uma lista elaborada pelo físico alemão em 1914 direcionada à Mileva (na época, os dois já estavam casados):

“CONDIÇÕES

A. Cabe a você fazer com que

  1. minha roupa esteja sempre limpa e em ordem;
  2. eu receba minhas três refeições normalmente em meus aposentos;
  3. meu quarto e meu escritório estejam sempre bem-arrumados e, principalmente, que minha escrivaninha seja usada apenas por mim.

B. Você se absterá de quaisquer relações pessoais comigo, a menos que sejam absolutamente necessárias por motivos sociais. Sobretudo, você abrirá mão de

  1. minha companhia em casa;
  2. sair ou viajar comigo.

C. Você observará os seguintes pontos em suas relações comigo:

  1. não esperará nenhuma intimidade de minha parte, nem me repreenderá de forma alguma;
  2. parará de falar comigo, quando eu lhe pedir;
  3. sairá de meu quarto ou de meu escritório imediatamente e sem objeções, quando eu lhe pedir.

D. Você se comprometerá a não me depreciar, com palavras ou atos, diante de nossos filhos.”

A lista foi um dos vários documentos de Einstein encontrados em 1986, 31 anos após a morte do cientista (a tradução acima veio do livro Listas extraordinárias, de Shaun Usher). As cartas estavam guardadas em um cofre de banco em Berkeley, nos EUA, e foram a leilão na década seguinte. Esses registros revelaram informações inéditas a respeito da vida acadêmica e, sobretudo, particular de Einstein. 

Metódica, inusitada, abusiva. Seja qual for a definição que prefira dar para a lista de exigências de Albert, ela deixa claro: o seu casamento com Mileva estava em ruínas. O casal se separou ainda em 1914, e o divórcio foi oficializado em 1919. Mas, afinal, o que aconteceu? Como um jovem casal de cientistas apaixonados terminou assim?

Prazer, Mileva Marić

Nascida na Sérvia em 1875, Mileva veio de uma família rica e, desde pequena, demonstrou paixão e empenho pelos estudos. Reservada, ela era descrita como alguém “brilhante, mas não muito falante”. Em 1892, seu pai, Miloš, conseguiu uma autorização do ministro da Educação sérvio para que a filha frequentasse aulas de física em que apenas meninos eram permitidos.

Durante a faculdade, Mileva tirava notas altas. Mais altas, inclusive, que as de Einstein. Em 1900, prestes a se formar, ela foi aprovada em todos os testes – menos no exame oral. O avaliador aprovou todos os alunos homens, mas Mileva quase zerou. Ela tentou novamente no ano seguinte, mas também foi reprovada. Nunca conseguiu obter o seu diploma.

Não que isso a impedisse de continuar sua carreira como cientista. Mileva era a parceira de crime de Einstein: revisava cálculos, pesquisava dados científicos e ouvia ativamente as ideias do físico que, mais tarde, dariam origem às suas famosas teorias. Documentos históricos e biografias sobre Mileva apresentam evidências sólidas de que ela foi uma peça importante para o desenvolvimento da ciência de Einstein.

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Lua de mel

Albert e Mileva continuaram juntos após a faculdade, apesar da desaprovação da família de Einstein. A mãe do físico, Pauline, era contra o filho namorar alguém quatro anos mais velho que mancava, não era alemã (tampouco judia) e vinha de uma família menos nobre que a deles.

No começo do século 20, Albert e Mileva publicaram um artigo científico juntos – mas ele acabou sendo assinado apenas por Einstein. Em 1902, eles tiveram uma filha, Lieserl. O parto aconteceu na Sérvia, e Albert estava na Suíça.

Pouco se sabe sobre Lieserl. A existência da primeira filha do casal, na verdade, só foi descoberta em 1986, com o aparecimento das cartas de Albert. Ele e Mileva ainda não estavam oficialmente casados e, na época, ter uma filha “ilegítima” era mal visto pela sociedade. Os historiadores supõem que Mileva a deixou na Sérvia com sua família ou a tenha entregado para adoção – ou ainda que ela morreu com apenas dois anos, vítima de escarlatina.

Seja como for, esse triste capítulo não abalou o relacionamento dos dois. Eles se casaram em 1903 e, no ano seguinte, veio o segundo filho, Hans Albert. 

Foi uma época atarefada na casa dos Einstein. Durante o dia, Albert trabalhava no Escritório de Patentes de Berna, na Suíça, enquanto Mileva cuidava de Hans e das tarefas domésticas. À noite, os dois trabalhavam juntos, revisando teorias. Em 1905, Einstein publicou cinco dos artigos mais importantes da física do século 20. Um deles apresentou ao mundo a Teoria da Relatividade; em outro, descreveu o efeito fotoelétrico – pelo qual ganhou o Prêmio Nobel em 1921.

Tudo chega ao fim

Em 1910, Albert e Mileva tiveram outro filho, Eduard. Até então, tudo parecia estar tranquilo: até 1911, há registros de cartões-postais com mensagens carinhosas de Albert para a esposa.

As coisas se complicaram em 1912. Naquele ano, Einstein começou um caso com sua prima, Elsa Löwenthal, que conheceu enquanto visitava sua família, que havia se mudado para Berlim. Nos anos seguintes, eles se corresponderam em segredo. Em 1914, o físico aceitou um cargo na capital alemã para ficar mais próximo dela.

Nas cartas em que trocou com Elsa, Albert deu detalhes sobre o seu casamento e deixou claro seu desprezo por Mileva. Ele a descreveu como “uma criatura hostil e sem humor” e “uma funcionária que não posso demitir”.

Ou seja: com ou sem lista de exigências, a situação era incontornável. Mileva e Einstein se separaram em 1914, quando ela saiu de casa com os filhos. Nos anos seguintes, Albert implorou para que a ex-esposa assinasse o pedido de divórcio em troca, ele disse que, caso um dia ganhasse o Nobel, transferiria o prêmio integralmente para ela (o que, de fato, aconteceu em 1922).

A separação foi oficializada em 1919. Em 1922, cumprindo sua promessa, Einstein transferiu o que havia ganhado com o Nobel para Mileva. Mas não foi o suficiente. Ela viveu de forma humilde, dando aulas particulares para completar a renda e cuidar dos filhos (Einstein enviava pensão, mas de forma inconstante).

A situação financeira se complicou ainda mais quando o filho Eduard, que já frequentava sanatórios, foi diagnosticado com esquizofrenia em 1933, aos 22 anos. Ele precisou ser internado em uma clínica psiquiátrica na Suíça. Eventualmente, ele voltou para casa, onde foi assistido pela mãe.

Mileva morreu em 1948, aos 72 anos. Àquela altura, Albert morava há mais de uma década nos EUA. Ele se correspondia com a ex-esposa, mas não pôde acolher Eduard por sofrer de um transtorno mental, os EUA proibiam a sua entrada no país. Einstein morreu sete anos depois, em 1955.

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