quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Participante do BBB com vitiligo gera debate sobre aceitação e preconceito

A participação da modelo mineira Natália Deodato no reality show Big Brother Brasil (BBB), da TV Globo, colocou em debate o preconceito vivido por quem tem vitiligo. A doença autoimune, que provoca manchas brancas na pele, atinge 1 milhão de pessoas no Brasil.

Esse distúrbio não tem cura, mexe com a confiança e requer uma rotina de cuidados para controlar o aparecimento das marcas. Driblar o preconceito e enfatizar que não se trata de uma doença contagiosa estão entre os desafios de quem convive com o quadro.

“O principal problema é o impacto causado na aparência, que, por fugir aos padrões pré-estabelecidos, leva à baixa na autoestima. Isso resulta em isolamento e traumas emocionais”, afirma Caio Castro, dermatologista especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SDB).

“As manchas abalam o amor próprio e muita gente ainda acha que a doença é contagiosa, principalmente crianças e adolescentes, o que traz consequências para a saúde mental. Os pacientes precisam de acompanhamento psicológico por todos esses fatores”, completa a dermatologista Thayse Branco, especialista em medicina estética, do Rio de Janeiro.

Aos poucos, a conscientização evolui. Há dois anos, a canadense Winnie Harlow foi a primeira modelo com vitiligo a surgir em uma passarela, durante o Victoria’s Secret Fashion Show. Mas a desinformação ainda é grande.

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Ter uma participante com vitiligo no BBB é outro marco importante nesse sentido. “A forma como a candidata Natália Deodato se relaciona com a doença é um exemplo de como pessoas com essa condição devem manter sua autoestima em alta e ocupar espaços no convívio social”, defende o dermatologista Mauro Enokihara, presidente da SBD.

A entidade reforça, em nota sobre o tema, que as pessoas “que apresentam vitiligo não possuem limitações físicas ou cognitivas, não transmitem sua condição pelo contato social e estão aptas ao trabalho e ao desenvolvimento de relação afetivas e humanas em qualquer contexto”.

Há dois anos, a canadense Winnie Harlow foi a primeira modelo com vitiligo a surgir em uma passarela, durante o Victoria’s Secret Fashion ShowFoto: Instagram/winnieharlow/Divulgação

Como a doença surge e como é feito o diagnóstico?

No vitiligo, os melanócitos – ou seja, as células produtoras de melanina, responsável pela cor da pele – são atacados pelos linfócitos T, que fazem parte do sistema imunológico. Mas, nesse caso, eles atuam de forma desregulada. Daí porque se trata de uma doença considerada autoimune. Sem a produção do pigmento, a cor da pele muda.

Histórico familiar, exposição a toxinas, estresse e lesões graves estão na lista de fatores de risco por trás do distúrbio. “Quando o tratamento psicológico se inicia, não são raras as vezes que descobrimos grandes perdas e problemas familiares como gatilhos”, relata Thayse.

O vitiligo afeta ambos os sexos e pessoas de qualquer etnia. Os sinais costumam aparecer, em média, aos 24 anos. Mas há também diagnóstico em crianças e adolescentes.

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Cada indivíduo pode apresentar os sinais do vitiligo de forma diferente. Porém, geralmente, as primeiras manchas aparecem no rosto, nas mãos e na região genital.

O diagnóstico clínico é feito, a princípio, a olho nu, apenas com o auxílio de uma lâmpada especial. “Quando há dúvidas, é realizada biópsia das lesões, já que as manchas do vitiligo podem se confundir com as de outras doenças de pele, como micose fungoide hipocromiante ou lúpus discoide”, explica Castro.

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Tipos de vitiligo

  • Focal: manchas pequenas em uma área específica do corpo
  • Mucosal: atinge somente as mucosas, como lábios e região genital
  • Segmentar: marcas distribuídas unilateralmente, apenas em uma parte do corpo
  • Acrofacial: manchas nos dedos e em volta da boca, dos olhos, do ânus e das genitais
  • Comum: atinge tórax, abdome, pernas, nádegas, braços, pescoço, axilas e demais áreas acrofaciais
  • Universal: manchas espalhadas por quase todas as regiões do corpo

Tratamento e cuidados

Não há cura para o vitiligo, e as terapias nem sempre conseguem impedir ou reverter as manchas.

“Mas existem vários tratamentos clínicos e cirúrgicos. É essencial a consulta com o dermatologista para estabelecer o caminho mais adequado e avaliar indicações, contraindicações e efeitos colaterais”, analisa Thayse. “Os principais objetivos são impedir o crescimento das manchas, repigmentar e evitar novos ciclos de piora“, acrescenta.

Alguns tipos de terapias pedem paciência, porque há uma combinação de medicamentos que exigem exposição limitada ao sol.

Por falar no astro-rei, a proteção contra os raios solares é essencial em todos os casos. “As manchas deixam a pele sem pigmento e, por isso, totalmente desprotegida, aumentado o risco de câncer”, esclarece a dermatologista.

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De olho nisso, o filtro escolhido deve ter o maior fator de proteção possível. Chapéus e óculos escuros completam o combo defensor.

Medicamentos como corticóides – seja em formato oral, tópico [cremes e pomadas] ou intralesional [injeção] – ajudam a estimular a repigmentação da pele. Eles costumam ser opções mais baratas porque há genéricos à venda.

De valor mais salgado, também é possível recorrer a pomadas imunomoduladoras, que agem no sistema imune da pele, ou a recursos como a fototerapia.

“É um tratamento que utiliza luz UVB para estimular a produção de melanina e suaviza a diferença de pigmentação, além de reduzir a inflamação e aliviar a escamação da pele. Há algumas tecnologias à base de laser também”, ensina Tahyse, lembrando que essas escolhas devem ser feitas com cautela e ajuda de um dermatologista.

Cabe reforçar ainda o forte elo entre as emoções e o vitiligo. Inclusive, em momentos tensos, as marcas podem podem crescer, se espalhar ainda mais ou até reaparecer. Por isso, atividades que ajudam a controlar a tensão, a exemplo de meditação e ioga, são aliadas dos pacientes.

Doenças relacionadas

Aproximadamente 15% dos pacientes com vitiligo têm alguma doença relacionada à tireóide, segundo dados da SBD.

“Os problemas nesse órgão são causados pelos mesmos fatores que provocam o vitiligo. Não há uma relação de dependência entre as duas condições autoimunes”, esclarece Castro.

“Por ser uma doença sistêmica [isto é, que afeta todo o corpo], os pacientes com vitiligo podem desenvolver uveíte (inflamação nos olhos) e aproximadamente 10% dos afetados apresentam déficit auditivo”, completa o médico. Os indivíduos ainda têm uma maior tendência de envelhecimento na pele. 

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