No terceiro ano de pandemia, estamos no pior estágio mundial em termos de contaminação. Isso acontece, em boa parte, por causa do surgimento de uma variante mais transmissível, a Ômicron. Felizmente, devido ao avanço da vacinação, a explosão de casos não foi acompanhada por uma alta nas taxas de mortes.
Diante dessa situação aparentemente menos grave, muitos países decidiram rever as recomendações de quarentena entre infectados pelo coronavírus. Foi o caso do Brasil.
No dia 10 de janeiro, o Ministério da Saúde atualizou a quantidade de dias de isolamento indicada para pessoas com casos leves e moderados de Covid-19.
Antes, o consenso era de que indivíduos com quadros sintomáticos e assintomáticos deveriam ficar isolados por 10 dias — em casos graves, muitas vezes eram necessários até 20 dias de afastamento. Mas, agora, o isolamento pode chegar somente a 5 dias, dependendo de sintomas e testagem.
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Basicamente, as novas diretrizes recomendam sair do isolamento em:
–> 5 dias: se a pessoa estiver assintomática no quinto dia após a detecção da doença (sem febre ou sintomas respiratórios nas 24 horas anteriores sem o uso de antitérmicos) e fizer um teste (antígeno ou PCR) com resultado negativo;
–> 7 dias: se não houver sintomas após sete dias de isolamento (isto é, febre ou sintomas respiratórios nas 24 horas anteriores sem o uso de antitérmicos) , é possível sair da quarentena sem a necessidade de realizar um teste;
–> 10 dias: se no sétimo dia ainda houver sintomas ou o teste der positivo, tem que prolongar o isolamento para 10 dias. Em caso de melhora (não apresentar febre ou sintomas respiratórios nas 24 horas anteriores sem o uso de antitérmicos), pode sair do isolamento ao final do décimo dia sem teste;
–> Mais de 10 dias: vale para pessoas que, ao final desse prazo, ainda estejam com sintomas. Os especialistas recomendam consultar um médico (pode ser por telemedicina), explicar o caso e pedir orientações.
Mesmo a diretriz sendo claras, muitas dúvidas ainda pairam sobre o assunto. Esclarecemos algumas delas com a ajuda de especialistas:
1- Por que o tempo de isolamento diminuiu?
Foi uma medida mais pragmática do que de saúde. A variante Ômicrom mudou os rumos da pandemia, já que essa cepa resultou em uma enorme quantidade de pessoas infectadas ao mesmo tempo. Isso sobrecarregou diversos setores trabalhistas.
“Já está faltando mão de obra em serviços essenciais e estratégicos, como saúde, segurança e aviação. Quase todos os países enfrentam isso”, explica o infectologista Alexandre Naime, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
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“Dentro dessa nova realidade, em que os casos aumentam exponencialmente, o tempo de isolamento cientificamente comprovado de 10 dias acaba não sendo viável sempre. É uma medida de redução de danos”, completa.
Mas essa decisão não surgiu apenas por razões econômicas. “O Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, que foi o primeiro a adotar essa redução, parte do princípio de que o período de incubação, doença e transmissibilidade da Ômicron é mais curto, o que permitiria um isolamento menor”, esclarece o infectologista Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas de São Paulo (USP).
Além disso, algumas pesquisas mostram que pessoas vacinadas (esquema completo, com no mínimo duas doses) transmitem o vírus por menos tempo.
De qualquer maneira, a decisão não é unanimidade. Por isso, é preciso ter cautela. “É uma medida controversa do ponto de vista científico, já que, para a maioria das pessoas, o tempo de expressão do vírus é de no mínimo sete dias. Muitas vezes, não chega a 10. Mas isolar menos que isso oferece um risco”, analisa Stanislau.
2- Qual o risco de transmissão de uma pessoa que saiu do isolamento em menos de dez dias?
Saindo com sete dias, de 15% a 20% das pessoas ainda podem transmitir o vírus; e, com cinco dias, esse número sobe para 30% a 40%.
Justamente por conta do maior risco relacionado ao isolamento de cinco dias, além da escassez de insumos para testes no Brasil, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) afirmou, em carta dirigida ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), que recomenda, no mínimo, sete dias de isolamento — mesmo para casos assintomáticos.
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3- Após sete dias em casa, o que caracteriza um sintoma que não permite o fim do isolamento?
Basicamente, a manutenção ou progressão do quadro inicial impede o fim do isolamento. Ou seja, se a pessoa não apresentou redução dos sintomas da Covid-19 ao longo dos dias, deve permanecer em casa.
“Uma tosse esporádica, que só aparece à noite e está melhorando, não é considerada um sintoma que indica transmissão, muito menos dor de garganta ou a não recuperação do olfato”, exemplifica o vice-presidente da SBI.
“Agora, se a pessoa continuar com a mesma tosse do início e seguir espirrando e com febre, isso está mais relacionado com transmissão. Aí, deve-se continuar isolado”, conclui.
4- Qual o teste mais adequado para sair do isolamento?
O de antígeno, comprado na farmácia mesmo. É que, especificamente nesse caso, a alta sensibilidade do RT-PCR pode causar confusão.
“O PCR pode ficar positivo por até 30 dias sem significar que a pessoa está transmitindo a doença, por que ele detecta pedaços do vírus no organismo. O exame mais adequado, que avalia a interrupção de transmissão, é o de antígeno”, reforça Naime.
5- Estou com sintomas leves, mas não consigo marcar teste pra confirmar se é Covid. Me isolo? Por quanto tempo?
Sim, por pelo menos sete dias (ou cinco, se conseguir fazer o teste nesse dia e der negativo). Se não for Covid-19, pelo menos você não sai por aí transmitindo o vírus Influenza (causador da gripe) ou qualquer outro micro-organismo.
E atenção: hoje em dia, muitos sintomas leves podem indicar Covid-19, ainda mais em uma população altamente vacinada. Portanto, não dá mais para subestimar nenhum espirro.
“A Covid-19 não é mais a mesma doença do passado. Não espere necessariamente perda de olfato, tosse seca e febre. Agora, dor no corpo, mal estar, coriza fraca ou dor de garganta podem ser indicativos de contaminação”, alerta Stanislau.
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6- Tive contato com quem positivou, mas não estou com sintomas e não consigo marcar o teste. O que fazer?
Primeiro, é muito importante saber o que caracteriza um contato de risco capaz de disseminar o coronavírus. A transmissão dificilmente acontece se você teve uma conversa rápida com uma pessoa com Covid-19 e os dois usavam máscara corretamente, por exemplo.
O infectologista Evaldo Stanislau explica que, para pegar a doença, você tem que estar próximo da pessoa (no máximo, a um metro de distância) e permanecer conversando com ela por pelo menos 15 minutos, em contato com suas gotículas de saliva e partículas menores expelidas pela respiração.
Atualmente, esse tipo de contato está cada vez mais comum, já que houve aumento de aglomeração em lugares fechados e um relaxamento em relação ao uso da máscara.
Mas, independente de estar com sintomas ou não, e, na falta de teste, o mais seguro é se isolar por sete dias.
Aliás, criar recomendações que exigem exames para sair do isolamento é uma das maiores críticas dos especialistas. “Num momento em que falta teste no mercado, a diretriz vai lá e cria a necessidade de testar”, comenta Stanislau.
“Muitos convênios não pagam o exame de Covid-19 para tirar as pessoas do isolamento, o que estressa a rede de saúde com uma sobrecarga de exames que não estavam previstos e que não tem uma fonte de financiamento definida. Isso cria mais um dilema para empregador e trabalhador”, declara o infectologista.
7- Com a dose de reforço e a vacinação das crianças em curso, quanto tempo depois da infecção por coronavírus é recomendado se vacinar?
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o ideal é esperar 4 semanas após o início dos sintomas — ou do teste positivo, para casos assintomáticos.
Só que esse também é um tópico controverso. “Logo depois da infecção, o sistema imunológico pode ficar muito ativado e interferir na eficácia da vacina. Mas muitos países estão revendo esses prazos. Os Estados Unidos, por exemplo, já estabeleceu que é seguro tomar a dose após dez dias do início dos sintomas”, conta Stanislau.
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