Quando você se machuca com uma faca cortando cebola, dói – mas o ferimento, caso não seja muito profundo, cicatriza rapidinho.
Mas não é sempre assim. As chamadas feridas crônicas demoram muito a cicatrizar – às vezes, sem o tratamento adequado, mal cicatrizam. É o caso de feridas cirúrgicas, queimaduras graves e úlceras, como as causadas por diabetes. No Brasil, estima-se que cinco milhões de pessoas vivam com feridas crônicas.
Recentemente, um grupo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) desenvolveu um equipamento que pode, no futuro, ajudar a resolver esse problema. Trata-se do protótipo de um “curativo inteligente”: um sistema bioeletrônico que monitora continuamente as condiçõs da ferida e realiza tratamentos não invasivos para ajudar na cicatrização.
“As feridas crônicas que não cicatrizam são uma das principais complicações clínicas de rápido crescimento em todo o mundo”, escrevem os cientistas em seu artigo, publicado na revista Science Advances. “As terapias atuais costumam requerer intervenções cirúrgicas emergentes, enquanto o abuso e a aplicação incorreta de drogas terapêuticas geralmente levam a um aumento da taxa de morbidade e mortalidade.”
Como funciona o curativo?
O dispositivo tem duas partes: uma placa de circuito flexível reutilizável e um adesivo descartável. Esse adesivo contém biossensores, eletrodos e hidrogéis com medicamentos.
Os biossensores monitoram características da ferida, como a temperatura, pH e níveis de glicose, ácido úrico e lactato. É importante analisar esses fatores para saber se há infecção e qual o nível de inflamação.
O dispositivo também permite a aplicação de estímulos elétricos. Essa técnica, que geralmente precisa de grandes equipamentos, pode acelerar a cicatrização. O curativo consegue ainda fazer a liberação controlada de anti-inflamatórios e antibióticos. “Todos os sinais podem ser enviados sem fio de um computador ou celular”, diz Wei Gao, co-autor do estudo.
O estudo – e os próximos passos
A equipe testou os curativos em machucados de camundongos e ratos diabéticos antes e depois da infecção. Os dispositivos se mostraram eficazes em detectar características como temperatura, níveis de glicose e pH do fluido da ferida.
As cobaias que receberam os medicamentos e estímulos elétricos apresentaram taxas mais altas feridas fechadas e menos cicatrizes do que camundongos que não tiveram esse tratamento.
Os custos de produção da parte eletrônica reutilizável do dispositivo seriam de dezenas de dólares, e menos ainda para o adesivo descartável, segundo os pesquisadores. O curativo poderia ser usado por uma a duas semanas.
Segundo os pesquisadores, o curativo custaria não mais do que “algumas dezenas de dólares”, e que ele poderia durar de uma a duas semanas. Mas é claro: ainda será necessário mais trabalho, incluindo aí testes em humanos. A expectativa dos cientistas é que os dispositivos sejam usados em clínicas na próxima década.
Cientistas testam “curativo inteligente” para monitorar e cicatrizar feridas Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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