Uma pesquisa feita pelo Instituto Gallup e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) chama atenção para o efeito da pandemia de coronavírus e do isolamento social em crianças e adolescentes.
O Brasil foi um dos 21 países que participou do levantamento. Os primeiros dados divulgados apontam que 22% dos adolescentes e jovens brasileiros de 15 a 24 anos se sentem deprimidos ou têm pouco interesse em fazer as coisas.
Além disso, a entidade afirma que subiram os casos de transtornos mentais nesse período, e as sequelas nesses grupos podem reverberar por muitos anos. Por isso, a entidade faz um apelo para que governos, educadores e familiares criem uma cultura de escutá-los com mais empatia.
Os mais novos foram prejudicados pelo tempo que ficaram longe da escola e dos espaços de convivência, e, no Brasil, muitos não tiveram nem a tecnologia como aliada para manter os estudos e a troca social em dia.
“Crianças e adolescentes viram a renda familiar sendo diminuída, sentiram insegurança alimentar e o luto de perder alguém próximo. Passaram, então, a ter dificuldade de planejar o futuro”, avalia Gabriela Goulart Mora, oficial do Unicef do Brasil na área de desenvolvimento de adolescentes.
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“Temos uma estrutura de saúde consolidada no país, mas percebemos que ela não é suficiente para lidar com um trauma tão grande quanto o da pandemia. Os CAPS (Centros de Ação Psicossocial), que cuidam da saúde mental, não chegam a todos os municípios”, lembra Gabriela. Esses são pontos de apoio importantes para famílias que percebem problemas em casa, segundo a especialista.
Como acolher crianças e adolescentes
“Somos uma sociedade centrada no adulto, que dá pouco valor à fala da criança. Precisamos ouvi-las de forma mais empática e sem julgamentos. Os professores, que são preparados a perceber diferenças de comportamento ficaram longe dos alunos nessa fase, e isso também complicou a situação, principalmente de quem sofre violência em casa”, completa Gabriela.
Vale dizer que a saúde mental dos jovens já era um problema global antes da pandemia. O suicídio é uma das principais causas de morte na adolescência no mundo. “O isolamento só deixou essas questões mais explícitas”, avalia a representante da Unicef.
Independentemente das ações coletivas, dentro da família também é importante criar esse ambiente de escuta. Para isso, materiais foram desenvolvidos pela entidade para atender a algumas dessas demandas. Um site (em inglês) dá dicas de como se atentar a sinais de alerta em cada faixa etária.
Para os adolescentes e jovens entre 13 e 24 anos foi criada a página Pode Falar, que faz atendimentos por um chat e serve de plataforma de vídeos e textos com depoimentos e manuais.
“Nessa idade, eles contam muito com seus pares, então é importante criar esses laços pela internet. Tudo é mediado, e, quando o atendente percebe que há sinais de gravidade, já toma providências”, explica Gabriela.
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Com as crianças menores, familiares devem ficar atentos aos sinais de tristeza, desinteresse em fazer atividades de rotina ou gastar muito tempo nas telas. É preciso propor atividades ao ar livre e brincadeiras.
Ansiedade e mudanças de comportamento
Entre os principais transtornos mentais, estudos apontam que a ansiedade tem sido mais recorrente entre crianças nesse período de pandemia, comenta o psicólogo Felipe Laccelva, fundador da Fepo, startup de apoio psicológico virtual.
“Houve um aumento nos índices gerais de ansiedade na população, e com crianças e adolescentes não seria diferente, principalmente devido às mudanças na rotina e restrições impostas durante o período”, avalia Laccelva.
“Qualquer mudança de comportamento deve ser observada, mas algumas questões podem aparecer com mais frequência, como a dificuldade de interação com os colegas, desmotivação e menor rendimento escolar”, alerta o especialista.
Os principais sintomas das crianças ansiosas são, ainda, preocupações excessivas e expectativas descoladas da realidade, fixação em ideias negativas e dificuldade de memória e atenção.
Se os sintomas são persistentes e atrapalham a qualidade de vida da criança, o ideal é procurar ajuda.
Transtornos mentais que acometem crianças e adolescentes
- TDAH (Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade)
- ansiedade
- autismo
- transtorno bipolar
- transtorno de conduta
- depressão
- transtornos alimentares
- deficiência intelectual
- esquizofrenia
Saúde mental de crianças e adolescentes piorou na pandemia, alerta Unicef Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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