quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Não podemos deixar de falar de câncer de mama e gravidez

Um dos maiores tabus entre mulheres em idade reprodutiva que tiveram ou estão com câncer de mama é a gravidez. É possível ter uma gestação após o tratamento? E durante? Por muito tempo, mulheres jovens que sofreram com a doença eram desencorajadas a engravidar, pela crença de que isso aumentaria as chances de remissão do tumor ou pelo medo da agressividade dos tratamentos nessa fase.

Porém, uma nova pesquisa vem desmistificar aquilo que nós já observávamos nos consultórios. No estudo, publicado no Journal of Clinical Oncology, dados de 7 500 mulheres que tiveram câncer de mama e engravidaram foram analisados. E os resultados são positivos: ao contrário do que muitos acreditavam, a gravidez não só não aumenta a probabilidade de retorno da doença como, na verdade, contribui para a redução desse risco.

O trabalho é fruto de uma extensa revisão de dados e estudos com o objetivo de traçar o conhecimento mais completo sobre o tema. Embora ainda não seja possível explicar por que exatamente a gravidez traz benefícios para essas mulheres, há insights importantes que relacionam os achados à diminuição na produção de certos hormônios e ao aumento na liberação de outros como parte do processo.

A conclusão da revisão é que “o desejo de engravidar deve ser considerado um componente crucial do plano de cuidados de sobrevivência”. E essa é uma ótima notícia para as mulheres mais jovens. Muitas chegam ao médico com o diagnóstico de câncer de mama acreditando que o sonho de ter filhos está acabado.

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Há ainda o medo de o tratamento levar à infertilidade, o que pode ocorrer, mas não em todos os casos. Existe inclusive um novo ramo na oncologia, a oncofertilidade, que lida diretamente com essa questão.

No consultório, há também aquele pessimismo inicial, de que a cura não vai chegar e que o câncer sempre pode voltar. Mas o tratamento da doença tem evoluído de maneira impressionante, inclusive para mulheres em idade reprodutiva. Atualmente, tratamos inclusive aquelas que engravidaram durante o tratamento ou descobriram o câncer depois da gravidez.

Com essa pesquisa, nos sentimos cada vez mais seguros de dizer para essa mulher não abdicar da sua gestação. E mesmo aquelas que não sonham em ser mães veem essa possibilidade como um alento e um respiro de otimismo.

É claro que não podemos nos iludir. Para cada tipo e tempo de descoberta do câncer, há cenários diferentes. Assim como cada mulher é única. A verdade é que saber que o câncer não impossibilita a maternidade e, pelo contrário, ela pode ser benéfica para a recuperação da paciente tem efeitos psicológicos significativos. Afinal, literalmente, há (muita) vida pela frente!

* Daniel Gimenes é oncologista clínico do Grupo Oncoclínicas, em São Paulo


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