sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Thaísa Michelan fará expedições para estudar plantas aquáticas na Amazônia

A palavra “macrófita”, grosso modo, significa “planta macroscópica” – ou seja, qualquer planta que conseguimos enxergar a olho nu. Só que, para os biólogos, a palavra acabou virando sinônimo de plantas aquáticas, como a vitória-régia. Thaísa Michelan se dedica a essas plantas desde o início da graduação, que realizou na Universidade Estadual de Maringá.

Ela sabia que queria estudar biologia, mas nunca gostou de trabalhar com animais, principalmente por que não se sentia à vontade na coleta, já que muitos animais precisam ser mortos para que a pesquisa aconteça. A solução, então, foi apelar para as plantas “e como sou feliz e realizada” afirma. No mestrado, ela estudou como as plantas aquáticas invasoras impactavam a diversidade das nativas. Já no doutorado, ela analisou as adaptações pelas quais as plantas nativas precisam passar em resposta à espécie invasora – se elas se reproduzem mais rápido ou geram mais descendentes, por exemplo.

Até então, Thaísa trabalhava com experimentos para testar perguntas ecológicas em laboratório e no campo – a diversidade de espécies aquáticas em Maringá era conhecida, então não havia necessidade de trabalhos voltados para conhecimento da biodiversidade do grupo. No final de 2016, durante o pós-doutorado, a pesquisadora foi chamada para assumir o cargo de professora na Universidade Federal do Pará (UFPA) e a partir de então começou a estudar macrófitas da região. Trabalhar na Amazônia é sonho de muitos biólogos, lá, ela percebeu que ainda se sabia pouco sobre as espécies e a distribuição das plantas aquáticas.

Por esse motivo, a bióloga passou a propor expedições para mapear a biodiversidade de macrófitas na Amazônia. O objetivo é catalogar as espécies, verificar onde elas ocorrem e ainda coletar amostras para análise em laboratório posteriormente.

 

Para isso, Thaísa e sua equipe de alunos irão viajar por riachos, brejos e lagos do interior do estado em busca de novas plantas aquáticas. “A adrenalina é chegar nos pontos de coleta, a logística é muito diferente de uma pesquisa no Sul e Sudeste. Em 2019, nós ficamos atolados por horas na Rodovia Transamazônica. Há um local de coleta em que a gente precisaria fretar um avião e caminhar por dois dias em uma reserva indígena para chegar”, diz a pesquisadora.

Ela garante que a aventura vale a pena. As plantas aquáticas são importantes para melhorar a qualidade da água, além de oferecer um refúgio para a reprodução de peixes e insetos aquáticos. “Uma planta que passa por um rio carrega uma biodiversidade imensa de espécies associadas a ela. As plantas propiciam um ambiente adequado para outras espécies”, diz a pesquisadora.

A bióloga também ressalta a importância de fazer esse trabalho antes que as espécies de plantas se percam. “Com o desmatamento, as alterações ambientais acontecem mais rápido do que a gente consegue pesquisar. Podemos estar perdendo espécies que a gente nem conhece”, diz ela. Seu trabalho é fazer uma pesquisa de base para conhecer essas plantas – e para que, no futuro, outros pesquisadores possam estudá-las para aplicações na medicina e tecnologia, por exemplo.

Thaísa irá fazer uma pesquisa de reconhecimento em novembro deste ano, enquanto as expedições para coleta devem ocorrer entre janeiro e outubro de 2022. Esse projeto de pesquisa venceu o prêmio Para Mulheres na Ciência, promovido pela Unesco, L’Oréal e Academia Brasileira de Ciências (ABC).


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