quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

A comédia da guerra nuclear

Quem acompanha o noticiário internacional está tenso: após 30 anos de expansão da Otan e da União Europeia sobre os antigos aliados de Moscou, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, resolveu que esse avanço precisava parar. Só que não foi por meios diplomáticos: desde novembro, seu Exército concentrou ao menos 130 mil soldados na fronteira com a Ucrânia. Ele não quer mais presença americana no mundo, muito menos nas portas de seu país. Os EUA prometem retaliação dura caso os russos invadam a Ucrânia. E a gente sabe: uma Terceira Guerra Mundial, envolvendo superpotências nucleares, pode significar o fim da humanidade.

Se você também está arrepiado com as notícias que vêm do Leste Europeu e precisa de um alívio, recomendamos um filme capaz de fazer piada com essa iminência do armageddon: Dr. Fantástico, de 1964. 

Superimpotência

Lançado só dois anos após a crise dos mísseis em Cuba, esse longa-metragem de Stanley Kubrick (o mesmo cineasta de 2001 – Uma Odisseia no Espaço) trata de uma possibilidade que apavorava o planeta na época da Guerra Fria: e se um desses rivais históricos apertar o botão vermelho? O enredo poderia ser uma distopia, mas Kubrick preferiu fazer uma comédia escrachada a respeito.

Vamos ao enredo. Um general americano paranoico decide, da cabeça dele, enviar B-52s para jogar a bomba nos russos. O motivo: ele acredita que uma campanha para colocar flúor na água é, na verdade, um complô soviético. A água estaria sendo contaminada para enfraquecer a população – provocando impotência sexual. 

É Defcon 1! E o presidente dos Estados Unidos (Peter Sellers, que faz três papéis no filme) precisa acalmar os soviéticos e convencer seus bombardeiros a voltar. Então se reúne com conselheiros e um cientista ex-nazista, o tal Dr. Fantástico do título.

Numa das cenas mais engraçadas, o doutor alemão tenta impedir seu braço de fazer, por conta própria, a saudação nazista, enquanto aconselha o presidente.

Esse personagem foi inspirado no cientista Wernher von Braun, que era especialista de Hitler em foguetes antes de comandar o programa americano de pesquisa espacial.

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Diretor tinha preocupações reais

“Kennedy fez um discurso em que dizia que ‘o mundo está vivendo sob uma espada de Dâmocles nuclear, que pode ser usada por acidente, erro de cálculo ou loucura’, e no caso do filme é por loucura”, explicou o diretor Stanley Kubrick numa entrevista de 1963. A expressão “espada de Dâmocles” vem de um mito da cultura grega clássica e alude a perigo iminente e à insegurança daqueles com grande poder. 

Nos anos 1960 da Guerra Fria, quando o pesadelo nuclear parecia prestes a se tornar real, Kubrick ficou obcecado com as opções que levariam esse risco a se concretizar. Tanto que comprou (e leu) cerca de 80 livros sobre o assunto, passou a assinar revistas de temas militares e acompanhar de perto as notícias sobre cada movimento da Marinha americana. 

“O roteiro, além de tornar essas possibilidades reais, toca num tema secundário que é o interesse mútuo da Rússia e dos EUA de evitar uma guerra nuclear”, afirmou Kubrick, na época, à revista britânica Films and Filming

Esperemos que Biden e Putin tenham esse mesmo interesse em mente.

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Você pode alugar Dr. Fantástico no YouTube ou ver no streaming: tem na Amazon Prime e na Apple TV.

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