Nova mRNA-Omicron foi aplicada em macacos e gerou menos anticorpos neutralizantes do que a vacina atual; resultado é preocupante – e pode estar relacionado a um fenômeno imunológico conhecido como “pecado original antigênico”
No estudo, que foi realizado pelo National Institutes of Health (NIH) do governo americano e publicado no regime de pre-print (ainda não revisado por cientistas independentes), o novo imunizante foi testado em oito macacos rhesus. Todos haviam sido vacinados, dez meses atrás, com duas doses da atual vacina da Moderna, a mRNA-1273. Agora, esses animais foram divididos em dois grupos: metade deles recebeu uma terceira dose da mRNA-1273, e a outra metade tomou a nova vacina mRNA-Omicron.
Duas semanas depois, os cientistas coletaram amostras de sangue dos macacos e mediram a quantidade de anticorpos neutralizantes presente nelas. Nos macacos que tinham tomado uma terceira dose da vacina atual, a média foi de 1:2980 – ou seja, o sangue deles podia ser diluído 2980 vezes e ainda assim conteria anticorpos suficientes para neutralizar a variante Ômicron. É um excelente resultado.
Já nos macacos que tinham tomado a nova vacina, esse número foi bem menor: 1:1930. Também é um resultado ótimo – mas indica que a mRNA-Omicron é menos eficaz, no combate à variante Ômicron, do que a vacina tradicional (que é baseada no vírus original, descoberto em Wuhan). Ou seja, ela não conseguiu alcançar seu objetivo, que era combater melhor a Ômicron.
Por isso, conclui o estudo, uma dose de reforço da nova vacina “pode não fornecer maior imunidade ou proteção se comparada a um boost [reforço] com a mRNA-1273 atual”. Se esse resultado for confirmado em humanos, a mRNA-Omicron não terá utilidade. Não haverá motivo para produzi-la; será melhor continuar com a vacina atual.
Você deve estar se perguntando: como é possível? Se a nova vacina é feita com fragmentos da Ômicron, ela deveria gerar mais anticorpos aptos a neutralizar essa variante, certo? Deveria, mas não gerou. Segundo os autores do estudo, a explicação pode estar em um fenômeno conhecido como “pecado original antigênico”, que foi descrito pela primeira vez na década de 1960 e até hoje não é bem compreendido pela ciência.
Nesse processo, o sistema imunológico fica “travado” na primeira versão de um determinado vírus. Mais tarde, quando a pessoa é vacinada contra uma nova variante (ou é infectada por ela), o organismo não reage da forma esperada: ele produz anticorpos contra o vírus inicial, ignorando as mudanças presentes no novo. Daí a menção a pecado original no nome do fenômeno (também chamado de “impressão antigênica”).
Com alguns vírus, como o influenza (da gripe), o pecado original antigênico não se manifesta: você pode tomar uma nova vacina a cada ano, atualizada para refletir as mutações do influenza, e o corpo responde corretamente. Já com o vírus DENV, que causa a dengue, esse fenômeno acontece (e atrapalha muito o desenvolvimento de uma vacina segura e eficaz contra essa doença).
O estudo do NIH foi realizado em macacos, não em humanos. É preciso esperar o resultado dos testes da mRNA-Omicron em pessoas, já em andamento, para tirar conclusões definitivas. E pode ser que a nova vacina da Pfizer, adaptada para a Ômicron, não tenha esse problema (ela também já está em testes clínicos).
Mas esse primeiro resultado é um alerta, pois indica que o Sars-CoV-2 está sujeito ao pecado original antigênico – e isso pode dificultar ou inviabilizar o desenvolvimento de vacinas adaptadas para a Ômicron.
Vacina da Moderna contra a variante Ômicron decepciona no primeiro teste Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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