O Big Brother é uma invenção holandesa. Foi desenvolvido pela produtora Endemol, em 1999 – o mesmo ano da criação do britânico Survivor, no qual os participantes são largados para se virar no meio do mato e, ao mesmo tempo, evitar ser eliminados da competição. Os dois programas são os responsáveis pela popularização dos reality shows.
Já em seu primeiro ano, o Big Brother foi um sucesso: 4 milhões de holandeses (quase um terço da população) assistiram à final, e não demorou para que outros países se interessassem em importar o formato. Bom para John de Mol, o criador do programa (e que está por trás também do The Voice). Hoje, o seu patrimônio é de US$ 2 bilhões.
Em 23 anos, o Big Brother já foi exibido em mais de 60 países, entre versões originais (com participantes anônimos), alternativas (só com celebridades) e híbridas, como é o caso do Brasil desde 2020. Todas elas, claro, sob aprovação da Endemol, que recebe os devidos royalties.
Bem, quase todas elas. Há pelo menos três cópias descaradas do Big Brother, exibidas sem nenhum vínculo com a Endemol: o Biggy237, de Camarões, Big Brabee, da Libéria, e o brasileiríssimo Casa dos Artistas – que, inclusive, rendeu um processo miliónario para o SBT, que transmitiu o reality.
Abaixo, saiba mais sobre cada um desses casos:
Biggy237
O Biggy237 é uma versão pirateada da franquia Big Brother em Camarões. Não à toa, o reality é conhecido como “Big Brother Camarões” pela mídia local – mas as diferenças de orçamento e produção em comparação aos realities shows de outros países são gritantes. A começar por um imprevisto logo na estreia: o primeiro episódio deveria ir ao ar na televisão em 2 de agosto de 2020, mas foi adiado devido a problemas técnicos.
No dia seguinte, os 25 participantes já podiam ser vistos ao vivo na “Mansão Biggy”. No Big Brother Brasil, quem quiser ter acesso às câmeras da casa 24h por dia precisa assinar a plataforma de streaming Globoplay. No Biggy237, a espiadinha rola em uma live na página do Facebook do reality.
Segundo a produção, a ideia por trás do Biggy237 é “nutrir o talento e inspirar a esperança dos jovens camaronenses”. Eles competem pelo prêmio final de 10 milhões de francos CFA (R$ 90 mil) e uma viagem para Dubai.
Mas a parte mais diferentona do reality é que ele acontece em quatro idiomas. Os participantes devem se comunicar em inglês às segundas-feiras e sábados; em francês às terças e sextas; em pidgin de Camarões (uma espécie de adaptação do inglês) às quartas; e em camfranglês (mistura de francês, inglês e pidgin) às quintas. Aos domingos, os participantes podem escolher entre o inglês e o francês.
Camarões é uma nação bilíngue: inglês e francês são as línguas oficiais. Na prática, os camaronenses falam mais de 200 idiomas. Mesmo assim, há uma rivalidade entre os moradores de regiões majoritariamente anglófonas ou francófonas. Por isso, outro objetivo do reality é integrar esses grupos de contextos culturais distintos.
Por lá, o reality foi comparado ao Big Brother Nigéria e ao Big Brother África (essas, sim, são franquias oficiais). Mas o criador Cyril Akonteh garante que o Biggy237 é diferente. Seu objetivo é incentivar mais produções locais e contribuir para o desenvolvimento da indústria de entretenimento local.
Confira uma das lives da segunda temporada, disponível na página do Youtube do reality:
Big Brabee
Após o Biggy237 em Camarões, não demorou para a Libéria também criar sua própria versão pirata do Big Brother: o Big Brabee. O primeiro episódio foi ao ar no dia 12 de setembro de 2020, pouco mais de um mês após a versão camaronense. Ela é transmitida pelo canal SATCON e também em uma live do Facebook.
Na versão liberiana, 27 participantes competem por 850 mil dólares liberianos (R$ 28 mil), um carro e uma viagem para Dubai. Segundo os organizadores, esse é o primeiro reality show produzido no país. O esquema é o mesmo de qualquer derivado do Big Brother: uma casa vigiada 24h por dia, em que os competidores realizam tarefas e, ao final da semana, um deles é eliminado por voto do público.
Assim como o Big Brother Brasil, o Big Brabee já causou polêmicas na Libéria. Em julho de 2021, o Ministério de Informação, Cultura e Turismo do país ameaçou cancelar o programa após a veiculação de “conteúdo ao vivo que vai contra as diretrizes de decência e obscenidade do país”. No mesmo mês, o participante Gary Noring foi expulso da casa após toques inapropriados em outra competidora sem seu consentimento, enquanto ela estava dormindo.
Atualmente, o reality está em busca de patrocinadores para as próximas temporadas.
https://www.youtube.com/watch?v=HKfUlf_4CYQ
Por enquanto, o Biggy237 e o Big Brabee passaram fora do radar da Endemol e planejam lançar novas temporadas em 2022. Mas a versão plagiada do Brasil não teve tanta sorte. Conheça o caso da “Casa dos Artistas”.
Casa dos Artistas
Em 2000, a Endemol ofereceu o Big Brother a Silvio Santos. O SBT teve acesso a todo o “manual” do formato: como a casa deveria ser construída, onde as câmeras deveriam ser posicionadas e que tipos de pessoas escolher. Na última hora, Silvio desistiu do projeto, alegando que seria caro demais.
Mas o Homem do Baú já tinha percebido que ali estava uma galinha dos ovos de ouro. Então correu e lançou, em 2001, seu Casa dos Artistas: uma cópia descarada, mas com subcelebridades. Bárbara Paz, Supla, Nana Gouvêa e Alexandre Frota foram alguns dos 12 famosos da primeira edição.
O sucesso foi imediato. Casa dos Artistas impôs a primeira derrota no Ibope do Fantástico, que reinava nas noites de domingo. E a Globo, que ainda tinha dúvidas se o formato holandês emplacaria por aqui, comprou os direitos de adaptação da Endemol.
Mas o plágio não passou despercebido: em novembro de 2001, a Globo moveu uma ação para que o SBT encerrasse a transmissão do programa. No mês seguinte, a Endemol, via Tribunal de Justiça de Amsterdã, fez o mesmo.
Por conta disso, Casa dos Artistas chegou a ser interrompido brevemente. No lugar do reality, o SBT exibia, por 15 minutos, o seguinte comunicado:
“Infelizmente não exibiremos hoje o programa “Casa dos Artistas”. A TV Globo, através de liminar concedida pela Justiça, impede o SBT de exibir o programa. Esperamos que a justiça prevaleça em favor de você , telespectador, para que, em breve, possamos continuar levando até você um programa de alta qualidade.”
Eventualmente, a emissora conseguiu reverter a liminar e retomar o programa, que chegou a ter mais duas temporadas (uma delas misturou celebridades com fãs), mas sem o mesmo sucesso. Em 2015, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu razão à Globo e à Endemol no processo contra o SBT. O canal de Silvio Santos foi condenado a pagar R$18 milhões.
Conheça as versões piratas do Big Brother Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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