Sondas espaciais cruzam o vácuo a 130 mil km/h. É pouco. Mesmo nesse pique, levam décadas só para sair do Sistema Solar. E seriam necessários 41 mil anos para chegar à estrela mais próxima, Alpha Centauri. O Projeto Starlight, da Nasa, propõe uma alternativa (1): usar um laser para empurrar uma nave, que atingiria 100 mil km por segundo, ou 360 milhões de km/h (30% da velocidade da luz).
Os passageiros dessa viagem seriam os tardígrados, animais microscópicos que estão entre as espécies mais resistentes da Terra. A ideia é aproveitar o teste do sistema para checar como uma forma de vida se comportaria em longas viagens interestelares – longas de fato: mesmo a 100 mil km/s um rolê até Alnilam, a estrela do meio das Três Marias, que parece aqui pertinho, levaria 12 mil anos. A Super conversou com o físico Philip Lubin, professor da Universidade da Califórnia e diretor do projeto, para entender a ideia.
Por que enviar tardígrados? Eles são uma das poucas criaturas que suportam o vácuo. Seriam desidratados e enviados em um estado de metabolismo zero, como se fossem sementes. Existem tardígrados que permaneceram nesse estado por milhares de anos – e cientistas conseguiram fazê-los voltar à vida. Outra vantagem é que eles são microscópicos. Se quisermos atingir altas velocidades, precisamos enviar algo que tenha pouca massa. Poderíamos colocá-los em cápsulas com uma pequena atmosfera. A ideia é apenas mandá-los. Não temos como trazê-los de volta.
Como funcionaria o laser? Os fótons [partículas de luz] carregam energia e impulso. Nós só não sentimos esse “empurrão” porque nossa pele não é sensível o suficiente. Se eu quisesse acelerar a minha minúscula nave a 30% da velocidade da luz, precisaria de 100 gigawatts [equivalente a 80 reatores nucleares, ou 10% da capacidade total de geração elétrica dos EUA]. A fonte de luz, que é a propulsão da nave, ficaria no chão. Nós mostramos que é possível sincronizar lasers em um raio de 50 km para gerar um feixe de luz. Ele só ficaria ligado por alguns minutos, para lançar a espaçonave.
Qual é o objetivo do estudo? O projeto não seria executado agora – é algo para daqui 30 ou 50 anos, dependendo da viabilidade e do interesse econômico. O que nós estamos propondo é estudar e desenvolver a fotônica. Mesmo que a gente não envie os tardígrados, o mais importante é a tecnologia. Ela poderia ser aprimorada para mandar humanos a Marte, por exemplo.
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Fonte 1. Interstellar space biology via Project Starlight. P Lubin e outros, 2022.
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