A pandemia funcionou como desculpa para que pessoas justificassem hábitos pouco saudáveis, como comer em demasia, tomar mais bebida alcóolica e fazer menos (ou nenhuma) atividade física. São comportamentos que impactam diretamente a saúde do coração em médio e longo prazos.
A pesquisa Doenças Crônicas e Seus Fatores de Risco e Proteção: Tendências Recentes, realizada pelo IEPS (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde), mostrou que, enquanto em 2019 a obesidade atingia 20,3% dos adultos nas capitais do país, em 2020 a doença passou a afetar 21,5% desse grupo, com maior prevalência nos Estados do Sul, Sudeste e Nordeste. Manaus (24,9%), Cuiabá (24,0%) e Rio de Janeiro (23,8%) lideram o ranking nesse aspecto.
Para ter uma ideia do impacto, até 2011 nenhuma capital brasileira havia ultrapassado 20% no índice de obesos, deixando claro que as medidas protetivas foram um gatilho para o cenário atual.
E quem teve Covid-19?
Já os praticantes de atividades esportivas que foram contaminados pelo novo coronavírus podem ter herdado sequelas cardiovasculares (sintomáticas ou não), sem que tenham se dado conta.
Dessa forma, independentemente da performance ou do nível da atividade física, o alerta é claro: antes de retornar às práticas esportivas, todos devem passar por uma avaliação cardiológica, a chamada APP (avaliação pré-participação).
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E não é para menos. No documento Posicionamento sobre Avaliação Pré-participação Cardiológica após a Covid-19: Orientações para Retorno à Prática de Exercícios Físicos e Esportes, em países que contabilizaram grande número de casos de Covid-19 (Estados Unidos, China e Itália, por exemplo) lesões cardíacas comprometeram de 20 a 30% dos pacientes hospitalizados e foram a causa para 40% das mortes.
Entre as complicações cardiovasculares apresentadas, estão lesão miocárdica (20% dos casos), arritmias (16%), miocardite (10%), insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e choque (até 5%).
Um outro estudo com hospitalizados pela Covid-19 mostrou que 16,7% desenvolveram arritmia e 7,2% apresentaram lesão cardíaca aguda e quase 12% dos pacientes sem doença cardiovascular prévia apresentaram níveis elevados de troponina T, proteína liberada no sangue quando existe alguma lesão no músculo do coração.
Quem é quem no treino
O maior risco de morte súbita está relacionado com a maior intensidade do exercício. Por isso, as recomendações de exames complementares para a APP vão de acordo com o perfil esportivo de cada um: esportistas recreativos, competitivos e atletas.
A indicação de exames também varia com a gravidade do quadro clínico.
De acordo com a classificação atual proposta na literatura para os estágios da Covid-19, os doentes se dividem em quadro clínico leve (assintomáticos ou sintomas mais controláveis); moderados (dispneia, necessidade de oxigenação, saturação menor que 92%, internação hospitalar e acometimento pulmonar) e graves (internados em UTI, com ventilação mecânica invasiva, entre outros sintomas).
É importante ressaltar que durante a fase aguda da doença a prática de atividades físicas está proibida.
Corrente da vida
Depois de tantas infecções por Covid-19 ou mesmo de longos períodos sem atividade física, a volta ao normal nos deixa em alerta com a possibilidade do aumento de eventos cardiovasculares nos próximos meses e/ou anos.
Além de campanhas voltadas para prevenção, um número cada vez maior de pessoas precisa estar apta a atender emergências cardiovasculares.
Nesse sentido, a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo ministra cursos credenciados pela American Heart Association – AHA, em seu Centro de Treinamento em Emergências Cardiovasculares. O objetivo é justamente a difusão de conhecimento que salva vidas.
Nesse espaço, promovemos cursos de BLS (Basic Life Suport) para a população em geral, ACLS (Advanced Cardiac Life Support) voltados para os profissionais de saúde e PALS (Pedriatric Advanced Cardiac Life Support) adaptado para treinamento em emergências de crianças e bebês.
Ao notarmos alguém com problemas cardíacos, o primeiro passo é ligar para o SAMU (192) e iniciar manobras de ressuscitação, fazendo uso de desfibrilador, caso esteja disponível.
Em 10 minutos, se nada for feito, a pessoa com parada cardíaca quase não tem chance de sobreviver. Todos precisam estar preparados para ajudar.
* Agnaldo Piscopo é diretor do Centro de Treinamento da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp)
Precisamos nos preparar para as doenças do coração no pós-Covid Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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