Embora não seja uma doença das mais frequentes, principalmente em países desenvolvidos, o câncer de pênis ainda é um problema de saúde pública no Brasil e em nações com menor IDH (índice de desenvolvimento humano).
Por aqui, representa 2% dos tumores malignos que atingem os homens e tem índices preocupantes nas regiões Norte e Nordeste. Só alguns países da África Subsaariana superam nossas taxas.
Em 2021, foram diagnosticados 1 791 casos no Brasil, segundo o Sistema de Informações Hospitalares (SIH/Datasus), número menor do que nos anos anteriores, mas que pode ter sido afetado pelas dificuldades de acesso a atendimento e diagnóstico provocadas pela pandemia da Covid-19.
Tudo leva a crer que isso tenha resultado numa redução de em torno de 20% nos casos notificados pelo Ministério da Saúde quando se compara 2021 com a média dos anos anteriores.
O diagnóstico tardio da doença, quando ela se encontra mais avançada, causou um aumento de 1 604% no número de cirurgias de amputação do pênis nos últimos 14 anos.
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É um cenário devastador se considerarmos as consequências óbvias na vida de um homem que teve seu órgão sexual extirpado.
Nós, urologistas, temos debatido muito essa questão e sabemos como é necessário esclarecer o homem sobre uma condição tão mutilante que pode ser evitada com cuidados simples de higiene e a prevenção e tratamento de infecções por HPV. Temos inclusive vacina disponível no SUS.
O tumor de pênis está relacionado em boa parte dos casos à higiene inadequada do órgão. É preciso afastar o prepúcio (a pele que recobre a cabeça do pênis) para lavá-lo adequadamente com água e sabão.
Nesse contexto, podem contribuir com o problema o excesso de prepúcio, a fimose (quando a pele que recobre a glande não a deixa ser exposta), a infecção pelo vírus HPV e o tabagismo.
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A doença é, portanto, facilmente evitável com higiene íntima, tratamento da fimose e vacinação. Infelizmente, porém, a desinformação e a dificuldade de acesso à saúde fazem com que muitos homens só descubram a enfermidade quando a solução é amputar o pênis e ela é potencialmente fatal.
Para reverter esse cenário, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) tem alertado o governo e a população sobre a existência desse mal, contribuído com a elaboração de políticas públicas e treinado urologistas para tratar o câncer de pênis.
Estabelecemos, na semana do Dia Mundial do Câncer, a conscientização sobre o tumor de pênis, e nesse período iniciamos, em cidades do Norte e do Nordeste, um mutirão de cirurgias para retirada do excesso de prepúcio ou tratamento da fimose, visando facilitar a higienização do local e reduzir o risco de infecções.
Fora isso, realizaremos lives no Instagram da SBU para discutir o problema e ampliaremos o projeto de orientação educacional por meio de cartilhas e panfletos lúdicos distribuídos em escolas e outros pontos.
Tem mais: faremos nova campanha para sensibilizar as pessoas sobre a importância da vacinação contra o HPV, um dos fatores de risco para a doença, em meninos. E disponibilizar capacitação a profissionais e agentes de saúde para reconhecimento e tratamento precoce de infecções e tumores no pênis.
Por fim, queremos trabalhar junto ao Ministério e as secretarias da Saúde para criar estratégias exclusivas e efetivas de conscientização e enfrentamento dessa doença, que continua a mutilar a qualidade de vida de milhares de brasileiros.
* Alfredo Felix Canalini é presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU)
Câncer de pênis: você sabe como preveni-lo? Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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