O detetive Hercule Poirot – tão famoso por sua genialidade quanto excentricidade – curte suas férias no Egito quando se vê em meio a um mistério. Uma rica herdeira é assassinada em sua festa de casamento, e todos os convidados de um cruzeiro luxuoso no rio Nilo são suspeitos.
Para descobrir o culpado, Poirot coloca seu talento investigativo em ação na trama do filme Morte do Nilo, que chegou aos cinemas na última quinta-feira (10). O longa é adaptação da obra homônima de Agatha Christie, publicada em 1937. Poirot é interpretado por Kenneth Branagh, que também é diretor do filme.
Esta é a segunda vez que Kenneth dirige uma adaptação de Christie. A primeira foi Assassinato no Expresso do Oriente (2017), em que ele também interpreta Poirot. O novo filme é a segunda versão do livro Morte no Nilo para os cinemas. (A primeira é de 1978, com Peter Ustinov no papel do detetive. Você confere o trailer aqui.)
Christie é a escritora mais vendida e traduzida da história, e Morte no Nilo é um dos seus principais romances. Jean Pierre Chauvin, pesquisador da Universidade de São Paulo que estuda os livros da autora, explicou à Super que o sucesso da obra se dá por vários fatores.
Além da presença do famoso Poirot e do cenário que inclui ruínas e monumentos egípcios – elementos considerados exóticos na época de publicação –, o romance policial se destaca pela profundidade. “A trama é muito engenhosa, porque tem um triângulo amoroso que se anuncia desde o começo. Não é só um romance policial, mas tem personagens complexos”.
O pesquisador indica que um dos destaques na adaptação de Kenneth é o cuidado com os figurinos e a construção dos cenários – que, no romance, são descritos de forma vívida devido à vivência da autora. É que nos anos 1930, Christie acompanhou seu marido Max Mallowan em viagens para escavações arqueológicas no Egito e em locais do Oriente Médio — o que despertou seu interesse pela arqueologia.
O filme, cujo lançamento foi adiado várias vezes por conta da pandemia, traz alguns elementos que não estão presentes na obra original de Christie — falando, por exemplo, sobre o passado de Poirot e a razão por trás de seu bigode característico (não vamos dar spoiler – para descobrir, só vendo o filme).
Confira abaixo o trailer de Morte no Nilo, produzido pela 20th Century Studios e distribuído pela Disney.
Principais detetives nas telas
As obras da autora já foram adaptadas mais de 45 vezes para o cinema e 36 vezes para a televisão. Em algumas das obras mais famosas de Christie – como Punição Para Inocência (1958) e Por Que Não Pediram a Evans? (1934) – o mistério da trama é solucionado por pessoas comuns. Mas elas não são os personagens principais da rainha do crime.
Esse lugar é ocupado pelo detetive Hercule Poirot e Miss Marple – uma senhora solteirona que atua como detetive amadora. Muitas das obras em que eles aparecem já foram adaptadas para o cinema e para a TV.
Desde o final da década de 1920, Poirot foi interpretado por mais de 35 atores. Entre as representações mais famosas do personagem está a de Albert Finney, que retratou o detetive em Assassinato no Expresso do Oriente (1974), lhe rendendo uma indicação ao Bafta de Melhor Ator.
Outro Poirot famoso nas telas foi feito por Peter Ustinov. Depois de Morte no Nilo (1978), ele representou o detetive em mais dois filmes e três adaptações de Christie para TV – papel considerado um dos mais brilhantes de sua carreira.
Mas o Poirot mais famoso foi feito pelo ator David Suchet, que interpretou o detetive por 24 anos na série de TV Agatha Christie’s Poirot, produção do canal inglês ITV que foi ao ar de 1989 até 2013.
Miss Marple também ganhou vida no cinema com muitas atrizes ao longo dos anos. A primeira Miss Marple apareceu em 1956 com Grace Fields, em uma adaptação de Convite para um homicídio (1972) para a TV americana.
Na década de 1960, foi Margaret Rutherford, amiga da família de Agatha Christie, quem interpretou Miss Marple em quatro adaptações – mas elas não agradaram muito a escritora inglesa. Depois de representações cinematográficas de Angela Lansbury e Helen Hayles, chegou a vez da atriz Joan Hickson. Ela assumiu o papel de 1984 a 1992 na série da BBC Miss Marple, e é frequentemente considerada a interpretação mais fiel ao personagem original.
Outras adaptações
Vale destacar que as obras de Agatha Christie não ficam só nas adaptações americanas e inglesas. O filme Shubho Mahurat (2003), por exemplo, é produzido pelo diretor indiano Rituparno Ghosh e se baseia em O espelho quebrado (1962), que conta com a participação de Miss Marple.
Já Desyat Negrityat (1987) foi uma adaptação soviética de E Não Sobrou Nenhum (1939). Assim como Shubho Mahurat, o filme é considerado uma das melhores adaptações da obra de Christie para o cinema, segundo o site IMDb.
Enquanto Desyat Negrityat é conhecido pela fidelidade ao romance de referência, Murder Most Foul (ou Crime É Crime, de 1964) não se compromete tanto com a obra original. Nesse filme, o personagem de Poirot foi substituído por Miss Marple na história A morte da Sra. McGinty (1952).
Poirot e Marple já se tornaram até personagens de anime. Eles existem em paralelo na obra da autora inglesa, mas no anime Agatha Christie’s Great Detectives Poirot and Marple (2004) os detetives se conhecem por meio da adolescente Maybelle West – sobrinha-neta de Marple e assistente de Poirot.
O trabalho de Christie ainda originou graphic novels, peças de teatro, programas de rádios e videogames – o último foi Hercule Poirot: The First Cases, lançado em 2021 para diferentes consoles.
As obras da escritora se tornam ainda mais populares à medida que as adaptações aparecem. E elas não param de surgir. Você pode esperar mais três produções de TV para os próximos anos, que já foram confirmadas pela BritBox, serviço de streaming da BBC e da ITV.
Uma breve história das adaptações de Agatha Christie para o cinema Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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