quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Covid-19: por que a Ômicron não pode ser considerada leve?

A variante Ômicron do coronavírus provocou uma explosão de quadros de Covid-19. Segundo o Instituto Todos pela Saúde, desde dezembro de 2021 essa cepa é a responsável por quase a totalidade dos casos da infecção. Recentemente, uma de suas subvariantes, a BA.2, foi identificada por aqui. Segundo análises de outros países, ela seria ainda mais transmissível.

Embora a gente tenha voltado a registrar um número expressivo de mortes – só ontem foram mais de 1 200 óbitos –, a situação poderia ser muito mais dramática se olharmos para a quantidade de novos casos diagnosticados atualmente. Para ter ideia, do início de 2022 até agora, já contabilizamos mais testes positivos de Covid-19 do que em todo o segundo semestre de 2021.

Por essas e outras, muito se falou sobre a possibilidade de a Ômicron levar a um quadro mais leve. Mas será que faz sentido?

“Leve não não é bem a palavra. Podemos afirmar que a Ômicron tem uma capacidade menor de provocar um quadro grave da doença porque tende a afetar mais o trato respiratório superior [nariz e garganta]”, esclarece a infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.

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“Há poucos dados ainda, mas o que se sabe é que ela atinge as células de um jeito diferente, por isso tem menos impacto no pulmão”, completa Jorge Elias Kalil Filho, chefe do Laboratório de Imunologia Clínica e Alergia do Hospital das Clínicas (HCFMUSP) e professor na Universidade de São Paulo (USP).

“Mas em quem não está vacinado, a doença pode evoluir e chegar aos mesmos sintomas graves de sempre, como a falta de ar”, ressalta o médico.

Outro motivo para não usar o termo “leve” para se referir à Ômicron é o fato de ela se espalhar por aí muito rápido, contaminando geral.

“A Delta levava 10% de infectados para o hospital. Digamos que a Ômicron leve 1%, mas há um número exponencial de doentes. Logo, eles vão lotar os hospitais do mesmo jeito”, raciocina Rosana.

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De acordo com a infectologista, a Ômicron provoca o sistema imunológico de uma maneira peculiar. É que essa variante tem mutações importantes na proteína spike, parte do vírus utilizada como chave de acesso às nossas células – e que é mirada pelos anticorpos formados a partir da vacinação.

Daí porque ela tem um potencial maior de causar a infecção, mesmo entre vacinados. Contudo, cabe repetir: o esquema de imunização completo segue protegendo contra os quadros graves da doença.

Avaliando outros países, temos mais indícios de que a mutação não deve ser vista com bons olhos – e, sim, a imunização. “É só observar os Estados Unidos. Como eles têm menor taxa de vacinação, há mais mortes e internações. Isso é evidente”, exemplifica Kalil. 

Esse contexto é reafirmado em um artigo publicado no The New England Journal of Medicine. Nele, epidemiologistas da Universidade Harvard reforçam que as vacinas ajudaram a moldar a fama de Ômicron de variante “mais leve”.

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Quem, afinal, está sofrendo com a Ômicron?

O cenário que a variante encontrou ao desembarcar no Brasil é um fator importante para responder a essa questão.

Com cerca de 70% da população vacinada com duas doses, o perigo se concentrou entre quem não recebeu as injeções ou têm doenças pré-existentes. Mas vale lembrar que a maior blindagem mesmo é garantida com o esquema completo: três doses.

“Os transplantados e outros indivíduos imunossuprimidos têm desenvolvido as formas mais graves da doença, mesmo com a imunização em dia”, comenta Rosana. O Ministério da Saúde recomendou, nesta semana, a quarta dose com a vacina da Pfizer para esse público com mais de 12 anos.

Risco maior de reinfecção?

Sabe-se que o Sars-CoV-2 original, de Wuhan (China), poderia atacar novamente após um intervalo de, mais ou menos, seis meses. Com a Ômicron, ainda não há certeza sobre quanto tempo dura a proteção após um primeiro positivo, mas estudos buscam respostas.

Rosana conta sobre uma dessas experiências: “Pesquisadores contaminaram animais com a Delta e Ômicron e, depois, recontaminaram-nos com as duas. Os bichos da Delta não adoecerem de novo, mas os da Ômicron, sim”.

Ou seja, existe a probabilidade de a Ômicron nem gerar uma imunidade – ou ela acontece e é muito curta.

Agora, segundo Rosana, tem algo que é nítido: quem pegou as primeiras versões do coronavírus não está protegido contra a Ômicron.

Em artigo publicado no British Medical Journal (BMJ), é destacado que, de acordo com Wendy Barclay, coordenadora do Departamento de Doenças Infecciosas da Universidade Imperial College, no Reino Unido, é um engano pensar que infecções passadas darão proteção contra novas variantes.

Nesse sentido, mais uma vez a vacinação surge como grande aliada, já que ampliaria a resposta do nosso sistema imunológico, deixando-nos mais preparados diante de futuras cepas.

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E o combo vacina + infecção?

“Estudos indicam que ser vacinado e contrair a Covid-19 deixa a imunidade bacana, não importa a ordem. Mas esse fato não elimina os riscos de se expor a esse vírus e desenvolver um quadro grave ou ficar com sequelas”, alerta Rosana.

“Sabe-se que a Covid-19 age no coração e em outros órgãos. Houve atleta que se recuperou bem da doença e, depois, sofreu um infarto”, comenta Kalil. Ele frisa que não faltam exemplos sobre as nefastas consequências da infecção.

O médico ainda lembra que é comum ver casos de infectados pela Ômicron que ficam com sintomas persistentes – mesmo entre os vacinados. Por isso, não dá para bobear.

“O melhor é garantir as duas doses mais o reforço para se proteger da Ômicron”, defende. E, associado a isso, seguir usando máscara e evitando aglomerações.

 

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Covid-19: por que a Ômicron não pode ser considerada leve? Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br

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