terça-feira, 31 de janeiro de 2023

A infectologia de The Last of Us: as diferenças entre ficção e realidade

Produções de ficção tem esse nome por um motivo. A palavra serve para afastar a obra da realidade pura e, muitas vezes, permitir que ela burle algumas leis da física ou princípios biológicos sem ser questionada. Não existem capacitores de fluxo como em De Volta Para o Futuro (1985), mas você aceita que é por causa dele que a viagem no tempo é possível; assim como não existem vírus que transformem as pessoas em zumbis, mas você não critica The Walking Dead (2010) pela falta de realismo.

Em The Last of Us, jogo lançado pela desenvolvedora Naughty Dog em 2013, a história é um pouco diferente. Na trama, o mundo foi destruído por um fungo bizarro, que infecta as pessoas e as transforma em hospedeiros agressivos e irracionais – de certa forma, semelhantes a zumbis. Você acompanha Joel e Ellie, um homem e uma garota que atravessam os Estados Unidos em meio a esse apocalipse. Podem até existir alguns desvios ficcionais, mas grande parte da narrativa tem embasamento científico.

O fungo responsável por dizimar 60% do planeta na ficção é do gênero Cordyceps, um tipo de fungo que, na vida real, também controla suas vítimas – mas, felizmente, só atingem insetos. Neil Druckmann, criador do jogo, teve a ideia para a ameaça fúngica enquanto assistia a um episódio do documentário de 2006, “Planeta Terra”, da BBC (exibido pelo Fantástico no Brasil). O trecho abaixo mostra o fungo agindo em uma formiga da espécie Paraponera clavata. 


A equipe de desenvolvimento do jogo buscou se inspirar na bizarrice real para criar seu fungo mortífero. A preocupação com a fidelidade foi tanta que eles chamaram o biólogo David Hughes, pesquisador especializado na relação do Cordyceps com formigas, para servir de consultor no processo criativo.

Agora, com a recente adaptação do primeiro jogo para uma série da HBO, a infecção pelo Cordyceps ficou mais famosa do que nunca: as pesquisas no Google relacionadas ao fungo e à série aumentaram drasticamente desde o primeiro episódio, no dia 15 de janeiro. Confira algumas das semelhanças e diferenças entre o Cordyceps da vida real e da ficção.

Infecção

No jogo, as principais formas de infecção são pela inalação de esporos ou pela mordida de um infectado. Leva cerca de um a dois dias para que o fungo tome controle do hospedeiro.

Na série, os produtores acharam melhor não incluir esporos; tanto por questões técnicas quanto criativas.

“No mundo que estamos criando, se colocarmos esporos no ar, ficaria bem claro que eles se espalhariam por toda parte e todos teriam que usar uma máscara o tempo todo e provavelmente todos estariam completamente infectados a essa altura. Então, nos desafiamos a criar uma nova forma interessante de propagação do fungo”, comenta Craig Mazin, co-criador da série.

Sendo assim, na adaptação, a principal forma de infecção é a mordida. Apesar de fungos não morderem, essa forma de contaminação também não é tão viajada: a esporotricose humana é um tipo de micose subcutânea que surge quando o fungo do gênero Sporothrix entra no organismo – geralmente através de pequenos cortes e arranhões de espinhos de plantas contaminadas. Não é a mesma coisa que uma dentada, mas é o mais perto de um rasgo na pele humana.

Na realidade, os esporos são indispensáveis. Ao atravessar uma área contaminada, os esporos exercem uma combinação de pressão mecânica e ação enzimática (de enzimas como a quitinase, lipase e protease) para atravessar o exoesqueleto do inseto. Cada tipo de Ophiocordyceps ataca e parasita um inseto em específico. 24 horas depois do contato, a formiga já está infectada.

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<span class="hidden">–</span>Leonardo Caparroz/Natalia Sayuri Lara/Superinteressante

Desenvolvimento

Dois dias após a infecção, o hospedeiro humano perde suas funções cerebrais superiores; entre elas, a capacidade de pensar, lembrar e raciocinar. Sem poder pensar e agir racionalmente, torna-se hiper agressivo. Dentro de duas semanas, a visão do hospedeiro começa a ser comprometida devido a corrupção do córtex visual – uma área do cérebro que processa a informação visual, localizado no lobo occipital.

Após um ano de infecção, o fungo já tomou controle completo do corpo hospedeiro e, desfigurando totalmente o seu rosto, o deixa completamente cego. Sendo assim, o hospedeiro desenvolve uma audição aguçada e forma primitiva de ecolocalização para compensar a falta de visão. Muito famosa em morcegos, a ecolocalização consiste em emitir um ruído e usar essas ondas sonoras para criar uma espécie de reconstrução do ambiente. As ondas batem nos objetos ao redor e voltam como ecos; se algo está longe, seu eco demora para voltar e se está perto, não. Infectados nesse estágio produzem um som característico, semelhante a um estalo – daí vem o seu apelido de “estaladores”. 

Se sobreviver por mais de uma década, o fungo se espalha pela superfície da pele e o hospedeiro desenvolve placas fúngicas endurecidas na maior parte do corpo. São extremamente fortes e pesados – porém, bem menos ágeis do que os estágios anteriores.

Na vida real uma formiga não dura muito tempo infectada. Diferente do jogo, o Cordyceps real não contamina o cérebro dos insetos, controlando apenas o corpo dela. Segundo uma pesquisa de 2017, as células do fungo estavam por toda a parte do corpo da formiga, praticamente como se ele tomasse conta da carcaça dela. Contudo, elas não invadiram o cérebro.

“Normalmente, o comportamento em animais é controlado pelo cérebro enviando sinais para os músculos, mas nossos resultados sugerem que o parasita está controlando o comportamento do hospedeiro perifericamente”, afirma David Hughes, biólogo consultor do jogo e principal autor do estudo. “Quase como um ventríloquo puxa as cordas para fazer um movimento de marionete, o fungo controla os músculos da formiga para manipular as pernas e mandíbulas do hospedeiro”.

Depois de dois dias, a formiga deixa a colônia de forma desengonçada e sobe até um lugar em que a umidade e a temperatura sejam favoráveis para o crescimento do fungo – a uma altura de aproximadamente 26 cm acima do solo da floresta, em ambiente com 94 a 95% de umidade e temperaturas entre 20 e 30 °C.

No fim da escalada, a formiga infectada trava suas mandíbulas em uma folha com força suficiente para impedi-la de cair e prendê-la firmemente no lugar. Isso é resultado da atrofia dos músculos mandibulares da formiga causada pela secreção de compostos pelo fungo. Uma hipótese comum entre os pesquisadores é que as células fúngicas se infiltrem entre as fibras musculares e então secretem substâncias químicas que causem a atrofia muscular, fixando a mandíbula da formiga na folha. Esse comportamento é chamado em inglês de “death grip”, ou “aperto da morte”; e é isso que acontece, ela morre pendurada de cabeça para baixo, permitindo o crescimento adequado do corpo frutífero do fungo. 

Morte

Quando está perto do fim, um humano infectado, seja lá em qual estágio de desenvolvimento estiver, encontrará cantos escuros e úmidos para morrer. Por causa disso, as regiões com maior quantidade de esporos são os esgotos, túneis e casas abandonadas. O fungo também parece ter dificuldade para se espalhar em áreas abertas e campos. Embora isso signifique o fim para o hospedeiro, o fungo continua a crescer e se espalhar até estar pronto para liberar os próprios esporos.

Já as formigas morrem depois de algumas horas da sua mordida final. Mesmo assim, o fungo continua a crescer, invadindo tecidos, se alimentando do interior do defunto e fortalecendo estruturalmente o exoesqueleto da formiga. Micélios, vários ramos de hifas emaranhadas, brotam do inseto, prendendo ele à planta e secretando substâncias antimicrobianas para proteger o cadáver da decomposição. Quando o fungo está pronto para se reproduzir, seus corpos frutíferos crescem da cabeça da formiga; e quando estão maduros, eles se rompem, liberando os esporos. Formigas mortas costumam ser encontradas em “cemitérios” contendo altas densidades de outras vítimas do mesmo fungo que também tiveram a infelicidade de cruzar com os esporos do Cordyceps.

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Enquete: você já realizou um procedimento estético com um médico?

Botox, lifting, colágeno, ácido hialurônico… Nunca se quis saber tanto sobre esses termos e os procedimentos a que fazem referência como nos dias de hoje. De olho nisso, queremos saber:


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Sífilis congênita ainda é um desafio no Brasil

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível que, se adquirida durante a gravidez, pode ser passada ao feto. E a sífilis congênita, um quadro delicado, pode ter as mais variadas consequências, algumas delas fatais.

Pois um estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta um aumento no número de diagnósticos nas mães e em seus filhos no país. Para ter ideia, a taxa da infecção subiu de 1,8 para 19,7 a cada mil bebês nascidos vivos entre 2010 e 2018.

Pior: mais de 95% das gestantes com sífilis não completam o tratamento necessário. “A medicação precisa ser repetida e é dolorosa. Além disso, muitas mulheres não apresentam sintomas sérios e falta esclarecimento sobre os riscos do quadro aos recém-nascidos”, comenta a pediatra Brunna Milanesi, do Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, no Rio de Janeiro, gerenciado pelo Centro de Estudos João Amorim (Cejam).

Novo teste rápido para monitorar a doença

Um exame que facilita o acompanhamento da gestante durante o tratamento da sífilis está sendo desenvolvido pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul.

+ Leia também: Como a sífilis voltou a crescer no Brasil e no mundo?

“A ideia é empregar a mesma tecnologia dos testes de glicose, usando uma gotinha de sangue da ponta do dedo para dosar anticorpos”, explica a enfermeira Priscila Loras, criadora do método, que será avaliado em 2023.

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A sífilis na pré-história

<span class="hidden">–</span>Editoria de arte VEJA Saúde/SAÚDE é Vital

Pesquisadores de diferentes departamentos da USP publicaram um artigo descrevendo o que pode ser o mais antigo registro de sífilis congênita na América do Sul.

O achado veio do esqueleto de uma criança de aproximadamente 4 anos de idade, encontrado na região de Lapa do Santo, sítio arqueológico que fica no centro de Minas Gerais. Sepultado há 9 400 anos, o pequeno tinha lesões com as características da doença no crânio, no fêmur e em um osso do braço.

O que chamou a atenção dos cientistas a princípio foi a quantidade de cáries nos dentes. Com mais investigações, foram detectadas as marcas da sífilis no esqueleto. Uma descoberta histórica sobre uma doença cujas origens ainda são debatidas entre os acadêmicos.

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segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

“Os Banshees de Inisherin”: entenda o que foi a guerra civil irlandesa, pano de fundo do filme

Em uma das cenas de Os Banshees de Inisherin, que estreia no Brasil na quinta-feira (2/2), o produtor de leite Pádraic (Colin Farell) contempla o horizonte rochoso da costa oeste da Irlanda. Ele mora em uma pequena ilha chamada Inisherin e observa, do outro lado do oceano, várias bombas explodindo.

“Boa sorte a vocês”, deseja Pádraic aos compatriotas. “Seja lá pelo que estejam lutando.”

Inisherin é uma ilha fictícia. Mas o conflito que Pádraic presenciou é bem real. O filme se passa em 1923, quando a Irlanda estava em plena Guerra Civil – um conflito que matou centenas de pessoas e dividiu o país.

Indicado a nove prêmios do Oscar deste ano (incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Farell), Os Banshees de Inisherin tem direção do meio britânico, meio irlandês Martin McDonagh (Três Anúncios Para o Crime). Conta a história da amizade entre Pádraic e o músico Colm (Brendan Gleeson) – ou melhor, do fim da amizade entre eles. Sem dar maiores explicações, Colm corta os laços com Pádraic, que vai passar boa parte do filme tentando entender o que provocou a súbita decisão do ex-amigo.

<span class="hidden">–</span>Film4 Productions & Searchlight Pictures/Divulgação

(Curiosidade: Farell e Gleeson vivem assassinos de aluguel no primeiro filme de McDonagh, a comédia ácida Na Mira do Chefede 2008. Tem no HBO Max.)

As notícias sobre a guerra chegam a conta-gotas na pacata Inisherin, onde todos se conhecem e os passatempos se resumem a ir à igreja e bebericar no único pub da ilha. É um lugar com habitantes peculiares, como a dona do armazém, que não se importa em abrir cartas alheias em busca de novidades, e o policial abusivo com o filho, o jovem Dominic (Barry Keoghan). E há também a Sra. McCormick (Sheila Flitton), uma velhinha que faz as vezes de banshee – entidade que, na mitologia celta, anunciava a morte de alguém com seus gritos e choros.

Existem vários níveis de interpretação em Os Banshees de Inisherin, e conhecer o contexto da guerra civil pode ser um bom ponto de partida para entender alguns deles. Vamos ao conflito.

Do começo

No século 12,  A Inglaterra iniciou o processo de anexação da ilha da Irlanda. Mas a dominação não rolou de imediato. O processo de ocupação só começou para valer no século 17. Milhares de colonos de maioria protestante passaram a viver em terras antes ocupadas por irlandeses, de maioria católica.

Assim, o mesmo território passou a ser ocupado por dois grupos hostis, um acreditando que suas terras haviam sido usurpadas e o outro temendo rebeliões. Entre as várias províncias da ilha, Ulster, ao norte, concentrou a maior parte dos imigrantes britânicos.

Ao longo do século 19, a região de Ulster (que, mais tarde, se tornaria a Irlanda do Norte) se industrializou e se urbanizou mais rápido que o sul do país, ainda dependente da agricultura, aumentando as diferenças econômicas entre os dois lados.

A Guerra de Independência…

No século 20, a tensão entre irlandeses e britânicos tornou-se insustentável. Em 1916, enquanto o Reino Unido lutava na Primeira Guerra Mundial, nacionalistas irlandeses organizaram uma das primeiras  (e maiores) manifestações a favor da independência do país.

Na capital Dublin, uma organização chamada Voluntários Irlandeses liderou o que ficou conhecida como a Revolta da Páscoa. A manifestação se estendeu durante a Semana Santa e foi repreendida com violência pela polícia: vários líderes da revolta foram presos (e executados) pelos ingleses. Ao todo, 400 pessoas morreram.

<span class="hidden">–</span>Film4 Productions & Searchlight Pictures/Reprodução

Após a revolta, os irlandeses pró-independência passaram a se concentrar no partido político Sinn Féin, que, em irlandês, significa “Nós Mesmos”. O partido usou a repreensão truculenta das autoridades para reforçar o sentimento separatista da população – e conquistar votos.

Deu certo. Em 1918, o Sinn Féin conquistou 70% das cadeiras a que tinha direito no Parlamento Britânico. Só que eles nunca a assumiram. Em vez disso, os eleitos se reuniram em Dublin no dia 21 de janeiro de 1919 e instituíram a An Chéad Dáil – o Primeiro Parlamento – e formalizaram a declaração de independência da Irlanda.

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Começava, naquele dia, a Guerra de Independência Irlandesa. De um lado, os separatistas, liderados pelos antigos Voluntários – que, àquela altura, tinham se reorganizado e formado o IRA (Exército Republicano Irlandês, na sigla em inglês), grupo paramilitar que recebeu do Parlamento autorização de combate. Do outro lado estava o Reino Unido, que contou também com a ajuda da polícia de Ulster.

O conflito se estendeu até o final de 1921; Mais de 2,3 mil pessoas morreram (desta, 900 eram civis). A guerra terminou com um cessar-fogo assinado pelos dois lados. O Tratado Anglo-Irlandês, ratificado em 6 de dezembro daquele ano, possibilitou a criação do Estado Livre Irlandês. À Irlanda do Norte, foi oferecida a possibilidade de não integrar esse novo Estado. E foi o que fizeram: até hoje, o país integra o Reino Unido, junto com Inglaterra, Escócia e País de Gales.

Só teve um problema: muitos irlandeses não concordaram com os termos do tratado.

…e a Guerra Civil

O acordo entre Irlanda e Reino Unido garantiu a criação de um Estado Livre. Contudo, ainda mantinha o país sob o guarda-chuva do Império Britânico, com um juramento de fidelidade ao rei.

Para uma parcela dos separatistas, tudo bem. O tratado afrouxaria as relações com a Coroa britânica e abriria caminho para a independência plena da Irlanda – e, quem sabe, para a reunificação com a Irlanda do Norte. Figuras como Michael Collins (diretor de inteligência do IRA durante a guerra) e Arthur Griffith (fundador do Sinn Féin) eram favoráveis ao acordo.

Mas houve quem discordasse do acordo, alegando que os termos eram insuficientes. E não demorou para que surgissem grupos divergentes dentro do Sinn Féin e do IRA.

No início de 1922, o Parlamento Irlandês pôs o tratado em votação. O resultado foi apertado: por apenas sete votos (64 a 57), o documento foi aprovado. Mas a insatisfação do lado perdedor não cessou. Em seis meses, o que era apenas uma disputa política deu origem a duas facções dentro do IRA – e o conflito armado começou.

Em abril de 1922, centenas de membros do IRA antitratado ocuparam a Four Courts, prédio da Suprema Corte da Irlandesa. A rebelião foi controlada depois de alguns dias, mas a tensão só crescia.

Em junho, dois membros do IRA assassinaram, em Londres, o britânico Henry Wilson, marechal aposentado do exército e conselheiro do primeiro-ministro da Irlanda do Norte. Embora nunca tenha ficado comprovado, há suspeitas de que Michael Collins tenha se envolvido no crime.

Seja como for, a morte foi o estopim para que o Reino Unido exigisse o fim dos conflitos irlandeses. O futuro primeiro-ministro britânico Winston Churchill, à época membro do Parlamento, culpou o lado antitratado pelo atentado e exigiu uma ação do governo irlandês – do contrário, as forças britânicas tomariam providências.

Estava instaurada a Guerra Civil. O lado pró-tratado passou a ser chamado de Exército do Estado Livre, ou Exército Nacional. Já o lado antitratado ficou como conhecido como Republicanos. O conflito se arrastou por meses e, apesar de ter se concentrado em Dublin, atingiu diversas outras regiões do país também.

Em agosto de 1922, Collins foi assassinado. Estima-se que mais de mil pessoas morreram durante a guerra, que só terminou em maio de 1923, com a vitória do lado pró-tratado.

Legado

Durante a guerra, não apenas grupos políticos e o IRA se dividiram – famílias inteiras se separaram por discordarem do tratado e dos rumos do conflito.

A guerra civil teve grande influência na política irlandesa nas décadas seguintes. Dois dos principais partidos políticos do país surgiram ao final do conflito: os apoiadores do tratado se juntaram no Fine Gael; os apositores, no Fianna Fáil.

Uma divisão que só recentemente parece ter diminuído. Em 2020 (e um juntos a um terceiro partido, o Verde), os dois se uniram pela primeira vez em uma coalizão para o governo da Irlanda.

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Inteligência artificial identifica obra do renascentista Rafael Sanzio

Em 1981, o empresário inglês George Lester Winward adquiriu mais uma obra de arte para sua coleção: um retrato circular de autor desconhecido, que retrata o Menino Jesus no colo de Maria. Winward comprou uma série de pinturas criadas entre os séculos 16 e 19 – e acreditava que o responsável por tal retrato, que ficou conhecido como “De Brécy Tondo”, era o renascentista Rafael Sanzio.

Acontece que, 40 anos depois, essa hipótese continua em aberto. Desde então, historiadores analisam o retrato e tentam desvendar quem está por trás das pinceladas, sem conseguir atribuí-las definitivamente ao pintor italiano. Agora, um grupo de pesquisadores acredita que resolveu o mistério com a ajuda da inteligência artificial.

O professor Hassan Ugail, da Universidade de Bradford (Reino Unido), imaginou que uma boa forma de investigar a autoria do retrato seria compará-lo com a Madona Sistina, pintura que Rafael fez em 1512, provavelmente encomendada pelo Papa Júlio 2º. É também uma representação de Maria e Jesus, muito parecida com o retrato anônimo, como você pode ver na imagem abaixo.

À direita está o retrato adquirido por Winward em 1981. À esquerda, a <em>Madona Sistina</em>, de Rafael Sanzio.Wikimedia Commons/Brécy Trust/Montagem sobre reprodução
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“Observar os rostos com o olho humano mostra uma semelhança óbvia”, o professor disse em comunicado. “Mas o computador pode ver muito mais profundamente do que nós, em milhares de dimensões.” Ele fez, então, uma comparação das figuras a partir de uma ferramenta de reconhecimento facial que desenvolveu em 2002. Trata-se de um algoritmo treinado com milhões de imagens, capaz de reconhecer e quantificar a semelhança entre dois rostos.

A ferramenta considera formas, cores e texturas que aparecem nas imagens. Quando ela aponta mais de 75% de semelhança, Ugail considera que os rostos são idênticos. No caso das pinturas, a porcentagem foi ainda maior: as duas Marias tinham 97% de semelhança, enquanto as duas versões do menino Jesus tinham 86%.

Para a equipe envolvida na investigação, a tecnologia confirmou que os rostos que aparecem nas duas pinturas são idênticos – e que, portanto, é altamente provável que ambas sejam criações do mesmo artista, Rafael.

Isto é apoiado por pesquisas anteriores, como a de Howell Edwards, outro professor de Bradford, que fez análises espectroscópicas do retrato circular e mostrou que seus pigmentos eram característicos da arte renascentista dos séculos 16 e 17. Estes resultados descartaram a hipótese de que a pintura fosse uma cópia posterior da Madona Sistina.

O trabalho de Ugail, ainda não publicado em uma revista científica, é mais uma das investigações acerca do retrato misterioso – considerado uma das obras renascentistas mais comentadas e estudadas por pesquisadores. Atualmente, ele faz parte do acervo da De Brécy Trust, organização que cuida da coleção de Winward.

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Estimulação elétrica atua na reabilitação de pacientes com sequelas de AVC

O uso da estimulação elétrica transcraniana (TDCS) melhorou a reabilitação de pacientes que sofreram um acidente vascular cerebral (AVC) e ficaram com uma sequela chamada síndrome da negligência espacial unilateral, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB) da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

A síndrome da negligência unilateral é caracterizada pela desatenção e não percepção do que está ao lado esquerdo e atinge cerca de 30% dos pacientes que tiveram a lesão no hemisfério cerebral direito.

“O paciente com essa síndrome perde a percepção do lado esquerdo e não reconhece estímulos sensoriais. Ele faz a barba somente do lado direito da face, por exemplo. Só come o alimento que está no lado direito do prato. Isso tem implicações sérias na reabilitação e impacto direto nas atividades de vida diária”, explica Rodrigo Bazan, coordenador da Unidade de AVC do Hospital das Clínicas da FMB e um dos autores da pesquisa.

+ Leia também: Medicina reinventa o uso da eletricidade uma porção de problemas

O AVC é a principal causa de morte no país e é extremamente incapacitante. Estima-se que sete em cada dez pessoas que sofrem o problema não conseguem retomar todas as atividades que exerciam anteriormente e, por isso, precisam passar por algum tratamento de reabilitação.

Segundo Bazan, a síndrome da negligência unilateral costuma regredir parcialmente nos primeiros três meses pós-AVC, mas ela pode se tornar permanente – por isso a importância do acompanhamento multiprofissional especializado. “Muitas vezes esse déficit passa desapercebido pela equipe de saúde, causando atraso na reabilitação”, afirmou.

Como foi o estudo

Além dos pesquisadores da Unesp, o artigo também teve participação de cientistas da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade de Toronto e da Faculdade de Fisioterapia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Ele foi publicado na revista Annals of Neurology.

O estudo analisou o uso da estimulação elétrica transcraniana por corrente direta (TDCS, na sigla em inglês) em pacientes que apresentavam a síndrome. A técnica já é bastante usada no tratamento de alguns transtornos mentais, como a depressão. Pesquisas anteriores já haviam sinalizado os benefícios na recuperação de pacientes com sequelas de AVC, mas ainda não existia um trabalho organizado metodologicamente.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores acompanharam 45 pacientes que tiveram um AVC isquêmico (o tipo mais comum e menos grave) com lesão no lado direito do cérebro e que nunca tinham feito uso dessa técnica de reabilitação.

Os pacientes foram separados em três grupos de 15 pessoas: o primeiro não recebeu a terapia (grupo controle); o segundo recebeu a estimulação elétrica no hemisfério cerebral esquerdo (que não foi lesionado pelo AVC); já o terceiro recebeu a aplicação da técnica no hemisfério direito (o que foi efetivamente atingido pelo AVC). Ao todo, eles receberam duas sessões semanais de 20 minutos durante sete semanas e meia.

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Após a eletroestimulação, eles faziam exercícios de fisioterapia.

De acordo com Bazan, a aplicação da corrente elétrica na área lesionada utiliza eletrodos não invasivos e indolores e resulta na reorganização da rede de neurônios na região, o que favorece a recuperação da função e a plasticidade cerebral – quando um hemisfério cerebral apresenta problemas, o outro pode se modificar para assumir as funções da área lesionada.

Após os tratamentos, os participantes foram avaliados com base em várias escalas clínicas e questionários validados internacionalmente. Os pesquisadores concluíram que não houve grande diferença entre o grupo que não recebeu qualquer estimulação e o que recebeu estimulação no lobo não lesionado.

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Por outro lado, os voluntários que foram estimulados diretamente na área lesionada tiveram uma melhora cerca de 30% maior, na comparação com o grupo que não recebeu a estimulação – os pesquisadores perceberam uma redução do grau de negligência do paciente, ganhos na fisioterapia e uma melhora na parte motora – na marcha, para se alimentar e se vestir, por exemplo.

Para Bazan, os resultados são promissores e outros estudos devem ser feitos para confirmar os benefícios. Apesar de o trabalho ter avaliado os pacientes após sete semanas de intervenções, ainda não se sabe se esse seria o tempo mínimo ideal ou se o tratamento teria de ser prolongado.

“Não existe ainda essa resposta na literatura, mas vamos fazer o seguimento dos pacientes para avaliar se há benefícios dessa terapia a longo prazo”, afirma.

Ainda segundo o neurologista, a terapia por meio da estimulação elétrica surge como uma técnica inovadora e acessível para os pacientes: “já estamos conversando com profissionais da rede de Reabilitação Lucy Montoro, que é referência no estado de São Paulo, para avaliar o uso da tDCS no atendimento desses pacientes”.

Esse texto foi publicado originalmente na Agência Einstein.

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Embrapa lança pequi sem espinhos

Em tupi, pequi significa “pele com espinho”. E não é pra menos: essa é a principal marca do alimento, nativo do Cerrado. Por isso, é preciso comê-lo com jeitinho, sem morder. Só que nem todo mundo tem paciência.

Para esse pessoal, uma ótima notícia: após vários anos de pesquisas, a Embrapa Cerrados e a Emater Goiás acabam de lançar três cultivares do fruto sem espinhos.

“E o sabor é mais suave”, observa o agrônomo Ailton Pereira, lembrando que, muitas vezes, a rejeição ao alimento tem a ver com a digestão trabalhosa.

Outra vantagem é a facilidade de aproveitar a castanha dentro do caroço. “Ela é gostosa e nutritiva”, crava Pereira. A paciência, agora, será essencial para experimentar o novo pequi. É que, entre cultivo e colheita, são necessários uns sete anos pela frente.

+ Leia também: As 70 frutas e plantas brasileiras que esbanjam saúde

Por que valorizar o fruto

Primeiro porque estamos falando de um alimento brasileiríssimo, típico do nosso Cerrado. Segundo porque, em termos nutricionais, ele bate um bolão. É rico em gorduras monoinsaturadas do tipo ômega-9, conhecidas pelo potencial anti-inflamatório, e reconhecido pela abundância de carotenoides, substâncias precursoras de vitamina A, e de vitamina C.

“Trata-se de um alimento muito bom para ser incorporado à dieta”, resume o pesquisador Ailton Pereira.

<span class="hidden">–</span>Imagem: Arte Veja SAÚDE/SAÚDE é Vital
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Como podemos ajudar quem tem uma doença rara

As doenças raras são crônicas, progressivas e geralmente levam à morte. São incapacitantes e podem ser degenerativas ou proliferativas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), afetam 65 pessoas a cada 100 mil indivíduos. E estima-se que existam mais de 6 mil tipos diferentes de doenças raras.

Infelizmente, ainda não há cura para a maioria dessas enfermidades de origem genética, mas um cuidado multidisciplinar adequado, em tempo oportuno, é capaz de minimizar complicações, sintomas ou até mesmo evitar a evolução da doença.

Portanto, obter o diagnóstico correto rapidamente é fundamental para contribuir com a qualidade de vida dos pacientes e seus familiares.

Nesse sentido, após 20 anos sem avanços, a promoção do diagnóstico teve em 2021 seu percurso modificado por meio da aprovação da Lei Nº 14.154, que ampliou o rol de doenças rastreadas pelo teste do pezinho disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Ele passou a contemplar de seis para 50 condições.

Mas ainda é pouco. Chegamos à era da genômica, que permite o diagnóstico por técnicas moleculares avançadas, oportunizando o diagnóstico precoce e o tratamento de algumas dessas doenças. Mas só conseguimos desfrutar dessas inovações quando existe a suspeita do problema.

E o que nós podemos fazer para ajudar?

+ LEIA TAMBÉM: As situações em que vale a pena fazer um teste genético

Considerando o atendimento integral à pessoa com deficiência, a Federação Nacional das Apaes (Fenapaes) – também conhecida como Apae Brasil, o maior movimento filantrópico do Brasil no atendimento a pessoas com deficiência intelectual e múltipla – se dedica também a promover a qualificação e a atualização das equipes multidisciplinares, a fim de auxiliar na suspeita e na identificação das enfermidades raras, contribuindo com uma conduta clínica mais eficaz por meio de protocolos que proporcionem qualidade de vida aos pacientes.

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É por isso que sempre estamos buscando o conhecimento científico sobre as doenças raras, com ênfase em certas deficiências de enzimas essenciais ao organismo, aspectos genéticos, triagem neonatal, cuidados terapêuticos, reabilitação e legislação aplicada aos serviços de saúde. Por meio de parcerias com a indústria, também levamos cursos de aprimoramento específicos aos profissionais da área.

Sabemos que a causa mais comum de deficiência na infância é a paralisia cerebral. Mas, por vezes, uma doença rara está por trás. Há muitas situações que confundem esse quadro clínico e retardam por anos o diagnóstico e o cuidado multidisciplinar corretos.

Daí a importância de estarmos capacitados para acolher a criança e sua família, sabendo distinguir sinais e sintomas, não descartando a possibilidade de estarmos frente a uma doença pouco frequente em vez daquela mais comum.

Um exemplo: no caso da deficiência de AADC, doença genética rara causada por alterações do gene DDC e pela deficiência de uma enzima, as manifestações clínicas incluem, além dos distúrbios do neurodesenvolvimento, crises oculogíricas (no posicionamento do olhar) e alterações de movimento.

Embora sejam sinais de início precoce, o que facilitaria a investigação médica, o tempo médio de diagnóstico só ocorre por volta dos 3 anos e meio de idade, muitas vezes devido à confusão com outras doenças mais conhecidas. Isso impacta diretamente a atenção adequada à criança.

Atualmente, a deficiência de AADC já pode ser detectada nos primeiros meses de vida por meio de testes genéticos, que viabilizam precocemente o diagnóstico e os cuidados terapêuticas. Mas, para isso, temos que estar atentos!

E é esse o objetivo da Apae Brasil: ofertar, por meio da capacitação técnica, uma mudança de olhar a quem está na linha de frente do atendimento, e que pode mudar a vida de uma criança e sua família.

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* Tais Pires Terra Araújo é biomédica com especialização em saúde pública, mestra em Medicina Tropical e Epidemiologia e tem experiência no trabalho de diagnóstico de doenças genéticas e infecciosas na triagem neonatal; Eliane Pereira dos Santos é biomédica, assessora técnica de saúde da Apae Brasil, secretária da Sociedade Brasileira de Triagem Neonatal e Erros Inatos do Metabolismo (SBTEIM) e ex-integrante do Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) do Ministério da Saúde

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Como podemos ajudar quem tem uma doença rara Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br

domingo, 29 de janeiro de 2023

O que esperar para a telemedicina no Brasil em 2023

O ano já começou e devemos ficar atentos às movimentações de um dos mercados mais relevantes em todo o mundo: o setor de saúde! Ao fazer um recorte para o universo de tecnologias e inovações, acredito que teremos um período de avanços ainda mais significativos e que, de alguma forma, irão impactar a vida de todos nós.

Nesse contexto, duas palavras se tornaram obrigatórias: telemedicina e startups.

De acordo com a pesquisa Distrito Healthtechs Report 2022, realizada pela Distrito, plataforma que conecta soluções para startups, o Brasil soma 1 023 healthtechs, representando um aumento de 60% quando comparado ao ano de 2016. Tenho ciência de que esses dados já são impactantes e nos mostram uma evolução, mas, do mesmo modo, também entendo que ainda há muito o que fazer.

Dentre as verticais de saúde mais importantes, vejo a telemedicina como uma das peças-chaves, ganhando ainda mais destaque em 2023. No final do ano passado, mais precisamente no dia 28 de dezembro, foi publicada a Lei 14.510/2022, que regulamenta a telessaúde como modalidade de prestação de serviços aos pacientes à distância.

Se me cabe um espaço aqui para fazer um “recorte sobre o recorte”, e dentro da telemedicina, não podemos nos esquecer também da eficiência que ferramentas tecnológicas têm proporcionado no estreitamento das relações de pacientes, médicos e, em última instância, gestores do segmento.

Como abordamos no Panorama de Clínicas e Hospitais 2023, hoje 80% dos nossos usuários afirmam que fazem uso do aplicativo Whatsapp para a confirmação de consultas, seguido por telefone (69%), SMS (29%) e e-mail (20%).

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+ LEIA TAMBÉM: 10 tendências na era da saúde digital

Como comentei, 2023 será um ano de grandes novidades e progressos incríveis na telemedicina em todo o mundo e, claro, o Brasil não ficará de fora. Temos profissionais empenhados em aprimorar o setor, proporcionando ainda mais a democratização do acesso à nossa população.

Seja por meio de consultas simples, triagem, análise de exames laboratoriais ou de imagem e até mesmo cirurgias a distância, a telemedicina deixou de ser um “sonho” e passou a ser uma realidade cada vez mais palpável e positiva para todos os agentes de saúde e pacientes brasileiros.

Vamos aguardar, com muita expectativa, o que está por vir.

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* Cadu Lopes é CEO da Doctoralia Brasil, Peru e Chile

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sábado, 28 de janeiro de 2023

Novos remédios contra epilepsia permitem uma vida com menos restrições

A epilepsia é uma doença neurológica crônica caracterizada pela ocorrência de crises epilépticas recorrentes – o que leva a consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais.

Estima-se que ela acometa de 1 a 3% da população mundial, e que nos países em desenvolvimento esta cifra possa chegar a 2%. No Brasil, acredita-se que entre 1,8 e 3,6 milhões de pessoas convivam com a epilepsia.

A causa da doença é variável, podendo ser congênita ou adquirida. Em alguns casos, a origem é desconhecida.

As crises epilépticas ocorrem devido a uma descarga elétrica excessiva de um grupo de células nervosas (os neurônios), localizado em uma dada região do cérebro. Esses episódios são inicialmente classificados como focais ou generalizados.

As crises focais são aquelas que se originam em uma região limitada de um hemisfério cerebral. Elas podem gerar (ou não) alteração da consciência ou alerta.

+ Leia também: Cannabis medicinal: o que esperar dela?

As crises generalizadas são aquelas que se originam em algum ponto do cérebro e rapidamente se difundem, atingindo os dois hemisférios cerebrais ao mesmo tempo.

O que acontece durante a crise

As manifestações clínicas das crises epilépticas são variáveis, porque dependem da região onde essa descarga se localiza e se propaga.

Assim, elas podem se apresentar de diferentes maneiras: podem ser rápidas ou prolongadas; com ou sem alteração da consciência; com sintomas motores, sensitivos ou sensoriais; únicas ou em salvas; exclusivamente em vigília ou durante o sono; precedidas ou não por aura (sensação referida pelo paciente).

Como a epilepsia é tratada

O tratamento da epilepsia é feito basicamente com medicamentos, os fármacos anticrises.

A escolha do remédio adequado depende de muitos fatores, que envolvem características das crises epilépticas e também do paciente.

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Novos fármacos têm sido lançados recentemente, levando à necessidade de constantes atualizações. Eles são baseados na modificação de moléculas já existente ou são realmente novas moléculas.

+ Leia também: Nem toda epilepsia é igual

Alguns apresentam melhor desempenho em termos de eficácia e/ou tolerabilidade.

Diante disso, a Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, a SBNI, deverá rever esse tema em setembro de 2023, em seu 230 Congresso.

Com o controle das crises, espera-se que a pessoa com epilepsia tenha uma vida com o mínimo possível de restrições.

No entanto, devido ao risco de vida oferecido, algumas atividades devem ser evitadas, especialmente no início do tratamento. De forma geral, esportes radicais como voo, paraquedismo, asa delta, alpinismo, mergulho, surfe e esportes motorizados podem ser contraindicados.

+ Leia também: Exercício como tratamento de 6 doenças neurológias

A natação é liberada, especialmente se as crises epilépticas estiverem controladas, e de preferência sob supervisão individual.

Quando as crises epilépticas não puderem ser controladas com dois fármacos em doses máximas, a epilepsia é considerada refratária.

Adultos e crianças com epilepsia refratária devem ser encaminhados a centros especializados em epilepsia para avaliar a possibilidade de outras terapias, incluindo o tratamento cirúrgico.

*Maria Luiza Manreza é médica supervisora do Serviço de Neurologia Infantil do Hospital das Clínicas de São Paulo e Presidente da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil.

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sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Radar da saúde: queixas respiratórias lideram atendimento por telemedicina

Com base no histórico de 28 mil teleconsultas realizadas no ano passado no Brasil, a empresa de saúde digital Conexa elaborou um ranking das razões que levam alguém a procurar assistência médica a distância.

E o primeiro lugar ficou com as doenças e os sintomas respiratórios, com 55% dos atendimentos — o posto inclui tosse, dor de garganta e quadros como resfriado, gripe e Covid-19. Na segunda posição, apareceram os problemas gastrointestinais (diarreia, náusea, vômito…), com 16% da demanda, e, na terceira, os transtornos mentais, com 11%.

“Nosso pronto-atendimento digital possui taxa de resolução de 95,2% dos casos. Ou seja, menos de 5% dos pacientes atendidos na plataforma precisam ser encaminhados a um ambiente físico. Esse número reflete o potencial da telemedicina para melhorar a eficiência do sistema de saúde como um todo”, diz Guilherme Weigert, CEO da Conexa.

<span class="hidden">–</span>Ilustrações: Isadora Pinheiro/SAÚDE é Vital

Passado: 50 anos do anticorpo monoclonal

O pontapé para a produção desse tipo de medicamento injetável com objetivos precisos dentro do corpo foi dado em 1973 pelo cientista americano Jerrold Schwaber. Ele obteve a molécula terapêutica depois de cultivar e instruir células híbridas de humanos e camundongos.

+ Leia também: O que é um anticorpo monoclonal?

Hoje os anticorpos monoclonais atuam contra doenças autoimunes e vários tipos de câncer.

<span class="hidden">–</span>Ilustrações: Isadora Pinheiro/SAÚDE é Vital

Futuro: O primeiro remédio que retarda o diabetes tipo 1

O governo americano aprovou o uso de uma medicação que ajuda a evitar ou postergar o aparecimento do diabetes provocado por uma agressão do sistema imune ao pâncreas.

O teplizumabe foi testado em pessoas com alto risco de desenvolver a doença — algo apontado por exames. Ainda não há previsão de chegada ao Brasil.

<span class="hidden">–</span>Ilustrações: Isadora Pinheiro/SAÚDE é Vital

Um lugar: Cidade na Finlândia adota conceito de saúde planetária

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase uma entre quatro mortes pelo planeta está ligada a condições ambientais. A saída, portanto, seria estruturar cidades capazes de cuidar da saúde das pessoas mas também de zelar pelas questões ecológicas.

+ Leia também: A febre do planeta: como o aquecimento global mexe com a nossa saúde

Foi o que fez o município de Lahti, na Finlândia, pioneiro em unir essas duas pontas.

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<span class="hidden">–</span>Ilustrações: Isadora Pinheiro/SAÚDE é Vital

Um dado: 1 homem morre a cada 10 minutos por abuso de álcool no Brasil

O uso exagerado ou inadequado de bebida alcoólica continua sendo uma chaga. Mais de 50 mil brasileiros perderam a vida em função disso só em 2020, e 76% dos óbitos atrelados ao álcool correspondem ao sexo masculino, segundo análise inédita do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa).

As principais causas de morte são cirrose hepática e acidente de trânsito.

<span class="hidden">–</span>Ilustrações: Isadora Pinheiro/SAÚDE é Vital

Uma frase: Shunmyo Masuno

“Quando compreendemos que a força da vida está além do nosso controle, fica mais fácil reconhecer quantas coisas caem nessa mesma categoria (…) Então é melhor aceitar as coisas que fogem ao nosso controle. Por mais que cuidemos da nossa saúde, ainda assim podemos nos ferir ou adoecer (…) Maldizer o destino não vai restaurar a capacidade física. Só vai tornar os dias mais sombrios (…) Quando você passa a aceitar as coisas sobre as quais não tem controle algum, é capaz de viver com as circunstâncias (…) e poderá lidar com os fatos a partir de uma perspectiva otimista.”

Shunmyo Masuno, mestre zen-budista japonês, no livro Não Se Preocupe — 48 Lições Zen para Aliviar a Ansiedade (Fontanar)

<span class="hidden">–</span>Reprodução/Reprodução

Não se preocupe: 48 lições zen para aliviar a ansiedade

Autor: Shunmyo Masuno

Tradução: Steffany Dias 

Editora: Fontanar 

Páginas: 166

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Avanço médico permite recuperar brasileiros com artrose e dor no quadril

Pacientes com artrose do quadril que, no passado, estavam condenados a passar o resto da vida com dores excruciantes e usando bengala ou andador estão se surpreendendo ao começar a caminhar ainda no hospital, em muitos casos apenas algumas horas após a cirurgia.

Pessoas que sofreram por anos a fio têm dificuldade em acreditar na possibilidade de voltar a ter uma boa qualidade de vida após receber uma prótese de quadril, implante que pode ficar no corpo funcionando bem por muitíssimo tempo. Mas, ainda bem, essa perspectiva existe!

Os resultados dessa revolução silenciosa nos últimos anos foram possíveis devido à incrível evolução na medicina, ao incorporar novos materiais e técnicas cirúrgicas minimamente invasivas.

Infelizmente, seus benefícios ainda não foram tão bem mensurados. Para isso, é preciso calcular o que significa, do ponto de vista econômico e social, devolver para o mercado uma infinidade de brasileiros que padecem com artrose e dor no quadril e ficam incapacitados de trabalhar.

Além disso, cabe destacar que não são poucos os pacientes que não são idosos, mas jovens que, por predisposição genética, problemas devido à prática esportiva ou em decorrência de certas doenças, sofrem da artrose do quadril, que se caracteriza pelo desgaste da cartilagem da cabeça do fêmur e do acetábulo, ou seja, a articulação dessa estrutura.

Esse é um quadro que provoca uma dor que tende a piorar com o tempo e restringir progressivamente a mobilidade. Em alguns casos, genes já identificados predispõem a família inteira a essa doença.

O tratamento comumente se dá por meio de uma cirurgia e a colocação de próteses. É a artroplastia total do quadril (ATQ), realizada com próteses feitas de material de baixa fricção e implantadas com ou sem cimento acrílico.

+ LEIA TAMBÉM: Como é feita uma cirurgia para instalar prótese no quadril?

Progressos recentes promoveram uma redução drástica no risco de infecção ligado ao procedimento e sua relevância fica nítida quando vemos que o periódico médico The Lancet saudou a ATQ como “a operação do século”.

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Tal evolução se reflete também no custo do procedimento. A possibilidade de colocar o paciente andando rapidamente e diminuir ao mínimo o tempo de hospitalização minimiza a incidência de complicações, tornando a operação mais acessível e menos onerosa para os cofres públicos, quando custeada pelo SUS, e ao sistema de saúde suplementar.

Embora os avanços tecnológicos sejam constantes e continuem sendo registrados, os resultados atuais já abrem a possibilidade real de jovens atletas vítimas da osteartrose do quadril voltarem a competir. Bom exemplo é o caso de Álvaro Afonso de Miranda Neto, o Doda, que, após integrar a equipe olímpica brasileira de equitação por cinco vezes, teve que desistir da Olimpíada de Tóquio por causa do problema.

O depoimento que postou na internet certamente levará muitos atletas (e não atletas) a buscarem a cirurgia reparadora. Ele escreveu: “Finalmente fiz a tão sonhada cirurgia do quadril direito. Vinha convivendo há anos com muita dor e falta de mobilidade que impactava não somente no hipismo mas também na minha qualidade de vida para tarefas muitas vezes simples. Já estou me dedicando bastante no trabalho de fisioterapia e não tenho mais dor”.

Doda provavelmente não será o único atleta que, graças a uma ATQ, estará presente na Olimpíada de Paris, no ano que vem.

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* Giancarlo Cavalli Polesello é ortopedista, professor da Santa Casa de São Paulo, médico do Núcleo de Quadril do Hospital Sírio-Libanês e ex-presidente da Sociedade Brasileira do Quadril (2020-2021)

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quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Do beijo do presidente aos ataques de ódio em Brasília

Existem beijos e Beijos, diríamos assim, com “B” maiúsculo. E foi um destes que chamou a atenção no dia da posse do novo presidente da República, ganhando comentários nas rodas de conversa depois de viralizar nas redes sociais.

Não é que outros ex-presidentes não beijassem suas esposas. Eles beijaram. Mas é diferente quando o beijo joga mais para torcida do que para a pessoa beijada.

E quando o beijo exprime um “incomparável afago, carícia voluptuosa”, nas palavras do antropólogo Câmara Cascudo, exercendo uma “função inconfundível e paralela, como as águas do Rio Negro e do Solimões”.

Não é preciso ser psicanalista para entender que um bom beijo faz bem para a alma e para o psiquismo. Um beijo de verdade sempre cria algo que o ultrapassa, que soma e vai além, pois expressa, em ato, toda a força de Eros.

A descoberta freudiana de que a nossa mente é palco de uma disputa entre forças psíquicas opostas, as pulsões de vida e de morte, encontra o equivalente mítico na eterna disputa entre Eros e Tanatos.

+ LEIA TAMBÉM: Outros artigos do blog Relações Simplificadas

Eros, deus grego do amor, representa uma possibilidade de manifestação de nossa humanidade que caminha para a vida, que nos une, que constrói ou reconstrói, que exprime a vitória da vida sobre a morte e que revoluciona.

Em contrapartida, Tanatos personifica a morte, mas, enquanto força pulsional, é um desarticulador. Representa o desmonte, a mentira, o que reduz a realidade a uma série de fragmentos isolados.

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Quando somos capazes de mobilizar nossa força erótica e superar a destrutividade que há em nós em nome da transformação da realidade – considerando todas as nossas limitações enquanto mortais –, podemos dizer que somos melhores que o próprio Eros.

Entretanto, instigar o impulso destrutivo das massas ou se entregar a ele, mentindo ou matando em escala industrial, difundindo o ódio ou destruindo o patrimônio de um povo, igualmente também nos torna piores do que Tanatos.

Essa é a monstruosidade que vemos no nazismo. Em Psicologia de Massas do Fascismo (Martins Fontes), o psicanalista austríaco Wilhelm Reich lembra que, se há o nazista, há também o zé-ninguém que compõe a turba enfurecida que vimos destruindo recentemente a Praça dos Três Poderes em Brasília.

Diz Reich: “A mentalidade fascista é a mentalidade do zé-ninguém, que é subjugado, sedento de autoridade e, ao mesmo tempo, revoltado. Não é por acaso que todos os ditadores fascistas são oriundos do ambiente reacionário do zé-ninguém. O magnata industrial e o militarista feudal não fazem mais do que aproveitar-se deste fato social para os seus próprios fins, depois de ele se ter desenvolvido no domínio da repressão generalizada dos impulsos vitais.”

O fascista acha que pode combater um vírus com bravata e gritaria, acusações e mentiras. Ele nunca é revolucionário. Revolucionário é o cientista disciplinado, que observa e testa, experimenta e pesquisa, teoriza e encontra a cura.

Todo o trabalho engajado do cientista requer uma paixão, um grande investimento de energia psíquica de Eros, capaz de organizar os seus esforços na criação de uma nova realidade, melhor para todos.

Um beijo apaixonado de um presidente é simbólico, pois o resgate da força de Eros dentro de nossas mentes pode ser reparador. Sem esquecer que isso também passa pela materialização de uma realidade digna, que permita a cada pessoa viver os seus impulsos vitais de maneira saudável, iluminada pela cultura e pela ciência.

O caminho da promoção do equilíbrio psíquico é sempre uma boa estratégia de combate ao fascismo.

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Pintura de Munch que foi escondida dos nazistas em uma floresta vai à leilão pela primeira vez em 90 anos

Com 4 metros de comprimento e pintada em 1906, Dance on the Beach ficou escondida dentro de um celeiro em uma floresta norueguesa desde 1940. Depois de sobreviver à Segunda Guerra Mundial, o quadro de Edvard Munch será disponibilizado para leilão em março – com um valor estimado entre US$ 15 e US$ 25 milhões.

A pintura foi inicialmente comissionada pelo diretor de teatro Max Reinhardt, para seu teatro de vanguarda em Berlim, onde seria parte de um conjunto de 12 grandes painéis. Mas passou por mais algumas mãos até chegar aos dias de hoje.

Com a reforma do teatro de Reinhardt, em 1912, o quadro foi retirado e adquirido por Curt Glaser, um crítico de arte, colecionador, historiador e amigo pessoal de Munch. Glaser e sua esposa, Elsa, acumularam uma extensa coleção particular de arte. Ele também foi diretor da Biblioteca Estadual de Arte de Berlim, e publicou a primeira monografia alemã sobre Munch.

Com o início do regime nazista em 1933, Glaser, que tinha origem judaica, perdeu o emprego e teve o apartamento confiscado. Obrigado a vender sua coleção, ele fugiu para a Suíça e depois foi rumo aos Estados Unidos, onde morreu em 1943.

Poucos meses depois da fuga de Glaser, outro amigo de Munch pôs as mãos nas peças. Thomas Olsen, um magnata norueguês da navegação que era vizinho do artista, comprou Dance on the Beach e outros quadros em um leilão em Oslo.

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Olsen juntou uma impressionante coleção de Munch, com cerca de 30 obras, incluindo uma das quatro versões do famoso O Grito. Quando o Reino Unido declarou guerra à Alemanha, em 1939, Olsen temeu pela sua coleção e a escondeu em um celeiro remoto na floresta norueguesa – o estilo de arte de Munch era considerado pelos nazistas uma “arte degenerada”, que deveria ser reprimida.

A pintura de 4 metros sobreviveu à Segunda Guerra Mundial e vai ser leiloada em Londres.Sotheby's/Reprodução/Divulgação

A obra apresenta uma colorida paisagem norueguesa com várias figuras dançantes. As duas mulheres no primeiro plano representam dois casos amorosos de Munch – Tulla Larsen e Millie Thaulow – que terminaram ambos em desgosto.

Da série de pinturas do teatro, Dance on the Beach é a única que está em posse privada – as outras estão em museus pela Alemanha. Em 1º de março, a peça será vendida em um leilão em Londres.

Antes, será exposta ao público pela primeira vez desde 1979, com uma exposição em na capital inglesa, além de instalações digitais em Hong Kong e Nova York. Como parte de um acordo, os lucros do leilão serão divididos entre os descendentes das famílias Olsen e Glaser, as principais patrocinadoras de Munch.

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Asteroide vai passar a distância recorde da América do Sul nesta quinta (26)

Um asteroide recém-descoberto vai passar a aproximadamente 3,6 mil quilômetros da América do Sul na noite desta quinta-feira (26). Segundo a Nasa, a expectativa é que ele se aproxime logo após as 21h, no horário de Brasília, e atinja sua altitude mais baixa às 21h27.

Essa é uma das maiores aproximações que um objeto espacial já fez com a Terra, entre aquelas de que se tem registro. Para se ter uma ideia, os satélites de telecomunicações e outros geossíncronos – isto é, que acompanham a rotação do planeta – ficam a 36 mil quilômetros acima de nós (é a faixa em verde na imagem acima). A trajetória do pedregulho espacial, portanto, será 10 vezes mais próxima (a faixa vermelha na imagem).

O asteroide, batizado de 2023 BU, é relativamente pequeno: tem entre 3,5 e 8,5 metros de diâmetro. Esse é um dos motivos pelos quais os astrônomos da Nasa estão afirmando que não há com o que se preocupar: não há chance de que ele atinja o planeta, mesmo se chegar mais perto do que o previsto.

Se o 2023 BU passar por aqui a menos de 3,6 mil quilômetros de distância, entrará em contato com camadas mais baixas e densas da atmosfera terrestre. Ele certamente se desintegrará, e o máximo que pode acontecer seria uma chuva dos detritos restantes – que apareceriam por aqui como pequenos meteoritos.

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Descoberta e futuro do asteroide

O asteroide foi descoberto neste sábado (21) por um astrônomo amador, chamado Gennady Borisov, a partir do observatório Margo, na Crimeia (península ucraniana anexada pela Rússia em 2014). Em alguns dias, a descoberta foi anunciada pela Minor Planet Center – uma organização internacionalmente reconhecida por observar e relatar asteroides e outros pequenos objetos espaciais no Sistema Solar. Em seguida, astrônomos de outras partes do mundo fizeram dezenas de observações para definir melhor a trajetória do 2023 BU.

Não é a primeira vez que Borisov faz uma descoberta notável. Em agosto de 2019 ele avistou, também da Crimeia, um cometa que acabou recebendo seu nome. O C/2019 Q4 (Borisov) parece ter se originado fora do Sistema Solar e viaja no espaço a uma distância maior da Terra – não se aproximando mais do que 300 milhões de quilômetros. 

O 2023 BU, por outro lado, vai chegar tão perto que seu caminho deve ser alterado drasticamente pela gravidade terrestre. Acredita-se que, antes de encontrar nosso planeta, o asteroide estava orbitando o Sol de tal maneira que completaria uma volta ao redor do astro-rei em 359 dias. Depois desta noite, sua órbita deve ficar mais alongada. Passando entre as órbitas de Terra e Marte, ele deve completar uma volta no Sol em 425 dias.

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