quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Conheça o primeiro exoplaneta descoberto com o telescópio James Webb

“Ainda que não estejamos realmente sozinhos [no universo], para todos os fins práticos estamos”, escreveu o jornalista americano Bill Bryson. Ele recorre a Carl Sagan para fundamentar sua afirmação: o astrônomo pop calculou que o número de planetas prováveis seria de 10 bilhões de trilhões. E que, portanto, se fôssemos inseridos aleatoriamente no universo, as chances de estarmos num planeta (ou perto de um deles) seriam inferiores a uma em 1 bilhão de trilhões de trilhões – 1 seguido de 33 zeros.

Mas a solidão do nosso mundo é também uma questão de perspectiva. Tome de exemplo a Via Láctea: uma estimativa baseada em dados do Telescópio Espacial Kepler, da Nasa, mostrou que existem mais planetas do que estrelas por aqui. Existiriam mais de um trilhão deles. Sara Seager, professora do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (o MIT) e pioneira na pesquisa de exoplanetas – isto é, planetas fora do Sistema Solar – afirma que eles estão por toda parte.

Recentemente, o Telescópio Espacial James Webb fez a sua primeira descoberta de um exoplaneta. Ele se chama LHS 475 b. Vamos conhecê-lo.

Como é o planeta

O LHS 475 b está a 41 anos-luz da Terra – nove vezes mais distante que a Alpha Centauri, a estrela mais próxima da Terra depois do Sol. O planeta é bem parecido com o nosso em alguns aspectos. Para começar, é terrestre – ou seja, composto essencialmente por rochas e metais, com um núcleo rico em ferro (no Sistema Solar, Mercúrio, Vênus Terra e Marte são assim). É um grupo seleto: dos 5.241 exoplanetas descobertos, apenas 193 são terrestres.

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Em segundo lugar,o LHS 475 b é praticamente do tamanho da Terra: tem 99% de seu diâmetro. Mas está muito mais próximo de sua estrela, por isso é mais quente que nosso planeta. Enquanto a Terra leva 365 dias para dar uma volta completa ao redor do Sol, ele leva apenas dois dias para orbitar uma anã vermelha – um tipo de estrela comum no universo, que tem aproximadamente metade da massa do nosso Sol (ou menos).

Os astrônomos que observaram o LHS 475 b, liderados por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins (EUA), ainda não puderam tirar conclusões definitivas sobre a existência de uma atmosfera em torno do exoplaneta. Dada sua sensibilidade, o James Webb é o único telescópio em operação capaz de caracterizar camadas de gases em planetas do tamanho da Terra. Isso não quer dizer, claro, que esta seja uma tarefa fácil.

Segundo os pesquisadores, o LHS 475 b pode ter uma atmosfera composta inteiramente por dióxido de carbono (CO2), por exemplo. O problema é que esse tipo de camada, bem compacta, é difícil de se detectar. Para coletar mais dados para investigar essa questão, a equipe fará novas observações no inverno deste ano. Se encontrarem nuvens ao redor do LHS 475 b, poderão concluir que ele é, na verdade, mais parecido com Vênus, que tem temperaturas mais altas do que a Terra, atmosfera de CO2 e está sempre envolto em nuvens espessas.

Para recolher as informações sobre o exoplaneta, os astrônomos observaram duas vezes o LHS 475 b viajando ao redor de sua estrela. A partir do nosso ponto de vista, o planeta passa na frente da anã vermelha e, assim, diminui a luz dela que chega até nós. Analisando essa curva de luz, os astrônomos conseguem detectar a existência de um exoplaneta, além de determinar seu tamanho, seu período orbital, a massa de sua estrela, a composição de sua atmosfera e mais um punhado de coisas.

O James Webb é o maior e mais complexo telescópio espacial que a humanidade já construiu. Ele começou a operar em julho de 2022 e deve continuar em funcionamento por, no mínimo, dez anos. Esta primeira descoberta de um exoplaneta é uma amostra do que ele pode fazer e abre as portas para diversas investigações futuras, segundo Mark Clampin, diretor da Divisão de Astrofísica na sede da Nasa em Washington (EUA). “Webb está nos aproximando cada vez mais de uma nova compreensão sobre mundos semelhantes à Terra fora do nosso Sistema Solar. E a missão está apenas começando.”

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