Banheiras e mesas de mármore enfeitam o jardim de uma casa repleta de afrescos. Há estátuas e pinturas de figuras da mitologia grega por toda parte. Tudo parece em tão perfeita ordem que é difícil imaginar que a construção é do século 2 a.C. e foi por cinzas abaixo na erupção do Monte Vesúvio em 79 d.C.
A Casa dos Vetti, como é conhecido o lugar, era uma residência num bairro nobre da cidade de Pompeia, no sul da Itália. Agora, depois de uma restauração caprichada, tornou-se uma das casas mais icônicas da região cheia de ruínas. “Ela representa a casa pompeiana por excelência, não só pelos afrescos de importância excepcional, mas também por sua arquitetura”, disse Arianna Spinosa, que liderou o projeto.
A casa apareceu em escavações arqueológicas realizadas entre 1894 e 1896. As reformas começaram em 2002 e resolveram problemas estruturais relacionados a telhados e afins. O lugar abriu parcialmente para turistas em 2016, mas fechou em 2020. Foi quando se deu a fase final dos reparos, que consertou piso, colunas e os afrescos das paredes.
A restauração enfim terminou, e a reinauguração da Casa dos Vetti aconteceu na última terça (10). Especialistas afirmam que esse é mais um sinal do renascimento da cidade histórica, que por décadas foi alvo da negligência e burocracia modernas, saques e inundações.
Muito prazer, Vettii
Quem seriam os donos de uma casa super ornamentada em um bairro nobre de Pompeia? Aulus Vettius Restitutus e Aulus Vettius Conviva, dois homens que se libertaram da condição de escravos e se tornaram comerciantes de vinhos e produtos agrícolas. Não era incomum que ex-escravizados prosperassem na antiga Pompeia – e foi exatamente o que rolou com essa dupla.
Os nomes iguais indicam um passado em comum. Acredita-se que os dois se tornaram amigos enquanto trabalhavam para um mesmo homem, chamado Aulus Vettius. “Restitutus” significa “restaurado” em latim. E “Conviva” significa “convidado” ou, literalmente, alguém que vive com outra pessoa. Eram nomes comuns para quem recebia a alforria.
Segundo Gabriel Zuchtriegel, diretor do sítio arqueológico de Pompeia, a julgar pela Casa dos Vettii, os homens “tiveram uma carreira incrível depois [de anos na escravidão] e alcançaram os mais altos escalões da sociedade local, pelo menos economicamente”. “Eles evidentemente tentaram mostrar seu novo status também por meio da cultura e das pinturas mitológicas gregas [que existem na casa]”, acrescentou.
O interior da casa
Há afrescos por toda parte na Casa dos Vettii. Um deles, bem na entrada, retrata Priapo, o deus grego da fertilidade e da abundância, filho de Afrodite e Dionísio. Ele tem um grande pênis que se equilibra, em uma balança, com um saco cheio de moedas.
No cômodo que seria a sala de estar dos comerciantes, um afresco retrata Hércules quando criança, esmagando duas cobras. Segundo a mitologia grega, Hera as enviou para matar o semideus porque estava furiosa com sua existência, fruto da união entre seu marido, Zeus, e uma mortal.
Em outro cômodo, que seria a sala de jantar, um friso de 15 centímetros de altura corre ao longo da parede e retrata cupidos realizando atividades diversas – como a produção de perfumes, venda de vinhos e muito mais. Também aparecem casais e deuses nessas paredes, como Poseidon (o deus grego do mar).
A Casa dos Vettii também tem obras eróticas, como o que você vê abaixo, em uma pequena sala próxima à cozinha. Acredita-se que ali teria funcionado um pequeno bordel. Mas um bordel com regras: na entrada da casa, há uma inscrição com o nome grego de uma mulher, descrita como dona de “boas maneiras”, ao lado de duas moedas romanas.
Conheça a Casa dos Vettii, que pertenceu a dois ex-escravizados de Pompeia Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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