Uma semana após a Pfizer divulgar que a vacina que desenvolve em parceria com alemã BioNtech tem eficácia de 90% contra a Covid-19, foi a vez da Moderna fazer um anúncio parecido.
Nesta segunda (16), a farmacêutica americana afirmou, em um comunicado, que sua candidata a vacina também teve sucesso quando testada em um grupo grande de pessoas – o que os cientistas chamam de “fase 3”. Segundo resultados preliminares, ela impede que 94,5% das pessoas vacinadas contraiam o novo coronavírus.
No estudo feito pela Moderna, 30 mil voluntários que vivem nos Estados Unidos foram divididos em dois grupos. 15 mil foram vacinados e a outra metade serviu de grupo controle (placebo) – ou seja, recebeu uma substância que não faz efeito nenhum. Todos os participantes do experimento seguiram as suas vidas normalmente, sem saber em que grupo estavam. Depois, os cientistas contaram o número de pessoas que foram infectadas pelo vírus após algumas semanas.
No grupo dos que não tomaram a vacina, 90 voluntários (ou 0,6% do total) contraíram a doença. Já no grupo dos que tomaram a vacina, só 5 pessoas (0,03%) testaram positivo. Isso permite calcular que a vacina da Moderna protege, em média, 94,5% dos seus usuários. Comprovar uma eficácia acima dos 90% é um resultado e tanto. Conforme explicado neste texto da SUPER, a porcentagem mínima esperada para uma vacina contra o Sars-CoV-2 é de 50%.
Moderna x Pfizer
Os dois modelos mais promissores de vacina funcionam da mesma forma: usam uma versão sintética do material genético do coronavírus para que as nossas células produzam pedacinhos dele – pedacinhos alienígenas que chamam a atenção do sistema imunológico.
Isso é possível graças ao chamado mRNA (ou RNA mensageiro). O tal mRNA funciona como uma receita de bolo. Quando é inserido num paciente via vacina, ele engana o maquinário de suas células, que interpretam a receita e começam a produzir cópias de proteínas do vírus – como se isso fosse uma tarefa que elas devessem cumprir normalmente.
Pedaços de um corpo estranho dentro do organismo, sendo replicados aos montes, geram uma resposta em forma de anticorpos: proteínas produzidas por nossas células de defesa sob medida para aderir ao corpo estranho. A receita para fabricar esses anticorpos, depois que eles são utilizados, fica armazenada por células de memória – que são reativadas toda vez que a ameaça reaparece.
Ou seja: o objetivo da vacina é criar essa memória sem expôr o corpo a um risco verdadeiro. Caso o paciente imunizado tenha contato com o coronavírus e seja infectado para valer no futuro, suas defesas já saberão como agir para derrotá-lo. Por isso, a pessoa vacinada não fica doente. Até então, não se sabia ao certo se o mRNA era mesmo um bom jeito de fazer uma vacina. Era uma ideia promissora, mas que nunca havia sido empregada na prática.
Apesar de funcionarem da mesma maneira, as vacinas têm diferenças quanto à sua logística – um ponto importante a ser considerado numa pandemia. Para a vacina da Pfizer, a temperatura ideal de armazenamento e transporte fica por volta dos – 70 ºC. Isso demandaria freezers mais potentes que os convencionais, usados em postos de vacinação, para garantir a validade da vacina, estimada em 15 dias.
A vacina desenvolvida pela Moderna, por outro lado, precisa de menos frio: – 20 ºC já seriam suficientes. De acordo com a empresa, o imunizante pode ficar até 12 horas em temperatura ambiente, e dura até 30 dias sob refrigeração.
Antes de mobilizarem uma operação global de vacinação, no entanto, as duas vacinas ainda precisam responder algumas perguntas. Os resultados dos experimentos ainda não foram divulgados em revistas científicas – e, portanto, uma série de questões ainda seguem em aberto. Idosos e crianças são imunizados da mesma forma, ou a proteção pode variar de acordo com a faixa etária? Pacientes permanecem imunizados mesmo se forem expostos a uma carga alta de vírus? A expectativa é que cientistas tenham mais informações sobre esses pontos em breve.
Os resultados promissores podem agilizar o processo de regulamentação de seu registro. A ideia da Moderna é, assim como divulgado pela Pfizer, pedir autorização de emergência junto à Food and Drug Administration (órgão equivalente à Anvisa nos EUA) para a produção e uso da vacina em larga escala – o que pode acontecer já nas próximas semanas.
A empresa planeja produzir ao menos 20 milhões de doses nos Estados Unidos até o fim deste ano. Antes disso, no entanto, a vacina precisa se mostrar segura nos testes ao longo de dois meses. Para 2021, a expectativa é alavancar a produção, atingindo pelo menos 500 milhões de doses.
E o Brasil?
Até o fechamento deste texto, ainda não havia conversas quanto à liberação do uso da vacina da Moderna no Brasil. Quanto à versão feita pela Pfizer, as estimativas é que ela esteja disponível por aqui até março de 2021, segundo disse o presidente da empresa no último dia 11 de novembro. Acredita-se que o preço da vacina deva ser reduzido no Brasil, em comparação a outros países, devido à crise econômica.
No fim de outubro, a Anvisa disse ter recebido um pedido de avaliação de documentos sobre a vacina Sputnik V, outra candidata a imunizante que já está na fase 3 de testes. Desenvolvida pelo instituto russo Gamaleya, ela foi a primeira vacina contra Covid-19 registrada no mundo, em agosto, e também declara ter mais de 90% de eficácia. 92% das pessoas imunizadas com a Sputnik V ficam livres do vírus, segundo um comunicado emitido no dia 11 de novembro.
Uma semana antes, a farmacêutica brasileira União Química disse ter assinado um acordo com o governo russo para produção da vacina, ainda na segunda metade de novembro. O governo do Paraná também assinou um memorando de cooperação para ter acesso à vacina russa.
Diferentemente das vacinas da Moderna e da Pfizer, a quantidade de pessoas que contraíram a doença em testes preliminares é pequeno – foram apenas 20 em um grupo de 40 mil voluntários. De acordo com cientistas, a vacina russa também ainda precisa ser mais transparente na divulgação de seus protocolos, dando acesso a detalhes de experimentos da fase 3.
As semelhanças (e diferenças) entre as vacinas da Moderna e da Pfizer Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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