No ano da Covid-19, outra infecção ganhou os holofotes com o anúncio do Prêmio Nobel de Medicina, a hepatite C. Os cientistas que descobriram o vírus que ataca o fígado receberam a distinção em 2020. A hepatite C é um problema de saúde pública: 180 milhões de pessoas estão infectadas no mundo hoje. Ela ainda é a principal causa de cirrose e transplante de fígado.
Conversamos com o hepatologista Tercio Genzini, da Unidade Vergueiro do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, para entender os meandros dessa doença — desde o contágio até os graves problemas no fígado. Visualize essa história.
A origem
O vírus da hepatite C se vale do sangue (e, às vezes, de outras secreções) para invadir o corpo humano. Isso pode acontecer pela transfusão de material contaminado — algo difícil de ocorrer hoje devido às medidas de segurança —, pelo compartilhamento de seringas e outros instrumentos cortantes e em relações sexuais. Mais raramente, há transmissão da mãe ao bebê no parto.
A atração
Uma vez na corrente sanguínea, o vírus tem vocação nata para se dirigir às células do fígado, os hepatócitos, e infectá-los. Lá nesse órgão, ele se apodera das células, despejando seu material genético dentro delas. Ao utilizar nosso maquinário celular, o patógeno se multiplica e as cópias virais saem dali para infectar outros hepatócitos.
O ataque
Ciente de que há algo errado no fígado, o organismo se defende liberando substâncias de ação antiviral e desatando um processo inflamatório. Só que, na maioria dos casos, a reação não dá conta. A inflamação local, somada à agressão e à replicação do vírus, leva à destruição progressiva dos hepatócitos — aliás, “hepatite” significa inflamação no fígado.
A falência
O fígado é um dos órgãos mais resistentes do corpo. Ele pode receber porrada por um tempão sem pedir arrego ou manifestar sintomas. Quando os sinais da hepatite crônica aparecem (fadiga, inchaço abdominal, pele amarelada…), não raro o fígado está a caminho da bancarrota. Anos e anos de inflamação e destruição levam o tecido a perder suas características e funções. É a cirrose.
Outro perigo
Esse tempo todo de agressão ainda eleva o risco de células se multiplicarem desordenadamente, dando origem a um câncer de fígado, que pode avançar, se espalhar e levar o indivíduo ao colapso. Sem que o órgão possa trabalhar direito, funções importantes como a desintoxicação do corpo e a coagulação do sangue acabam prejudicadas.
O diagnóstico
Faça o exame de sangue para rastrear o vírus da hepatite C se…
- …tiver mais de 40 anos
- …conviver com diabetes
- …apresentar outras doenças do fígado, nos rins ou no sangue
- …faz hemodiálise
- …tem HIV e faz tratamento
- …tiver feito transfusão de sangue ou transplante de órgão até 1992
- …usou drogas injetáveis
- …fez tatuagens em ambientes não regulamentados
- …tem parceiro(a) com hepatite C
- …tem histórico de abuso de álcool
- …é profissional do sexo
O tratamento
A evolução nos medicamentos permite que hoje se fale na cura da doença.
Interferon
O remédio injetável já foi mais usado, em associação com outros, para conter o vírus e a inflamação.
Antivirais
A primeira geração conseguiu melhorar o controle ao inibir uma proteína importante à replicação viral.
Novos antivirais
Os antivirais de ação direta revolucionaram a história: levam mais de 90% dos casos à remissão.
Transplante
É o último recurso, quando o caso está avançado ou o paciente não responde a remédios.
O que a hepatite C é capaz de provocar? Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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