domingo, 26 de setembro de 2021

A evolução no diagnóstico e no tratamento da hipertensão

Consequência de maus hábitos, como sedentarismo e alimentação inadequada, ou, ainda, de fatores genéticos, a hipertensão é uma doença crônica caracterizada pelos níveis elevados da pressão nas artérias. Atualmente, consideramos um quadro hipertensivo quando a pressão do paciente, em residência, está igual ou maior que 130 por 80 mmHg (13 por 8), e, em consultório, 140 por 90mm Hg (14 por 9).

Essa pressão à qual nos referimos é a força que faz com que o sangue circule pelas artérias e chegue a todos os tecidos. A medida dela é a confirmação da capacidade de a hipertensão lesionar alguns órgãos.

Há tempos sabemos que precisamos controlar a pressão para manter a saúde e prevenir doenças cardiovasculares. O que pouca gente sabe é que o primeiro aparelho de uso clínico para medição foi inventado lá em 1896, pelo italiano Scipione Riva-Rocci. O esfignomanômetro – termo cuja origem vem de sphygmos (pulso) – é muito semelhante ao que utilizamos até hoje.

À época, Riva-Rocci afirmou que escolheu a artéria do braço por ser um ponto mais próximo à aorta (artéria que passa pelo tórax e o abdômen). A técnica foi considerada revolucionária, embora aferisse apenas a pressão sistólica (máxima) e não a diastólica (mínima). Em 1905, Nikolai Korotkov, cirurgião militar russo, criou o método de ausculta, com estetoscópio e manguito, ainda hoje empregado em nossa rotina.

Os tratamentos demoraram um pouco mais a aparecer. Até 1950, não havia medicamento efetivo para hipertensão. O tratamento era feito à base de papaverina, sedativos e aminofilina, e o que havia de mais eficaz era a “dieta do arroz”, criada pelo cientista Walter Kempner em 1939. Nessa época, metade dos hipertensos graves morria de insuficiência cardíaca.

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Nos anos que se seguiram, vieram medicações com efeitos animadores, como os diuréticos e o captopril – primeiro da classe de inibidores da enzima conversora da angiotensina, desenvolvida a partir de uma substância encontrada no veneno da jararaca, que age impedindo a constrição dos vasos sanguíneos. Depois disso, vieram betabloqueadores, como propranolol e bisoprolol, bloqueadores de canal de cálcio, entre outros.

Em relação à alimentação, sempre se soube quanto o consumo de sal era nocivo, já que faz o corpo reter líquido e aumentar o volume de sangue nas artérias. Após alguns estudos, também foi possível comprovar que uma dieta rica em grãos integrais e vegetais em geral poderia contribuir para o controle da pressão. É aí que, na década de 1990, desponta a DASH, sigla em inglês de Abordagem Dietética para Frear a Hipertensão. Os ajustes à mesa, portanto, vão muito além do sal.

Entre os diversos medicamentos receitados hoje, podemos citar alguns diuréticos, como a clortalidona, a hidroclorotiazida e a furosemida, além de compostos que continuam sendo desenvolvidos para o controle da pressão. Estudos recentes demonstraram, por exemplo, que uma dose única de bisoprolol e anlodipino pode melhorar a adesão ao tratamento – fator fundamental para que a hipertensão não prejudique a saúde.

Já são mais de 60 milhões de pessoas convivendo com a hipertensão no Brasil, e a preocupação sobre os seus riscos e impactos aumenta com as novas gerações. Segundo o Ministério da Saúde, o número de jovens hipertensos subiu mais de 14% nos últimos dez anos.

Uma coisa é certa: boa alimentação, atividade física e medicamentos adequados fazem toda a diferença no controle da pressão arterial e previnem doenças. E, na prática médica, vale sempre avaliarmos caso a caso, a fim de entender o que pode funcionar para cada um.

* Lídia Ana Zytynski Moura é cardiologista, professora da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e coordenadora clínica do Serviço de Insuficiência Cardíaca da mesma instituição


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