quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Impressão de mãos infantis pode ser a arte pré-histórica mais antiga do mundo

Para alguns cientistas, um pedregulho contendo pegadas e marcas das mãos é tão importante quanto uma escultura de Michelangelo. O que está em jogo não é o refinamento da obra, mas a história por trás da criação: as marcações surgiram muito antes do que qualquer artista – na verdade, podem ter surgido antes de qualquer humano moderno. 

Uma pesquisa publicada no periódico Science Bulletin descreve o que pode ser a arte pré-histórica mais antiga do mundo. Marcações de pés e mãos fossilizadas no Planalto Tibetano datam de 169 mil a 226 mil anos a.C., segundo pesquisadores da Universidade de Guangzhou, na China. De acordo com a análise, elas devem ter sido feitas por crianças.

A datação ultrapassa qualquer registro de arte pré-histórica conhecido. Para efeito de comparação: uma intervenção artística recentemente atribuída aos neandertais foi feita há 64,8 mil anos, enquanto o desenho de um javali, tido como a arte figurativa mais antiga do mundo, tem 45,5 mil anos.

As evidências fossilizadas foram encontradas em 2018 na região de Quesang, no alto do Planalto Tibetano. As marcas estavam empregadas em uma rocha calcária chamado travertino, comumente usada em ladrilhos de banheiro. Havia uma fonte termal no local, que parece ter depositado os sedimentos para formar a rocha. As pegadas foram deixadas na lama quando o calcário ainda não havia endurecido completamente. 

Levando em conta o tamanho dos traços, os cientistas acreditam que as marcações foram feitas por duas crianças, uma de sete e outra de 12 anos de idade, que estavam brincando na poça. Os pesquisadores consideram  o fóssil como arte devido a disposição das pegadas, que parecem ter sido empregadas de maneira cautelosa e intencional. No total, há cinco marcas de mão e cinco pegadas na pedra.

<span class="hidden">–</span>Zhang et al., Science Bulletin/Reprodução

Não é possível afirmar a qual espécie de hominídeo estas crianças pertenciam, mas os cientistas têm um chute: em outubro de 2018, foi publicado um estudo sobre descoberta de material genético de hominídeos denisovanos no Tibete. É possível que os pequenos artistas fizessem parte dessa espécie.

Além de ser possivelmente a arte mais antiga do mundo, o fóssil também é a evidência mais antiga de humanos (ou ancestrais diretos de humanos) ocupando o Planalto Tibetano. A época em questão remonta ao Pleistoceno médio, período em que a Terra estava passando por uma glaciação. A presença de hominídeos onde é hoje Quesang impressiona os cientistas, já que o local fica a uma elevação de 4,2 mil metros em relação ao nível do mar – provavelmente um ambiente frio e pouco agradável. 

Nem todos os pesquisadores defendem que o achado é arte. Eduardo Mayoral, um paleontólogo da Universidade de Huelva (Espanha) não envolvido no estudo, disse à NBC News que acha “difícil pensar que há uma ‘intencionalidade’ neste design”. Michael Petraglia, arqueólogo e antropólogo do Instituto Max Planck (Alemanha) também não envolvido no estudo, seguiu um caminho parecido. Ele explicou à emissora que são necessárias mais evidências para fazer uma afirmação como esta, acrescentando que as pegadas podem ter sido gravadas na rocha após sua formação original, o que coloca também a datação em jogo.


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