Abdulrazak Gurnah nasceu nas ilhas de Zanzibar, na Tanzânia, no ano de 1948. Ele cresceu por lá, mas foi obrigado a se refugiar na Inglaterra na década de 1960 – o arquipélago em que vivia passou por uma revolução que culminou na perseguição de cidadãos de origem árabe.
Gurnah começou a escrever aos 21 anos. Desde então, publicou dez livros e trabalhou como professor de inglês e literaturas pós-coloniais na Universidade de Kent, na Inglaterra, até sua recente aposentadoria. Agora, aos 73 anos, ele ganhou o Nobel de Literatura para fechar o currículo.
O anúncio da vitória foi feito na manhã desta quinta-feira (7), rendendo a Gurnah a recompensa de 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,1 milhões). Das 118 pessoas que já receberam o prêmio, ele é apenas o quinto de origem africana (o último autor negro africano a levar o Nobel de Literatura havia sido o nigeriano Wole Soyinka, em 1986).
Em nota, o Comitê do Nobel atribuiu o prêmio de Gurnah à ” sua penetração intransigente e compassiva dos efeitos do colonialismo e do destino do refugiado no abismo entre culturas e continentes.” O autor, que passou por desafios similares aos de seus personagens, explora em seus livros as dificuldades e preconceitos enfrentados por imigrantes.
Apesar de sua língua materna ser o suaíli, Gurnah adotou o inglês como língua literária. Alguns de seus trabalhos foram traduzidos para o sueco, francês e até mesmo para o alemão, mas, infelizmente, ainda não há obras dele em português. Mesmo assim, preparamos um breve resumo de alguns de seus livros mais marcantes. Agora resta torcer para que alguma editora traga o conteúdo para cá.
Memory of Departure (1987)
Memory of Departure (“Memória de Partida”, em tradução livre) foi o primeiro livro publicado por Gurnah, quando o autor tinha 39 anos. A história, que se passa em uma cidade costeira da África Ocidental, mostra como a pobreza e a depravação causaram estragos na família de Hassan Omar, protagonista e narrador da obra.
Em determinado momento da narrativa, Hassan sai de sua casa e vai viver com um tio rico em Nairóbi, capital do Quênia. Lá, descobre não só os luxos da vida, mas também tem acesso à corrupção e à hipocrisia.
Paradise (1994)
Paradise (“Paraíso”) conta a história de Yusuf, um menino que vive na Tanzânia. Na obra, o jovem é penhorado pelo pai em troca de uma dívida e acaba se tornando servo de um comerciante. O pano de fundo do enredo mostra uma África corrompida pelo colonialismo e pela violência.
A obra rendeu a Gurnah o Prêmio Booker, concedido anualmente ao melhor romance escrito em inglês e publicado no Reino Unido ou na Irlanda. Paradise foi o que catapultou o sucesso do tanzaniano – e parece ter sido decisivo para o seu Nobel.
By the Sea (2001)
By the Sea (“Pelo Mar”) conta a história de dois imigrantes africanos que vivem no Reino Unido, mas em situações bem diferentes. Enquanto um deles está pedindo asilo na Inglaterra, o outro já está estabelecido no país e atua como professor de literatura. No entanto, ambos estão ligados por uma história do passado. O livro também chegou a ser indicado ao Prêmio Booker, mas não levou.
Afterlives (2020)
Afterlives (algo como “Vidas Depois da Morte”) é o livro mais recente de Abdulrazak Gurnah. A obra foca em mostrar até que ponto o colonialismo pode afetar os indivíduos. Para isso, aborda diversos períodos da história da Tanzânia, desde a exploração da Alemanha (entre os séculos 19 e 20) até a colonização britânica e a conquista da independência, em 1961. Tudo isso usando como base a trajetória do personagem Ilyas, um homem que, quando criança, foi vendido por seus pais às tropas alemãs.
Conheça os livros de Abdulrazak Gurnah, vencedor do Nobel de Literatura de 2021 Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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