Você tem dores abdominais frequentes, impressão de má digestão, observa alteração do funcionamento intestinal e se sente cansado com frequência.
Embora comuns em pacientes com doença celíaca, esses sintomas também são observados com frequência em outras desordens gástricas ou intestinais. Daí a dificuldade que muita gente enfrenta para receber o diagnóstico correto.
A doença celíaca é um quadro autoimune crônico, que afeta o intestino de pessoas com pré-disposição genética, e que se manifesta quando o glúten faz parte da alimentação.
Os bastidores do problema
Tudo o que comemos é digerido no estômago e/ou intestino, para, então, ser absorvido e utilizado pelas nossas células. O glúten é um tipo de proteína que dá elasticidade a alimentos como o pão. Só que ele contém alguns componentes que não são totalmente digeridos pelo estômago nem absorvidos ao chegar no intestino.
A presença desses elementos no intestino pode gerar, em algumas pessoas, uma resposta imunológica de defesa, com reflexo negativo nas células da parede intestinal. Esse processo define a doença celíaca.
Ela atinge, em média 1% da população mundial. No entanto, sua prevalência tem aumentado ao longo dos últimos 50 anos devido principalmente ao avanço nas técnicas de diagnóstico e à melhor avaliação clínica de indivíduos com fatores de risco para a doença.
Sabe-se, por exemplo, que familiares de primeiro grau de pessoas com doença celíaca têm maior probabilidade de desenvolvê-la – assim como aqueles que têm diabetes tipo 1 ou qualquer outra doença autoimune.
Os sintomas da doença celíaca podem surgir em qualquer fase da vida, sendo que a maioria dos diagnósticos acontece após os 20 anos de idade – muitas vezes após algum gatilho, como como infecções gastrointestinais, uso de medicamentos ou intervenções cirúrgicas.
Por se tratar de uma condição crônica, o tratamento deve seguir por toda a vida. Portanto, a doença celíaca afeta diretamente o dia a dia das pessoas.
Como saber se é doença celíaca mesmo?
O diagnóstico deve ser feito pelo médico, que combina avaliação clínica de sinais e sintomas, testes sanguíneos e exames, como endoscopia e biópsia do intestino.
Fazem parte da sintomatologia: diarreia, dor abdominal, perda de peso, desaceleração do crescimento (em casos de crianças e adolescentes), pirose (azia), vômito e até dores de cabeça e enxaqueca.
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Como a doença celíaca causa uma alteração da parede intestinal, isso contribui para a deficiência de vitaminas e minerais – com ênfase em ferro, vitamina D, vitamina B12 e ácido fólico. Por isso, os sintomas decorrentes do déficit de cada um desses nutrientes também podem ser observados.
Diante da suspeita da doença, o médico poderá solicitar exames sanguíneos de avaliação de alguns componentes imunológicos que indicam haver intolerância ao glúten, bem como endoscopia e biópsia, para verificar a presença de alterações na parede intestinal, e, assim, comprovar o diagnóstico.
Importante destacar que, para confirmar de vez o quadro, o paciente precisa seguir, pelo menos por algumas semanas, uma dieta com glúten. Isso porque sua retirada do dia a dia normaliza os padrões sanguíneos analisados e pode levar a um resultado falso negativo.
Vale lembrar ainda que uma parcela da população pode ter sinais e sintomas de doença celíaca, mas apresentar exames de sangue e imagem negativos para a doença. Essa condição caracteriza a “sensibilidade ao glúten não celíaca”. Mas também é necessária uma avaliação médica para confirmá-la.
Diagnóstico feito, é hora de dar adeus ao pão francês
A dieta sem glúten é o primeiro tratamento indicado aos pacientes com diagnóstico de doença celíaca ou sensibilidade ao glúten não celíaca – e deve ser seguida por toda a vida.
Já foi comprovado que a ingestão de pequenas quantidades de glúten, mesmo que por poucos dias, resulta em aumento dos sintomas da doença.
Por outro lado, 12 meses de dieta sem glúten fazem com que até 80% dos pacientes apresentem testes negativos para a doença celíaca e tenham expressiva melhora dos sintomas apresentados anteriormente.
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Nessa dieta são excluídos cereais e produtos alimentícios derivados de trigo, cevada ou centeio. Também é preciso dar adeus a alimentos feitos de cereais que normalmente não têm glúten, mas que podem estar contaminados por ele, como milho e aveia. Por isso, é preciso ter muita atenção ao ler rótulos de itens industrializados.
Em alguns casos, recomenda-se que o paciente utilize bancadas e utensílios de cozinha próprios, para que não correr o risco de contaminação no ambiente doméstico.
Atualmente, o mercado oferece uma grande quantidade de produtos alimentícios sem glúten – inclusive o pão francês, com textura e sabor semelhantes ao tradicional. Isso facilita a adesão ao tratamento.
Mesmo assim, tantos cuidados e restrições podem impactar a qualidade de vida dos pacientes, sobretudo devido ao impacto social que a dieta sem glúten pode gerar.
Então, é fundamental que a pessoa com doença celíaca conte com o apoio de familiares e profissionais de saúde.
Ressalta-se, também, a importância do acompanhamento médico e nutricional para o sucesso da dieta sem glúten – devido à exclusão de grupos alimentares importantes, é preciso evitar deficiências nutricionais.
Além disso, em alguns casos, a pura exclusão do glúten da rotina não é suficiente para eliminar os sintomas desagradáveis, sendo necessário o uso de medicamentos específicos.
Caso você desconfie que tem doença celíaca ou sensibilidade ao glúten, procure um médico para obter um diagnóstico preciso. Com a confirmação em mãos, consulte um nutricionista. Este profissional de saúde poderá te orientar quanto aos alimentos que deverão ser excluídos e sugerir alternativas saudáveis e saborosas para tornar o dia a dia muito mais tranquilo.
* Dan Waitzberg é nutrólogo, professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do grupo Ganep; Natália Lopes é nutricionista do Nutritotal e pesquisadora da Faculdade de Medicina da USP
(Este texto foi produzido pelo Nutritotal em uma parceria exclusiva com VEJA SAÚDE)
Doença celíaca: será que você tem? Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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