Não é uma regra, mas animais muito grandes – como o elefante ou a baleia – de fato podem ser menos ágeis. Isso é porque eles precisariam metabolizar muita energia para atingir altas velocidades. Pode parecer contraditório, já que animais maiores teoricamente têm mais músculos e pernas maiores.
Existem métodos tradicionais de calcular a velocidade máxima que um animal pode atingir com base no tamanho do corpo. Acontece que eles falham quando chegam nos grandões: em tese, um elefante poderia atingir 600 km/h, mas sabemos que eles não passam dos 40 km/h.
Um modelo matemático publicado na Nature em 2017 tenta explicar o mecanismo. O primeiro desafio de um animal grande é sair da inércia, devido ao tamanho do corpo. É mais fácil para um rato dar um tiro de corrida do que para um hipopótamo. Um animal grande gasta muita energia só para se colocar em movimento, e aí não sobra combustível para atingir altas velocidades. Levando esse fator em consideração, o modelo conseguiu estimar a velocidade máxima das espécies em 90% dos casos.
Não é só isso. Um outro estudo, de 2018, mostrou que os reflexos de animais grandes também são mais lentos: os neurônios são mais longos, o que significa que um sinal leva mais tempo para viajar para o músculo da perna, por exemplo. Segundo o estudo, a diferença de tempo entre a disparada do sinal elétrico no cérebro e a chegada no músculo é até 15 vezes maior em um mamífero grande em comparação com um pequeno.
Mas é bom lembrar que essa relação entre tamanho e agilidade não é regra. Um guepardo, por exemplo, é claramente mais ágil que um cachorro, mesmo sendo maior. “Se formos ver todo o conjunto, mamíferos menores, pesando poucos quilos, têm corridas em média de 10 a 15 km/h. Já os animais grandes, como girafas, têm corridas entre 30 e 50 km/h”, diz André Frazão Helene, professor do departamento de fisiologia da USP.
Com base em 474 espécies, o estudo de 2017 mostrou que a velocidade aumenta com o tamanho até certo ponto – mas a relação se inverte para animais muito grandes, como os elefantes e baleias mencionados no início do texto. As exceções também envolvem questões relacionadas ao formato do corpo, adaptações específicas e características físicas do animal.
O último ponto que vale mencionar é que temos a impressão de que os animais grandes se deslocam lentamente porque usamos como referência o próprio corpo do animal. Para um animal pequeno se deslocar a uma distância igual ao tamanho de seu próprio corpo, ele precisa de pouquíssima velocidade. “Uma abelha com pouco mais de 1 cm de comprimento, voando a 30km/h, leva 0,001 segundos para andar uma distância referente ao tamanho do comprimento de seu corpo. Já um elefante, com 6 metros de comprimento e correndo a 40 km/h, precisa de pouco mais de 0,5 segundos – ou seja, 500 vezes mais”, diz Helene.
“Isso é o que faz com que tenhamos a impressão de que um elefante seja muito lento e uma abelha pareça um jato supersônico”.
Fonte: André Frazão Helene, professor do departamento de fisiologia do IB-USP.
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