segunda-feira, 25 de abril de 2022

Sequenciamento do genoma humano abriu novas fronteiras contra o câncer

Estamos nos aproximando dos 70 anos de uma descoberta que mudou a história da medicina moderna. Em 1953, o americano James Watson e o britânico Francis Crick descobriram a forma do DNA, a famosa dupla hélice.

O feito rendeu não apenas um prêmio Nobel aos pesquisadores como se tornou uma celebração global que simboliza a primeira conquista para o mapeamento do genoma humano. A data da publicação científica, o dia 25 de abril, passou a ser reconhecida desde 2003 como o Dia do DNA.

O DNA (ou ácido desoxirribonucleico) é uma construção biológica que guarda todas as informações necessárias para formar um ser humano e é responsável por fazer a transmissão de informações genéticas de uma geração a outra. Hoje se sabe que sinais de DNA já se encontravam há milhões de anos em organismos mais primitivos.

Genericamente, podemos dizer que há séculos havia a compreensão de que algo transmitia as características de pais para filhos. Depois ocorreu a identificação dessas moléculas dentro do núcleo das células, no século 19, e finalmente, no século 20, descreveu-se a organização dessas moléculas em uma estrutura química que ficou conhecida como DNA.

Em 2003, pesquisadores chegaram a divulgar o sequenciamento completo do DNA humano, mas foi somente há algumas semanas que de fato cientistas concluíram essa empreitada.

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E o que isso tem a ver com a oncologia? Tudo. O conhecimento mais aprofundado do genoma tornou possível entender que o câncer se desenvolve a partir de alterações genéticas – hereditárias ou somáticas (adquiridas), que levam à multiplicação acelerada e desordenada das células e à consequente formação de tumores.

Permitiu também a identificação de alvos para o tratamento, conhecidos como marcadores tumorais, tornando possível desenvolver medicamentos específicos para cada tipo de tumor. Foi a partir desse marco que surgiu uma gama de novas drogas para o enfrentamento do câncer.

Terapias-alvo, imunoterapia, terapia celular e outras inovações entraram em cena para estabelecer uma nova era no tratamento oncológico, chamada de medicina de precisão ou medicina personalizada. Essas medicações agem especificamente nas células doentes, impedem o mecanismo de ação da doença ou ensinam o organismo a combater as células cancerosas, o que muda radicalmente a perspectiva de tratamento e melhora significativamente a jornada do paciente.

Além de causarem menos efeitos colaterais do que os tratamentos convencionais, como a quimioterapia – que não deve ser desmerecida e ainda é padrão-ouro em diversas situações –, esse novo arsenal é muito mais efetivo para alguns tipos de câncer e possibilitou que hoje falemos até mesmo em cura.

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Aos poucos, o câncer vem ganhando uma nova cara; aqueles pacientes até então bastante debilitados, que precisavam interromper suas atividades diárias por longos períodos devido ao tratamento, gradativamente vêm ganhando mais qualidade de vida e conseguindo conciliar os cuidados com a rotina.

Da mesma forma, a percepção de que o diagnóstico poderia significar menos tempo de vida vai enfraquecendo à medida que os avanços se tornam mais acessíveis à população. E o mais animador é saber que estamos apenas no começo de um caminho promissor.

Embora nem todos saibam, as pesquisas científicas em oncologia tiveram papel fundamental até no desenvolvimento célere de vacinas para a Covid-19. Há anos pesquisava-se uma nova abordagem para o tratamento de câncer com uma molécula de RNA mensageiro (mRNA), que ainda não era utilizada em larga escala devido aos custos proibitivos, já que implicam em tratamento individualizado.

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Entretanto, o desenvolvimento tecnológico imposto pela pandemia deve baratear o seu uso e permitir sua ampliação, assim como aconteceu com o DNA – o primeiro sequenciamento demorou 13 anos e custou aproximadamente 2,7 bilhões de dólares e hoje se faz por menos de 200 dólares.

É instigante ver que as descobertas na medicina não param desde o primeiro sequenciamento do DNA. O conhecimento profundo das alterações genéticas contribui não apenas para a oncologia, mas também na descoberta de diversas questões que desafiam a medicina, como doenças raras e autoimunes, e até na compreensão do processo de envelhecimento humano.

Aliás, já se sabe que células cancerosas não envelhecem como as células saudáveis. Quem sabe se, ao entendermos como o câncer se torna imortal e perenemente jovem, não possamos usar isso para ampliar a longevidade do ser humano?

Isso é totalmente teórico, mas seria um tanto irônico: o conhecimento dos mecanismos de uma doença temida e que hoje interrompe tantas histórias, ajudar, no futuro, a prolongar a vida do ser humano com qualidade.

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* Paulo Hoff é oncologista, professor da Faculdade de Medicina da USP e presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC)

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