Na operação contra a Covid-19, um arsenal de produtos de higiene pessoal e limpeza da casa tomou conta das despensas. Mas esse uso e abuso, bem-vindo contra o coronavírus e outros germes, pede cuidados. Ao empregar sabão e álcool com maior frequência, eles podem desgastar as barreiras naturais da pele e agredir aquilo que fica mais exposto, nossas mãos.
“A pele tem um manto de gordura, que preserva a hidratação e a protege”, explica a dermatologista Paola Pomerantzeff, de São Paulo. Quando essa camada é removida toda hora, as mãos ficam suscetíveis a ressecamento, irritações e até lesões mais sérias. Por isso, a palavra de ordem nestes tempos é hidratação.
Os cremes e loções são os itens mais recomendados, e o ideal é verificar com um dermatologista aquele que combina melhor com seu tipo de pele. Sabonetes menos abrasivos, como os syndet (o nome vem de “detergente sintético” em inglês), também são uma boa pedida. “Sempre que higienizar as mãos com água e sabão ou álcool, seque bem e aplique hidratante na sequência”, orienta Paola. Só não vale abandonar a limpeza — pelo bem do seu corpo e o dos outros.
Nesse contexto, o hábito de roer unhas ganhou força e despertou receio. O duro é que levar a mão à boca aumenta o risco de contágio, já que é difícil se livrar de toda a sujeira sob as unhas. Além disso, os machucados na cutícula e na pele dos dedos eleva a probabilidade de micróbios invadirem o pedaço. Como a higiene reforçada com sabão e álcool pode deixar as unhas quebradiças, produtos específicos podem ser indicados para fortalecê-las.
Dos dedos aos punhos
Como poupar suas mãos em tempos de limpeza extra.
O que fazer?
Hidratar sempre: além de beber água ao longo do dia, use cremes hidratantes indicados pelo dermato após a higiene das mãos e o banho.
Preferir o que agride menos: sabonetes mais potentes ou cheios de aroma podem irritar mãos sensíveis. No dia a dia, priorize o neutro e o syndet.
Usar luvas na faxina: na hora da limpeza doméstica com água sanitária ou desinfetante, não se esqueça de vestir as luvas de borracha.
O que evitar?
Abusar dos bactericidas: experts contraindicam sabonetes com essa propriedade por serem ineficazes contra vírus e matarem as bactérias boas da nossa pele.
Lavar compulsivamente: a paranoia leva a excessos que agridem a pele. Lave as mãos ao voltar da rua, pegar algo do chão, antes de comer ou tocar o rosto…
Largar a luva: isso se aplica à faxina. Se a luva de borracha causa dermatite de contato, coloque por baixo uma de algodão para se proteger.
De máscara e sem espinhas
Ainda não sabemos quando vai dar para sair de casa sem máscara. O desafio agora é administrar os inconvenientes que o uso traz, especialmente a pessoas que precisam trabalhar boa parte do dia com o rosto coberto. A utilização por horas a fio provoca lesões na superfície da pele por atrito e a falta de ventilação faz a oleosidade aumentar, abrindo alas às espinhas.
A chateação é tão comum que se popularizou o termo em inglês maskacne, a acne causada pela máscara. A dermatologista Claudia Marçal, fundadora da plataforma online Dermacademy MB, explica que, com a obstrução da passagem de ar na porção inferior do rosto, as glândulas sebáceas se tornam mais atuantes. “Elas tentam proteger a pele produzindo mais óleo”, conta.
Isso é um prato cheio para bactérias e o aparecimento de cravos e espinhas. O problema é mais frequente com as máscaras feitas de materiais sintéticos, como as cirúrgicas, ótimas na defesa contra o coronavírus. As caseiras até permitem que a pele respire melhor, mas, se não forem lavadas no dia a dia, acumulam impurezas e trazem mais irritação à face.
Sai fora, acne!
Como evitar que o uso constante da máscara provoque espinhas.
O que fazer?
Trocar mais vezes: para funcionar melhor e não abafar a pele, a máscara deve ser trocada ou higienizada em até quatro horas ou se ficar úmida.
Lavar o rosto: os médicos recomendam sempre lavar toda a face pela manhã e à noite. Vale mesmo para quem não usou máscara o dia inteiro.
Controlar a oleosidade: o dermato pode indicar sabonetes e outros produtos específicos que limitam a gordura e a inflamação na pele.
O que evitar?
Ficar o tempo todo de máscara: ela é fundamental na rua. Se você vive só ou não mora com alguém com Covid-19, usar direto em casa maltrata a pele.
Ignorar o tipo de tecido: a não ser em hospitais e locais que exigem máscaras profissionais, priorize as de tecidos que abafam menos, como o algodão.
Usar do jeito errado: se a máscara não estiver no tamanho adequado, pode machucar o rosto. Se não for higienizada, favorece espinhas.
Com os lábios recobertos
O uso da máscara botou de castigo uma área que, antes, recebia muita atenção: com a boca tapada, as pessoas deixaram de usar produtos que mantinham os lábios vistosos e hidratados, como batom ou lip balm. Para piorar, a falta de cuidados e a cobertura constante podem fazê-los ressecar. Por isso, alguns dermatos recomendam o uso de hidratantes labiais com ativos como ceramida e silicone, que podem ser aplicados ao trocar a máscara.
A onda dos cosméticos protetores
Atenta às demandas e às aflições dos consumidores, a indústria se mobilizou para criar cremes e outros produtos para a pele que já possuem álcool ou até mesmo ingredientes antivirais na fórmula. Ocorre que, até o momento, não existem pesquisas robustas garantindo que esses cosméticos realmente cuidam da derme ao mesmo tempo que espantam o coronavírus.
É diferente, por exemplo, de produtos contra o vírus da herpes, para o qual existem formulações de ação comprovada. “Se você usar só o creme hidratante que tenha álcool nos componentes, ainda não há certeza se ele vai proteger com a mesma eficácia do álcool em gel ou do álcool 70”, analisa o dermatologista André Braz, do Rio de Janeiro.
Um dos desafios nesse campo é justamente elaborar cremes que unam um ingrediente que hidrata com outro que resseca (o álcool). Na dúvida, os médicos indicam utilizar produtos de forma independente: água e sabão ou álcool primeiro e, depois, o hidratante, que pode ser mais espesso de acordo com a sua necessidade.
Profissionais de saúde ou que atendem o público no comércio estão entre aqueles que necessitam redobrar as medidas de proteção e higiene e, assim, ficam mais expostos a espinhas e irritações provocadas pelo uso da máscara e a limpeza das mãos. Para evitar problemas no rosto, especialistas vêm indicando hidratantes faciais com ácido hialurônico. Pensando nas mãos, vale investir em álcool com ceramida na composição.
Para quem tem uma doença crônica
Psoríase, dermatite atópica, vitiligo… Embora ainda não existam estudos fechados, pacientes e médicos relatam aumento nas queixas de sintomas de doenças crônicas de pele com a pandemia. Parte do problema vem dos novos hábitos de higiene. Outra razão é a falta de acompanhamento com o profissional. E um terceiro elemento é o próprio estresse da Covid-19.
“Vitiligo, psoríase e dermatite atópica são doenças que podem ser influenciadas e intensificadas pelo estado emocional”, nota a dermatologista Mariana Corrêa, de Brasília. Assim, além de cuidar da cabeça, é importante manter o contato e as consultas com o dermatologista. Jamais abandone o tratamento no meio. Se não estiver bem, fale com o doutor, que poderá ajustar pomadas e outros remédios.
Além disso, todos os cuidados elencados na reportagem merecem ser duplamente respeitados aqui. Alessandra Romiti, médica que coordena o Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia, orienta, por exemplo, deixar os sabonetes potentes e adstringentes só para quando voltar da rua. Ao longo do dia, melhor ficar com as opções mais suaves.
Durante a Covid-19, a telemedicina é uma boa alternativa para os dermatologistas e seus pacientes, já que a especialidade envolve avaliações visuais. Em muitos casos, é possível enviar fotos para a análise do médico, por exemplo. Mas consultas presenciais continuam sendo necessárias em caso de lesões que necessitem de uma avaliação da textura da pele ou para manter o acompanhamento de doenças crônicas e tumores.
Cuidados que persistem
Quem tem psoríase, dermatite ou outro problema dermatológico crônico deve cuidar da pele agora e depois da pandemia.
O que fazer?
Consultar o dermato: o diagnóstico é o passo número 1 para esquematizar o rol de cuidados no dia a dia, seguido do estabelecimento do tratamento.
Usar o produto certo: existem loções e cremes mais adequados de acordo com o problema. Daí a importância do alinhamento com o médico.
Cuidar da mente: o estresse se manifesta até à flor da pele e piora os sintomas. Procure um hobby e atividades que tragam relaxamento.
O que evitar?
Tomar banho pelando: ducha com água muito quente faz a pele ficar ainda mais ressecada, piorando o controle de dermatite e companhia.
Parar o tratamento: doenças como psoríase e dermatite atópica podem exigir remédios para o devido controle. Abandoná-los sem orientação é um grande erro.
Utilizar receita caseira: nada contra fórmulas naturais. O problema, sobretudo em meio a uma crise, é que elas podem agravar lesões cutâneas.
Quando a Covid-19 ataca a pele
A ciência ainda está tentando responder até que ponto essa nova doença causa diretamente lesões na pele. Mas, de fato, alguns tipos de erupção e manifestações inflamatórias foram observadas e associadas à infecção pelo coronavírus, sobretudo em casos mais graves.
Esses quadros já foram vistos até em crianças, público menos atingido pela Covid-19: acredita-se que a vermelhidão e as irritações estariam associadas a uma síndrome marcada por uma reação exagerada do organismo ao vírus. Ainda bem que ela é rara entre os pequenos.
Embora ainda não esteja batido o martelo sobre as repercussões cutâneas da infecção, médicos podem considerar esses sintomas para suspeitar de um ataque do Sars-CoV-2. “Até porque várias doenças virais se manifestam na pele”, argumenta Alessandra, da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “Lesões que aparecem de uma hora para a outra, especialmente em pessoas que tiveram contato com um caso de Covid-19, podem ser um sinal de alerta”, completa a médica.
Sinais do coronavírus na pele
Veja algumas manifestações da Covid-19 na pele descritas pelos médicos.
Erupções: feridinhas em mãos, pés, rosto e tronco foram detectadas em pacientes. Não se sabe se é o vírus em si que as causa.
Urticária: lesões extensas, que podem ser acompanhadas de coceira, apareceram em casos severos de Covid-19.
Inchaço nos dedos: alterações na circulação podem provocar os chamados “dedos de Covid”, edemas doloridos na ponta dos pés.
Vermelhidão: foi visualizada em adultos e crianças e ligada a uma rara inflamação sistêmica até três meses após a infecção.
Os cuidados com a pele durante a pandemia do coronavírus Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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