Há mais de um século, o cientista russo Elie Metchnikoff (1845-1916), ganhador do Prêmio Nobel, observou que camponeses de uma comunidade de determinada região da Bulgária viviam mais tempo. Ele associou a ingestão de um leite fermentado com uma bactéria, que chamou de Bulgarian bacillus, a uma série de benefícios de saúde capazes de promover a longevidade. De lá pra cá, mais de 1 500 estudos clínicos sobre o uso de probióticos já foram publicados, demonstrando seus efeitos em nossa saúde, principalmente a intestinal.
Em paralelo a essas descobertas, o novo século assistiu a um aumento nas pesquisas sobre os múltiplos papéis do intestino. Elas comprovam que esse órgão exerce muito mais funções do que meramente processar alimentos e escolher, em termos de nutrientes, o que deve ser absorvido pelo corpo.
Um ser humano adulto carrega perto de 100 trilhões de micro-organismos no intestino e essa comunidade começa a se formar assim que ele nasce, recebe o leite materno, se desenvolve e estabelece seus hábitos alimentares e de atividade física. O uso de medicamentos também interfere no processo.
Esse ecossistema intestinal é único em cada indivíduo e a ele damos o nome de microbiota. Segundo as evidências científicas, o equilíbrio da microbiota protege cada um de nós de uma variedade de doenças (de infecções a problemas autoimunes). Até a saúde mental é influenciada por essa comunidade. Quando há um desequilíbrio entre bactérias boas e más, o sistema imune é afetado e o intestino fica mais vulnerável a micróbios nocivos e à absorção de substâncias não desejáveis.
Para melhorar o estado de equilíbrio da microbiota, pesquisas e especialistas indicam os probióticos. Trata-se de micro-organismos vivos que podem ser ingeridos como suplementos ou bebidas e promovem a proliferação de bactérias benéficas na microbiota.
Sabemos que a atuação de certas bactérias da microbiota repercute na imunidade, no processo digestivo e na atividade cerebral. Algumas delas influenciam inclusive o ganho de peso. Nesse sentido, probióticos podem ser escalados para ajudar no metabolismo e nos resguardar contra os micro-organismos que causam desequilíbrio.
Hoje já é possível até realizar um estudo personalizado da sua microbiota para averiguar quais bactérias estão faltando ou aparecem em excesso nesse ecossistema, bem como identificar possíveis descompassos atrelados a isso. Com essa investigação, o profissional de saúde consegue sugerir medidas e terapias a fim de balancear a comunidade intestinal, algo que envolve ajustes na alimentação, atividade física e complementação com probióticos.
Há diferentes tipos de probióticos no mercado e em estudo e todos devem comprovar eficácia e segurança antes de chegar aos pacientes. Mais recentemente, tivemos bons indícios de resultados em ensaios clínicos com probióticos para tratar a gastrite associada à bactéria H.pylori, tão frequente no Brasil e no mundo. Por meio dessas pesquisas e avanços, estamos elaborando produtos e estratégias úteis para promover o equilíbrio da microbiota de uma forma que esteja ao alcance de todos.
* Nanci Utida é gerente médica da Cellera Farma
Uma comunidade única a serviço da sua saúde: seu intestino Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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