sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Hipótese de Darwin sobre insetos que não voam é confirmada após 160 anos

Insetos voadores que moram em ilhas costumam voar menos se comparado a primos alados de outras partes do planeta. É como se, pela falta de hábito, eles perdessem aos poucos a habilidade de voar, e acabassem apostando em métodos menos ortodoxos de locomoção. Moscas que vivem cercadas por água acabam caminhando mais. Mariposas, da mesma forma, dão uma folga às asas e tendem a se arrastar mais para ir de um lado para o outro.

Esse comportamento já foi observado por cientistas em diferentes cantos da Terra. Mas há um ponto do planeta onde isso é especialmente claro: nas pequenas ilhas no caminho entre a Antártida e a Austrália. Por lá, boa parte dos insetos tendem a optar por uma vida mais terrestre. O motivo por trás da escolha está na ventania: regiões entre as latitudes 40 e 50 do planeta são os locais onde massas de ar se movimentam de forma mais rápida, dificultando o voo.

As explicações em torno desse fenômeno evolutivo motivam divergências teóricas entre biólogos há mais de um século. Nessa lista está o naturalista inglês Charles Darwin, o pai da Teoria da Evolução, que versou sobre o tema há pelo menos 160 anos.

“Darwin sabia sobre esse comportamento. Ele e o famoso botânico inglês Joseph Hooker tiveram uma discussão importante sobre por que isso acontece”, explicou Rachel Leihy, pesquisadora da Universidade de Monash, na Austrália. 

“A posição de Darwin parecia simples. Insetos que voam podem ser lançados ao mar [pelo vento]. Os que ficaram em terra e deram origem a próxima geração de sua espécie, porém, são os mais relutantes em voar”, explicou Leihy. Ou seja: voar aumenta o risco de um inseto morrer ser carregado para o mar aberto e não conseguir voltar para sua ilha natal. Quem não voa, por sua vez, tem mais chances de passar seus genes adiante. Era uma tendência que as gerações mais novas acabassem deixando de lado a ideia de viver batendo asas.

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Para Hooker – amigo próximo de Darwin que endossou a Teoria da Evolução – e outros ambientalistas da época, a explicação não podia ter a ver com os ventos. Isso porque insetos que vivem no continente, onde há ventos menos intensos, também podem deixar de lado o gosto pelo voo, embora isso seja mais raro.

Outra hipótese tenta explicar a ausência de voo com base na disponibilidade de recursos do ambiente. Se insetos têm todo o alimento que precisam no seu habitat, têm menos chances de precisar acionar suas asas.

Após reunir dados sobre a morfologia de insetos e características ambientais de 28 ilhas da região antártica, Leihy decidiu testar qual linha de explicação era a mais precisa. Segundo seu estudo, publicado na revista científica Proceedings of Royal Society B, 47% das espécies de insetos típicas de ilhas remotas do Oceano Antártico aposentaram as asas. Em ilhas do Ártico, esses números são bem menores: só 8% dos insetos escolhem não voar. A nível global, a taxa média de insetos que não voam estimada pelos cientistas é de 5%. De acordo com os números, portanto, locais onde há mais vento tendem a ter insetos que voam menos.

Em entrevista ao site IFLScience, Leihy explicou também que o argumento de que as ilhas antárticas têm recursos suficientes para que insetos fiquem mais “sedentários” não se sustenta. Tudo isso permite afirmar que Darwin estava certo – e o vento é, sim, o fator principal para explicar essa adaptação.

Condições desfavoráveis de vento dificultam o voo dos insetos. Isso faz com que, para ir de um lado ao outro batendo asas, eles tenham de gastar mais energia. Essa dificuldade inspirou uma adaptação evolutiva: insetos com características físicas que chamam a atenção de parceiros se dão melhor do que os que têm um corpo preparado para o voo. De nada vale, assim, gastar energia criando asas mais resistentes e músculos que os permitem ter aerodinâmica melhor. Para insetos de ilhas, ter as patas presas ao chão, por incrível que pareça, parece ser um ótimo negócio.

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