sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Yes, nós temos (e devemos comer mais) banana!

No final da década de 1930, Carmen Miranda (1909-1955) anunciava, por meio de suas marchinhas, algumas qualidades da banana. Tanto a cantora quanto a fruta viraram a cara do Brasil e conquistaram o mundo. Nenhuma, no entanto, nasceu aqui. A primeira é de origem portuguesa. A segunda, dizem estudiosos, veio do Sudeste Asiático.

Outro ponto em comum é que as duas são musas. A artista, obviamente, pela graça e seus tantos talentos. O vegetal e suas espécies, pelo nome científico: Musa acuminata, Musa balbisiaana ou, ainda, Musa paradisiaca.

Em uma das mais populares canções, se fala que banana tem vitamina e engorda. Sim, ela é vitaminada, mas não merece carregar a fama engordativa. É certo que não está no ranking das frutas mais magras. Mas, só para comparar, a banana-prata tem 60 calorias, quase o mesmo valor de uma maçã pequena.

Nesse quesito, destaca-se ainda seu poder de prolongar a sensação de saciedade. O que se dá pela presença de fibras solúveis, aquelas que, no intestino, se ligam à água e formam uma espécie de gel, brecando o apetite.

Sobre atuações na digestão, há pesquisas que colocam a banana como protetora da parede estomacal. Não à toa as vovós recomendam banana-maçã para dar aquela endireitada em certos desarranjos dos netinhos. Muita gente aponta os taninos como os agentes promotores do alívio e essas substâncias estão mais presentes quando o alimento não está tão maduro.

Uma curiosidade saborosa: dizem que são esses mesmos compostos os responsáveis pela coloração azulada de uma receita típica do litoral paulista e batizada como “azul-marinho”. Criada por caiçaras, especialmente da região de Ubatuba, é feita da mistura de peixe e da nanica bem verde, preparados em panela de ferro. Durante o cozimento, o mineral reage com os taninos, conferindo o tom diferenciado.

De tudo quanto é jeito

Na cozinha litorânea, na sertaneja ou urbana, a fruta é sucesso das mais variadas formas na culinária. Já diria o antropólogo Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) em História da Alimentação no Brasil (clique para comprar): “Crua, assada, cozida; com açúcar, canela, doce em calda e a bananada, com queijo, cartola, farinha para crianças, mingau, tortas. Com mel, licor… Saboreada por todas as idades e paladares…”

O historiador reforça que se trata de vegetal do “mais fácil descascamento”. Graças a essa praticidade, marcou presença nas quadras de tênis, levada pelo tenista Guga Kuerten. O campeão catarinense devorava algumas nos intervalos dos jogos e assim garantia pique para as longas partidas.

Além de oferecer carboidrato, a banana contém nutrientes que resultam em mais disposição. Ela é famosa por fornecer boas doses de potássio, aquele que contribui para afastar a fadiga, sobretudo o cansaço muscular. Outro mineral presente é o magnésio, conhecido promotor do bem-estar.

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Sua polpa é fonte do complexo B, uma família vitaminada e essencial para espantar o mau-humor e a tristeza.

Não bastasse essa coleção de moléculas da felicidade, a fruta faz história nas artes, simbolizando, inclusive, o Tropicalismo ou Tropicália, movimento cultural cheio de cores e alegrias.

Daí a música desta coluna vir na voz de um de seus maiores representantes, o baiano Caetano Veloso, que regravou a célebre marcha composta por Braguinha (1907-2006), Yes, Nós Temos Banana.

Na ponta da língua

O fruto está na boca do povo de todas as formas. Aparece em uma porção de expressões, como ensina o etimologista Deonísio da Silva, professor da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro:

“Dar uma banana”: apontar o cotovelo para o interlocutor tem significado de vingança ou ofensa. O gesto é feito em países como Portugal, Espanha, França e Itália, mas a palavra “banana” só aparece no português falado aqui. Ela foi incluída porque o antebraço é parecido com a fruta.

“Embananar”: a hipótese para a origem desse verbo, que é sinônimo de confusão, remonta à maneira atrapalhada dos primeiros negócios que envolveram a fruta. Os comerciantes não sabiam se a vendiam em cacho, em dúzia, em peso, em unidade, em penca…

“Preço de banana”: o significado dessa expressão está na cara. Apesar de tão virtuosa, a banana é das frutas mais baratas e, na época da colonização, dispensava maiores cuidados.

“Plantar bananeira”: firmar-se no chão com as mãos é uma metáfora inspirada no formato da bananeira. Acredita-se que os índios brincavam dessa maneira imitando a planta.

Para plantar bananeira, há de se ter habilidade e disposição. Melhor comer uma banana meia hora antes!

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