quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Países ricos saem na frente na corrida pela vacina e reservam maioria das doses

Com a aprovação das primeiras vacinas contra a Covid-19, o mundo entrou em uma nova e crucial fase da pandemia. Na corrida por imunizantes, os países ricos saíram claramente na frente: algumas das nações mais desenvolvidas do mundo já reservaram doses suficientes para vacinar toda sua população múltiplas vezes, caso todas as vacinas sejam aprovadas para uso. Ao mesmo tempo, países mais pobres enfrentam dificuldades em conseguir contratos com farmacêuticas – e, em muitos deles, 90% da população corre o risco de ficar sem vacina em 2021.

O alerta vem da aliança global People’s Vaccine, formada por organizações internacionais como Oxfam, Anistia Internacional e Global Justice Now. O grupo analisou dados compilados pela empresa de pesquisas Airfinity, e os números mostram que um grupo restrito de países desenvolvidos, que inclui a União Europeia, os Estados Unidos, a Austrália e o Japão, e representa apenas 14% de toda a população mundial, já reservou 53% das doses das vacinas até agora, considerando as candidatas mais promissoras.

“Ninguém deve ser impedido de receber uma vacina que salva vidas por causa do país em que vive ou da quantidade de dinheiro em seu bolso”, disse em comunicado Anna Marriott, diretora de políticas de saúde da Oxfam. “Mas, a menos que algo mude drasticamente, bilhões de pessoas em todo o mundo não receberão uma vacina segura e eficaz contra a Covid-19 nos próximos anos. ”

No topo da lista está o Canadá, que já comprou vacinas o suficiente para imunizar toda sua população cinco vezes. Se incluirmos na conta outras candidatas a vacina, que ainda estão em fases mais preliminares de estudo, o número sobe para seis vezes. Estados Unidos e Reino Unido conseguiriam vacinar todos os seus habitantes até quatro vezes, se todas as doses reservadas forem entregues; a União Europeia, duas vezes, segundo o jornal The New York Times, que também analisou os dados da Airfinity em conjunto com um estudo da Duke University, que está acompanhando as negociações de contratos envolvendo vacinas pelo mundo.

Todos os cálculos foram feitos já considerando que a maioria das vacinas promissoras exige a aplicação de duas doses, com exceção da desenvolvida pela Johnson & Johnson, que está sendo testada com uma dose só.

Como não há garantia que todas as vacinas sejam aprovadas, e não é totalmente incomum que vacinas se mostrem ineficazes nas últimas etapas de estudo, os governos decidiram apostar no máximo de opções possíveis. Na maioria das vezes, os contratos envolvem uma quantidade fixa de vacinas que são compradas pelo país e outra quantidade “pré-reservada”, que pode ser adquirida depois da aprovação.

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A vacina mais avançada até agora é a produzida pela Pfizer – ela já foi aprovada para uso em países como Reino Unido, Canadá e Estados Unidos e sua aplicação já começou. Mais de 90% de suas doses foram compradas ou reservadas por nações ricas. Outra candidata avançada nas etapas regulatórias é a vacina da empresa Moderna, que deve ser aprovada em breve. Todas as doses dela, por enquanto, foram compradas por nações ricas, especialmente os Estados Unidos (a empresa é americana).

Nem todos os países em desenvolvimento estão tão atrás; um grupo pode ter acesso a um número considerável de doses para 2021 porque seus institutos de pesquisa estão em parcerias próximas com desenvolvedoras de vacina para testar os produtos em massa. É o caso do Brasil, que, apesar de não ter um plano nacional de imunização claro ainda, possui contratos com a Sinovac e com a AstraZeneca/Universidade de Oxford, desenvolvedoras que estão testando suas vacinas por aqui. Caso elas sejam aprovadas, o país terá a opção de adquirir essas doses. México, Turquia e Índia também vivem situações parecidas.

Outros países pobres estão em cenários piores, já que não possuem desenvolvedores locais em parceria com farmacêuticas que lideram a corrida pela vacina. Nesse caso, há iniciativas globais para conseguir imunizar as populações mais vulneráveis do mundo. Uma coalizão global liderada pela OMS e conhecida como COVAX já conseguiu garantir 700 milhões de doses para distribuir entre 62 países signatários em 2021. Mesmo assim, estima-se que, até agora, esses países só conseguirão vacinar entre 10% e 20% de suas populações no próximo ano.

A Universidade de Oxford e a AstraZeneca, que estão avaliando sua candidata a vacina na última etapa de testes, já haviam se comprometido a garantir que 64% de todas as doses fossem destinadas a países em desenvolvimento. Embora a aliança People’s Vaccine tenha elogiado a iniciativa, lembrou também que essa vacina poderia “cobrir no máximo 18% da população mundial no próximo ano”, o que “demonstra que uma empresa sozinha não pode esperar fornecer vacinas para o mundo todo”.

A People’s Vaccine vai além e pede para que todas as empresas quebrem o sigilo e compartilhem suas fórmulas e tecnologias para que seus produtos possam sem produzidos por outras farmacêuticas pelo mundo e distribuídos em países pobres. Segundo a organização, isso seria possível de ser feito através do programa de acesso à tecnologia da Organização Mundial da Saúde. Defensores da ideia argumentam que a maioria dessas empresas recebeu investimentos públicos para pesquisa e desenvolvimento de suas vacinas, o que atribui a elas a responsabilidade de agir no interesse público global.

Por enquanto, o Canadá é o único país que começou a planejar doações das suas doses excedentes para países pobres, segundo reportou a agência Reuters.

 

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