O lipedema é uma doença progressiva caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura em regiões específicas do corpo, como pernas, braços, joelhos e coxas. Ela acomete quase que exclusivamente mulheres e é desencadeada por momentos de desequilíbrio hormonal – menopausa, gravidez e uso de anticoncepcional são exemplos de gatilhos.
Estima-se que uma em cada dez mulheres tenha a doença no mundo e, no Brasil, 5 milhões provavelmente convivem com o lipedema e não sabem.
Apesar de ser mais comum do que se imagina, o quadro costuma ser confundido com obesidade – falaremos mais sobre esse aspecto adiante – e, por isso, nem sempre é tratado adequadamente. O resultado é um grande abalo emocional.
“Além do desconforto físico, já que em estágios graves a enfermidade atrapalha até a mobilidade, muitas vezes há um desdobramento na saúde mental, com desenvolvimento de transtornos alimentares“, alerta o cirurgião plástico Fábio Kamamoto, diretor do Instituto Lipedema Brasil.
Para aumentar a disseminação de informações sobre essa condição, junho foi escolhido como o Mês da Conscientização do Lipedema.
Como o lipedema surge
Os estímulos para o aparecimento e a piora do lipedema já são conhecidos, mas o porquê de essa gordura ficar estocada em áreas específicas ainda não é totalmente explicado.
“O que sabemos é que as células de gordura desses locais têm algum receptor de hormônio diferente de outras partes do corpo”, informa Kamamoto.
Fora o fator hormonal, a genética dá a sua contribuição para o surgimento da doença. “Alimentação rica em carboidratos, açúcar e carne vermelha, além de consumo de bebidas alcoólicas agravam o quadro”, acrescenta o médico.
Lipedema e obesidade: qual a diferença?
O cirurgião explica que, ao contrário da obesidade, no lipedema o excesso de gordura não se distribui pelo corpo todo.
“Isso fica ainda mais visível quando, mesmo fazendo dieta e exercícios, a paciente não emagrece na região afetada, gerando uma desproporção”, relata. Por exemplo: a cintura afina, enquanto a área acometida segue mais volumosa (veja na foto abaixo).
Kamamoto cita outros sintomas que ajudam a caracterizar o lipedema, diferenciando-o da obesidade: dor, sensação de queimação nos locais de acúmulo de gordura, hematomas e desconforto ao apalpar.
Como confirmar o diagnóstico
A detecção passa pelo exame físico e por uma análise do histórico da paciente, somados a mais testes que excluem a possibilidade de outras condições. “Tomografia, dosagem de gordura, cintilografia e doppler vascular são alguns procedimentos que ajudam a fechar o diagnóstico”, enumera o profissional.
Mas nem sempre os especialistas acertam nessa hora. Em 2020, um estudo realizado com 106 pacientes pela Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, deu uma mostra disso. De acordo com os relatos das participantes, apenas 9% dos médicos consultados por elas estavam aptos a fazer o diagnóstico da doença, que foi confundida com obesidade em 75% das vezes.
Outro complicador é que não há um especialista específico a ser procurado nesses casos. “É um problema multifatorial e que deve ser difundido por várias áreas. Precisamos que nutricionistas, endocrinologistas, ginecologistas, vasculares e cirurgiões conheçam a enfermidade”, alega Kamamoto.
Essa doença tem cura?
O tratamento envolve mudanças na alimentação, exercícios de baixo impacto, uso de meia compressora, drenagem linfática e interrupção de terapias hormonais, quando possível.
No entanto, Kamamoto afirma que só dá para falar em cura após procedimento cirúrgico. “É necessário fazer a retirada das células de gordura defeituosas com uma lipoaspiração tumescente com laser”, ensina o expert. A remoção dessas estruturas traz uma resposta duradoura, já que elas não são repostas pelo corpo.
“A operação demora três horas e a paciente deve passar o dia no hospital. A recuperação de cada sessão leva duas semanas”, conta. O número de sessões necessárias varia de acordo com a gravidade do quadro – mais um motivo para buscar a detecção precoce.
Infelizmente, a cirurgia tem um custo elevado e não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) nem é coberta pelos convênios médicos. “Criamos o Instituto Lipedema Brasil para mudar essa realidade”, relata o profissional.
A entidade atua em duas frentes: investindo em pesquisas e tentando aumentar o acesso ao tratamento. “Lançamos um abaixo-assinado por um projeto de lei para que a operação seja oferecida pelo SUS e planos de saúde”, avisa. Você pode contribuir com sua assinatura clicando aqui.
Quais as complicações do lipedema
Fora todo o impacto emocional, há muitas outras repercussões negativas quando a doença não é tratada. Nos estágios avançados, ela lesa os vasos linfáticos, levando à retenção de líquido, predisposição a infecções, deformidades nos pés e até perda de mobilidade.
“Por ser uma doença com fator hereditário por trás, não é possível preveni-la. Então, é preciso ficar muito atenta se tiver casos na família e buscar ajuda quando os sintomas surgirem”, orienta o cirurgião.
“Existe tratamento e esperança contra o lipedema. Temos que levar essa mensagem às mulheres, inclusive para que se livrem da sensação de culpa”, conclui.
Lipedema: o que é, quais são os sintomas e como tratar Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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