sexta-feira, 18 de junho de 2021

Um daltônico sonha com cores que não vê?

Não. O daltonismo é uma condição genética hereditária. O daltônico nasce com a condição e nunca viu certas cores que a maioria das pessoas enxerga – por isso, não tem a mesma referência de mundo que os não-daltônicos. Não se pode sonhar com algo que seu cérebro nunca processou.

As cores são ondas eletromagnéticas (luz) de diferentes comprimentos. Percebemos essas ondas graças a células nas retinas chamadas cones. São três tipos: um detecta os comprimentos de onda puxados para o vermelho, outro se dedica à região verde, e um terceiro é responsável pelo azul. Juntos, eles dão conta de todas as cores que conseguimos ver – o espectro visível. 

Os daltônicos possuem deficiências nesses cones, que variam de acordo com diferentes tipos e graus de daltonismo. Não é como se eles vissem uma mancha preta no lugar do verde, do vermelho ou do azul. Eles continuam vendo algum tipo de cor ali, mesmo que seja um tom amarronzado.

O daltonismo também gera, é claro, uma dificuldade em diferenciar cores. Como os cones não conseguem captar alguns comprimentos de onda, dois tons distintos podem acabar sendo interpretados como a mesma coisa. 

Vamos inverter a pergunta: os seres humanos (tanto daltônicos quanto não-daltônicos) sonham com cores ultravioleta? Nós sabemos que elas existem porque é possível detectar seu comprimento de onda – mas não conseguimos enxergá-las. Os humanos precisariam de um outro tipo de cone para isso. Não fazemos ideia de como são essas cores, e nem é preciso dizer que também não sonhamos com elas.

Os pássaros, por outro lado, poderiam sonhar em ultravioleta. Eles possuem um cone extra que deixa o mundo bem mais colorido. É por isso que eles conseguem navegar entre folhagens com mais facilidade que os humanos. Para eles, nós é que somos daltônicos.

Coincidentemente, temos um repórter daltônico na equipe da revista. Ele diz que não sonha com nenhuma cor inédita, e sim como se estivesse vendo o sonho pelos próprios olhos. Assim como não sabemos como é enxergar o mundo pelos olhos de um pombo, uma pessoa daltônica não tem outra referência que não seja a dela mesma.

Fonte: Sergio Neuenschwander, professor do Instituto do Cérebro na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Pergunta de @icafreitas, via Instagram.


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