Entre o final da primavera e o início do verão no hemisfério norte, as típicas montanhas brancas dos Alpes Franceses adquirem um tom avermelhado. O fenômeno é conhecido como “glacier de sangue” ou “neve de melancia”, devido à cor característica.
O evento é comum e ocorre também nos Alpes Suíços, no Alasca, no Ártico e em outras paisagens glaciais. As responsáveis pela cor são comunidades de algas que crescem com o derretimento da neve, justamente na transição do inverno para o verão. Quando são aquecidas pela luz do sol, as algas adquirem uma coloração vermelha, que consequentemente aparece na neve onde estão. Esse pigmento serve como um protetor solar natural para as algas se protegerem da radiação ultravioleta (UV).
Até aí, tudo certo. O que não é normal é a intensificação da cor da neve e da frequência do fenômeno a cada ano, algo que vem sendo observado por pesquisadores da Universidade Grenoble Alpes, na França. Segundo eles, o aquecimento global é o principal suspeito pelo aumento da proliferação de algas.
As algas são microorganismos que fazem fotossíntese – ou seja, absorvem gás carbônico (CO2) e liberam oxigênio (O2). Elas, inclusive, são responsáveis pela maior parte do oxigênio que respiramos. Só que o aumento de CO2 na atmosfera (que causa o aquecimento global) faz com que as algas dos alpes se proliferem mais, resultando na neve vermelha e impactando o ecossistema da região.
Um exemplo é que as colônias podem intensificar o derretimento da neve. Isso ocorre pelo mesmo motivo pelo qual você evita sair de camisa preta no verão. A cor absorve mais calor e aquece a superfície em que está – no caso, o seu corpo. O vermelho também absorve mais calor em comparação com o branco da neve, fazendo o gelo derreter mais rápido.
Uma pesquisa de 2016 estimou que a neve vermelha reflete 13% menos luz durante a temporada de derretimento do Ártico em comparação com a neve branca. Como se já não bastasse o derretimento provocado pelo aquecimento global, o fenômeno ainda pode ser mais intenso nos pontos que possuem colônias de algas vermelhas.
Em outro estudo recente, os cientistas da Universidade Grenoble Alpes coletaram amostras de neve em cinco pontos dos Alpes Franceses, em diferentes altitudes. O intuito era procurar o DNA de algas e entender quais espécies vivem ali.
Eles perceberam que algas diferentes crescem dependendo da altitude da montanha. Algas do gênero Sanguina, por exemplo, só foram encontradas em altitudes acima de 1.900 metros, enquanto as do gênero Desmococcus e Symbiochloris ficam abaixo de 1.500 metros.
Ainda se sabe pouco sobre a biodiversidade de algas que vivem nos alpes, mas os pesquisadores acreditam que elas possam ser marcadores importantes de mudanças climáticas. Também não há um registro histórico sobre a “vermelhidão” da neve, mas os pesquisadores pretendem montar esse banco de dados aos poucos.
A ideia é montar um centro de pesquisa nos alpes, onde podem monitorar as algas ao longo do ano todo, analisar os gradientes de cor e verificar em quais condições as algas se proliferam mais Os dados coletados estão sendo compilados no site do projeto Alpalga.
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