O número de testes e tratamentos realizados contra a hepatite C caiu entre 40 e 50% durante a pandemia de coronavírus. O alerta é feito pelo Instituto Brasileiro de Estudos do Fígado (Ibrafig), que lançou recentemente uma campanha de conscientização sobre as hepatites virais.
A iniciativa, batizada de “Não vamos deixar ninguém para trás”, visa incentivar o diagnóstico e tratamento de portadores dos tipos B e C da doença. Seu objetivo é reverter os prejuízos causados pela chegada da Covid-19.
“Isso nos preocupa pelo risco de aumento das complicações associadas às hepatites virais nos próximos anos, que podem ser mais uma sequela deste triste período para a saúde brasileira”, comenta o hepatologista Paulo Bittencourt, presidente do Ibrafig.
Abaixo, saiba mais sobre essa enfermidade e por que você precisa se atentar a ela:
Quais são os tipos de hepatite?
Existem cinco hepatites virais, provocadas pelos hepatovírus A, B, C, D e E. Elas são transmitidas por vias diferentes, mas têm em comum o fato de serem doenças silenciosas e de atacarem o fígado até causar sua falência ou outras complicações.
As versões A, B e C são as mais comuns no Brasil, sendo as duas últimas as mais perigosas. Ambas respondem por cerca de 74% dos casos notificados de hepatites virais no Brasil, sendo que a hepatite C esteve por trás de mais de 76% das mortes pela doença no país, de acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde.
“Se não forem tratados, os tipos B e C podem evoluir para hepatite crônica com progressão para cirrose e câncer de fígado. Além disso, a C atualmente é a principal indicação para realização de transplante de fígado no país e a maior causa de tumor nesse órgão”, alerta Bittencourt.
Formas de transmissão das hepatites virais
O tipo C é contraído pelo contato com sangue contaminado, em situações como o compartilhamento de agulhas, seringas e outros objetos para uso de drogas, equipamentos de manicure ou materiais reutilizados para confecção de tatuagem e colocação de piercing. A infecção pelo sexo desprotegido e durante a gestação acontece raramente.
Já a hepatite B é uma infecção sexualmente transmissível (IST), passada adiante também por meio do contato com sangue contaminado, gravidez e amamentação. A hepatite D, por sua vez, só ataca os portadores do vírus B e é disseminada pelas mesmas vias.
Por fim, as hepatites A e E são transmitidas pelo contato com indivíduos ou água e alimentos contaminados. “Elas se manifestam em quadros agudos, mas não progridem para cirrose ou câncer de fígado”, informa o hepatologista.
Diagnóstico e tratamento das hepatites B e C
Ambas são detectadas com testes rápidos, disponíveis nas unidades básicas de saúde, que ficam prontos em até 15 minutos. Quando o resultado dá positivo, realiza-se a confirmação e avaliação complementar por exames moleculares.
A recomendação é que todo indivíduo acima de 40 anos faça o teste ao menos uma vez na vida. “E alguns indivíduos devem repetir o exame anualmente, principalmente quem usa drogas injetáveis ilícitas, profissionais do sexo e pessoa com múltiplos parceiros, pelo maior risco de exposição”, orienta o presidente do Ibrafig.
Uma vez diagnosticada, a doença tem cura. O tratamento envolve remédios orais, com alta efetividade, fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em um esquema com duração de oito a doze semanas ou seis meses (caso do tipo B), até suprimir de vez a replicação viral.
Dá para prevenir?
A vacina, disponível gratuitamente no SUS, é a principal forma de prevenção contra as versões A e B, só que as coberturas andam baixas – para alguns públicos, como os bebês, na casa dos 60%.
A imunização é feita da seguinte forma:
- Hepatite A: duas doses com seis meses de intervalo, aplicadas entre 15 meses e 5 anos de idade incompletos.
- Hepatite B: são quatro doses, uma no primeiro dia de vida e as seguintes aos 2, 4 e 6 meses de idade. Crianças mais velhas, adolescentes e adultos que não foram imunizados no primeiro ano de idade, devem procurar o posto de saúde para receber três doses, com intervalo de um a dois meses entre primeira e a segunda, e seis meses entre a primeira e a terceira.
Há ainda uma versão que contempla os dois vírus, disponível apenas na rede privada. Mas, infelizmente, ainda não foi feita uma vacina contra o tipo C. Por isso é tão importante realizar o teste rápido.
“Outras medidas necessárias para prevenir todas elas são sexo seguro e uso de material perfuro-cortante [como seringas, agulhas e alicates] descartável ou adequadamente esterilizado, nunca compartilhado”, finaliza o especialista.
Em 2018, o Brasil se comprometeu com a meta da Organização Pan-americana de Saúde (Opas) de eliminar as hepatites virais até 2030.
De olho nesse desafio, o Ibrafig criou uma central acessível por telefone ou por WhatsApp que informa a população sobre os pontos de testagem mais próximos. Para entrar em contato, basta ligar ou mandar mensagem para o número 0800 882 8222.
Julho amarelo: diagnóstico de hepatite C cai pela metade na pandemia Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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