Meses após o início da vacinação contra o coronavírus, a diferença que os imunizantes fazem na vida real está ficando mais clara. Uma análise de cerca de 60 milhões de brasileiros que receberam as duas doses da vacina Vaxzevria, da AstraZeneca, e da Coronavac, concluiu que ambas apresentam proteção de ao menos 70% contra mortes e internações.
Os achados condizem com os de uma pesquisa anterior, feita pela Fiocruz. Outra revelação importante é que pessoas com mais de 90 anos tiveram respostas menos animadoras, o que já é esperado para essa faixa etária e pode interferir na campanha de prevenção da Covid-19.
O estudo em pré-print (ainda não revisado por outros especialistas ou publicado em periódicos científicos) foi conduzido por pesquisadores das universidades federais da Bahia e de Ouro Preto (UFBA e UFOP), da Universidade de Brasília (UnB), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), da London School of Hygiene & Tropical Medicine e da Fiocruz.
Foram analisados dados de 21,9 milhões de pessoas imunizadas com a Coronavac, e 38,6 milhões com a vacina da AstraZeneca, entre janeiro e junho deste ano.
Quem recebeu as duas doses da vacina do Butantan apresentou um risco 54% menor de se infectar, 73% menor de ser hospitalizado e 74% menor de morrer de Covid-19. Mas atenção: com a primeira dose apenas, a proteção caiu para 16% contra infecção, 28% contra internação e 29% contra óbitos.
LEIA TAMBÉM: Como a eficácia e a segurança das vacinas são avaliadas após a aprovação
A Covishield ou Vaxzevria, vacina da AstraZeneca, demonstrou efetividade de 70%, 87% e 90% contra infecção, hospitalização e morte, respectivamente. Só com a primeira dose, os números foram para 33%, 51% e 49%.
O estudo mostra o efeito de mundo real das duas vacinas, que são as mais utilizadas no Brasil. “A ciência está trocando o pneu com o carro andando, e novos dados vão surgindo ao longo da campanha. Mas os resultados apontam altíssima eficiência das duas em reduzir hospitalização e óbitos“, avalia Alexandre Naime, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
A vacinação nos idosos
A diferença mais significativa apontada pelo estudo foi em relação às pessoas com mais de 90 anos. Nessa faixa etária, a efetividade da Coronavac foi de 33% na redução do risco de hospitalização e 35% no risco de morte.
O percentual de proteção com a vacina da Astrazeneca foi maior, mas também houve perdas. A queda no risco de internação foi de 56% e, no de morte, 70%.
Recentemente, outro trabalho conduzido por brasileiros também apontou para uma queda de eficácia da Coronavac nesse público. Ele foi publicado no British Medical Journal. O grupo de pesquisas Vebra Covid-19 avaliou por volta de 55 mil pessoas com mais de 70 anos de idade, que contraíram a doença entre janeiro e abril.
“Observamos que, acima dos 80, existe uma diminuição da proteção para doença sintomática. A proteção contra hospitalização fica abaixo de 40% e, contra óbito, abaixo de 50%”, explicou o infectologista Júlio Croda, durante a apresentação dos resultados.
+ Coronavac mostra maior eficácia no mundo real do que em estudo. Por quê?
Essa queda, que já vinha sendo monitorada, motivou a decisão do Ministério de Saúde de aplicar a terceira dose em pessoas com mais de 70 anos a partir deste mês.
“Pessoas idosas passam pelo processo de imunossenescência, isto é, o envelhecimento do sistema imunológico. Para esses casos, percebeu-se que a vacina da Oxford protege melhor. É possível, agora, adequar o Plano Nacional de Imunizações priorizando, por exemplo, as doses de Coronavac aos mais jovens”, explica Naime.
O reforço não precisará ser do mesmo imunizante recebido na primeira vez. Há indícios, ainda não conclusivos, de que a resposta imune pode melhorar com a combinação de vacinas.
“Os dados do estudo fornecem subsídios para a decisão dos gestores de saúde quanto a essa recomendação, mas ainda não há informações que indiquem o quanto se pode esperar de aumento da proteção com a injeção extra, pois as análises ainda estão em andamento”, explica Manoel Barral-Netto, médico e pesquisador titular da Fiocruz.
Quanto tempo dura a imunidade
Os dados analisados no estudo compreendem os registros de casos de Covid-19 e vacinas aplicadas entre o início da campanha, em janeiro, e o dia 24 de julho. Sabe-se que a imunidade pode cair com o tempo em relação a todas as vacinas, mas ainda é cedo para dar prazos mais específicos.
+ Pegar Covid-19 depois da vacina não significa que ela falhou
“Embora seja plausível prever que a efetividade diminui, não podemos estimar o quanto. Importante destacar que, no período de acompanhamento, que inclui toda a vacinação no Brasil, o declínio começa a ser observado em indivíduos acima de 80 anos e, de forma mais marcante, após os 90 anos”, reforça Barral-Netto.
O pesquisador reforça que nenhum imunizante é completamente protetor e que cuidados preventivos devem continuar. “É preciso evitar aglomerações, principalmente em lugares fechados e usar máscaras de forma sistemática”, afirma o médico da Fiocruz.
Efetividade x eficácia das vacinas
Os dados levantados tiveram a intenção de mensurar a efetividade das vacinas, que é diferente do nível de eficácia de um imunizante, medido em condições ideais e controladas, nas pesquisas clínicas que antecedem a aprovação.
Já a análise da efetividade é um levantamento baseado em evidências do mundo real, onde a vacina é colocada à prova diante de um conjunto de pessoas, em suas diferentes condições de vida e graus de exposição ao vírus.
Estudo mostra efetividade da vacina da AstraZeneca e da Coronavac Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário