segunda-feira, 31 de julho de 2023

Afirmem seus filhos

Sentada na minha escrivaninha, observo minha filha mais velha, Esther, brincando no jardim lá fora. Enquanto ela corre e ri, uma lembrança volta à minha mente.

Era uma tarde como qualquer outra, e eu estava na cozinha preparando o jantar. Esther, que sempre foi curiosa e cheia de energia, estava brincando na sala. De repente, ouvi o som de vidro se quebrando. Corri para a sala e lá estava Esther, parada em frente a um vaso quebrado, um presente de casamento que guardamos com carinho.

Nossos olhares se cruzaram e pude ver o medo em seus olhos. Ela esperava uma repreensão, talvez até uma punição.

Mas, ao invés disso, ajoelhei-me ao seu lado, respirei fundo e disse: “Esther, sei que você não quebrou o vaso de propósito. Sei que você é cuidadosa e respeitosa. Isso não muda em nada quem você é, filha.”

Lágrimas correram nos olhos dela e, por um instante, nossos olhares se cruzaram profundamente: “Me perdoa mamãe, Não foi por mal…” — sua voz quase sumindo. “Está tudo bem filhinha, era só um vaso.”

E, de repente, o vaso não era mais tão importante assim.

Afirmando caráter

Naquele momento, eu não estava simplesmente reagindo a um comportamento, estava afirmando sua identidade. E é sobre isso que eu quero conversar com vocês hoje.

Veja bem, uma criança que entende quem é, que tem seu caráter e identidade afirmados por aqueles que ela ama, cresce segura e forte. A segurança não vem do que ela faz, mas de quem ela é.

Como pais, nós temos uma missão maior do que apenas repreender ou elogiar comportamentos. Temos a tarefa de lembrar nossos filhos de suas verdadeiras identidades.

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+ Leia também: Não negligencie a criação dos seus filhos

Uma criança que sabe quem é fará o que é correto, porque isso faz parte dela. É a criança que cresce ouvindo:

“Filho, filha, eu vejo você. Eu conheço seu coração. Eu sei quem você é. E quem você é está alinhado com os valores que têm sido a base de nossa família. Eu te amo, independentemente das circunstâncias.”

A cada risada, cada expressão de carinho, vejo minhas filhas revelando um pouco mais de quem são: amorosas, inteligentes, capazes, generosas, respeitosas. E meu papel, mais do que qualquer outra coisa, é ajudá-las a entender e aceitar essas verdades sobre elas mesmas.

Este é um lembrete valioso para todos nós, pais. O caráter é mais importante que o comportamento, a identidade é mais importante que uma atitude momentânea.

Ao afirmar a identidade de nossos filhos, estamos plantando as sementes de um amor que os incentiva a serem melhores, mais fortes, mais virtuosos.

Então, queridos pais, encorajo vocês a passarem um tempo a sós com seus filhos, olhando nos olhos deles e reafirmando sua identidade. Esta é uma das lições mais importantes que podemos ensinar.

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O que são miomas uterinos? Conheça os sintomas, causas e tratamentos

Cerca de 80% das mulheres poderão desenvolver ao menos um mioma uterino até os 50 anos de idade, estima o Escritório da Saúde da Mulher do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.

Nem sempre eles precisam ser  tratados, só quando provocam sintomas. A seguir, conheça os sinais, fatores de risco e tratamentos para a condição.

O que é mioma?

Os miomas são tumores benignos (ou seja, não cancerosos) que surgem no útero.

“Eles crescem entre as fibras musculares do órgão, estimulados principalmente pelo estrogênio [hormônio] produzido pela própria mulher”, detalha Alexandre Silva e Silva, ginecologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

+ Leia também: Quais as diferenças entre os tumores benigno e maligno?

Chamados também de leiomiomas ou fibroides, eles podem ser diagnosticados com poucos milímetros, como achado incidental de exames, e só exigem intervenção quando estão relacionados a alguma queixa. 

Tipos de mioma

Os miomas podem ser classificados a partir de sua localização.

Quando eles se formam sob a superfície externa do útero, como é mais comum, são chamados de subserosos. Já aqueles que surgem na parede do órgão são os intramurais.

Há também os que aparecem abaixo do endométrio, que é a camada que reveste o útero e origina a menstruação quando se descola do órgão. Esses são os submucosos.

Diferentes tipos de miomas uterinos
Diferentes tipos de miomas uterinosBruceBlaus/Wikimedia Commons/Reprodução

Sintomas

Estima-se que apenas um terço das mulheres que têm miomas desenvolve sintomas. Entre os principais estão:

O aparecimento e a intensidade desses sinais dependem bastante de onde os tumores estão localizados, além do tamanho e da quantidade deles.

“A maioria das mulheres têm miomas pequenos e convive com eles sem nenhuma repercussão à saúde e sem precisar de tratamento”, afirma o ginecologista Agnaldo Lopes, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

+ Leia também: Conhece-te a ti mesma: a saúde íntima feminina

Causas e fatores de risco

A causa exata do desenvolvimento de miomas ainda é desconhecida, mas sabe-se que seu crescimento é estimulado por altos níveis de estrogênio.

Por isso, eles podem aumentar durante a gravidez, quando as taxas de hormônios aumentam, e são menos frequentes na menopausa, quando as reservas hormonais estão baixas.

Já os fatores de risco e prevalência são bem conhecidos. A maioria do casos de mioma são diagnosticados em mulheres negras. Além disso, enquanto metade delas pode vir a apresentar sintomas, apenas um quarto das mulheres brancas sentem sinais dos fibroides.

A obesidade também influencia o quadro. “Mulheres obesas apresentam uma diminuição da proteína SHPG [globulina ligadora de hormônios sexuais], responsável por remover hormônios esteroides da corrente sanguínea”, explica Silva e Silva.

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“Sua redução provoca um desequilíbrio entre os hormônios sexuais circulantes.”

+ Leia também: Obesidade: novos remédios, velhos dilemas

Há, ainda, outros fatores associados ao risco:

  • Estar em idade reprodutiva
  • Ter histórico familiar
  • Menarca precoce (quando a mulher tem sua primeira menstruação muito jovem)
  • Hipertensão
  • Alcoolismo
  • Deficiência de vitamina D
  • Dieta rica em carnes

Diagnóstico

Os miomas podem ser revelados por meio de exames de imagem, como o ultrassom transvaginal e a histerossonografia (ultrassonografia detalhada do útero).

Se não for possível chegar a uma conclusão com estes testes, pode ser solicitada uma ressonância magnética de pelve com contraste.

“Ela permite que os médicos visualizem bem o útero e conheçam a localização e o tamanho dos tumores com precisão”, explica o ginecologista da USP.

Vale pontuar que o aparecimento de miomas, que são tumores benignos, não está relacionado ao desenvolvimento de cânceres.

“Um não se transforma em outro, e tampouco eles têm sua incidência relacionada”, ressalta Agnaldo Lopes, que é professor de ginecologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

+ Leia também: Vacinar meninos ajuda a evitar um câncer comum em mulheres

Tratamento

Os miomas só são tratados quando provocam algum incômodo. Os cuidados podem envolver o uso de medicamentos para o alívio dos sinais e para a diminuição ou controle dos tumores.

A cirurgia para a retirada dos fibroides, chamada miomectomia, também é indicada em alguns casos. Ela pode ser feita por vídeo, com pequenas incisões no âbdomen ou entrada pela vagina. Ou ainda por meio de uma incisão maior no abdômen, com acesso direto ao mioma.

O ideal é que eles sejam removidos enquanto ainda são pequenos. Assim, o útero pode ser melhor preservado. Isso permite que a mulher, caso pretenda, engravide normalmente.

Em casos de miomas grandes e muito numerosos, porém, a histerectomia (remoção do útero) pode ser considerada.

“A presença de nódulos com essas características acaba alterando a anatomia do órgão, que se estica de forma exacerbada”, ilustra Alexandre Silva e Silva.

Dessa forma, o útero pode perder funcionalidade, não conseguindo sustentar uma gestação mais tarde, por exemplo.

Felizmente, técnicas cirúrgicas tem sido cada vez mais aprimoradas e profissionais estão sendo capacitados para realizar procedimentos menos invasivos e até mesmo com auxílio robótico. Isso acaba diminuindo os riscos cirúrgicos e melhorando a recuperação das mulheres.

No entanto, para a melhor preservação do aparelho reprodutor, o essencial mesmo é o diagnóstico precoce e acompanhamento dos tumores.

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Sem medidas de controle, mundo teria 300 milhões de fumantes a mais

Ao menos 5,6 bilhões de pessoas, cerca de 71% da população mundial, estão protegidas por pelo menos uma política pública voltada ao combate do tabaco.

O número é cinco vezes mais alto do que em 2007, de acordo com um novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado nesta segunda-feira, 31.

As taxas de tabagismo caíram no mundo nos últimos 15 anos devido às medidas de controle preconizadas pela instituição. A OMS estima que, sem esse declínio, haveria cerca de 300 milhões de fumantes a mais no mundo neste momento.

O documento da OMS sobre a epidemia global de tabaco, apoiado pela Bloomberg Philanthropies, concentra-se na proteção contra o fumo passivo, destacando que quase 40% dos países agora têm locais públicos internos totalmente livres de fumo.

Cerca de 1,3 milhão de pessoas morrem anualmente devido ao fumo passivo, estima a OMS.

Para reduzir estas estatísticas, a Convenção Quadro para o Controle do Tabagismo (tratado da entidade) tem em seu escopo a criação de ambientes livres de tabaco.

“Evidências robustas apontam que a exposição involuntária ao tabaco aumenta riscos de eventos cardiovasculares, doenças respiratórias e câncer na população em geral, e outras complicações para grávidas e fetos”, destaca o médico pneumologista Gustavo Prado, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Prado alerta que crianças expostas à fumaça têm mais sintomas respiratórios, infecções, crises de asma e menor desenvolvimento dos pulmões. Adultos podem ter o risco de infarto e câncer aumentados em 30% em comparação àqueles que não são expostos.

Histórico e conquistas recentes

O primeiro tratado internacional de saúde pública da OMS, que tinha como foco o controle do tabagismo, foi adotado em 2003 e entrou em vigor em 2005, já com o Brasil como signatário.

O relatório atual avalia o progresso do combate ao fumo e mostra que mais dois países, Maurício e Holanda, alcançaram o nível de melhores práticas em todas as medidas recomendadas pela entidade. Até agora, apenas Brasil e Turquia haviam alcançado esse patamar.

+ Leia também: Cigarros eletrônicos são um perigo para a saúde bucal

“Os dados mostram que lenta, mas seguramente, mais e mais pessoas estão sendo protegidas pelas políticas de melhores práticas baseadas em evidências da OMS”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

Os espaços públicos livres de fumo são apenas uma das políticas no conjunto de medidas para controle do tabagismo, que incluem ainda restrições à propaganda e taxação de impostos, entre outras.

Além da proteção contra o fumo passivo, estes ambientes motivam as pessoas a interromper o hábito e ajudam a impedir que os jovens comecem a fumar ou usar cigarros eletrônicos.

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“Se não fosse essa medida, os não fumantes sujeitos a manifestar as mesmas doenças que os tabagistas, apenas por permanecer nos mesmos espaços, mesmo que não ao mesmo tempo”, diz Prado.

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Tabaco é a principal causa de morte evitável no mundo, segundo a OMSFoto: Uitbundig/Unsplash/Divulgação

Impactos para a saúde

Os mais conhecidos pela população são os malefícios para o pulmão e o risco de câncer. “Na combustão do tabaco, temos diversas substâncias que são cancerígenas e que inflamam a via área pulmonar, com risco de destruição de estruturas, podendo levar a problemas como bronquite e enfisema”, afirma o médico pneumologista José Rodrigues Pereira da Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP)

Mas não é só isso. O tabagismo está relacionado ao surgimento de diversas doenças e problemas de saúde, incluindo diabetes, hipertensão, acidente vascular cerebral (AVC), tuberculose, impotência e infertilidade.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o fumo provoca a maior parte de todos os tumores de pulmão no país. Mesmo os produtos que não fazem fumaça, como o tabaco inalável ou mascado, podem levar ao desenvolvimento de câncer de cabeça, pescoço, esôfago e pâncreas, além de doenças que afetam a boca e os dentes.

Embora as taxas de tabagismo tenham diminuído, o tabaco ainda é a principal causa de morte evitável no mundo, segundo a OMS.

E o progresso é ameaçado pela ascensão dos cigarros eletrônicos, que também fazem mal à saúde, incluindo o risco de problemas respiratórios agudos, e são atraentes em especial para o público jovem.

A OMS também alerta que as emissões dos “vapes” geralmente contêm nicotina e outras substâncias tóxicas que são prejudiciais aos usuários e fumantes passivos.

Incidência no Brasil

A prevalência de tabagismo no Brasil é de 11,8%, incluindo o uso de cigarro convencional, de palha, de papel, charuto e cachimbo.

Os dados são do Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), que ouviu 9 mil pessoas, de todas as regiões do Brasil, entre janeiro e abril.

De acordo com a pesquisa, quem mais fuma são os homens (15,2% deles são fumantes, ante 8,7% das mulheres), pessoas do Sul do país (15,8% dos moradores da região fumam) e indivíduos com idades entre 45 e 54 anos (15,2% das pessoas nessa faixa têm o hábito).

O Programa Nacional de Controle do Tabagismo busca reduzir a prevalência de fumantes e a mortalidade relacionada ao consumo do tabaco e seus derivados no Brasil.

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamentos gratuitos às pessoas que desejam parar de fumar por meio de medicamentos como adesivos, pastilhas, gomas de mascar (terapia de reposição de nicotina) e bupropiona, além do acompanhamento médico.

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Bot usa IA para transcrever áudios e resumir textões do WhatsApp; veja como usar

Sabe quando você recebe aqueles áudios intermináveis, que mais parecem minipodcasts? Robô gratuito resume, numa mensagem de texto, tudo o que a pessoa falou; confira teste.

As mensagens de áudio do WhatsApp podem ser convenientes para quem manda, mas são péssimas para quem recebe – e tem de perder um bom tempo escutando. Há quem tente remediar isso ouvindo o áudio mais rápido, a 1,5x – ou simplesmente ignorando. Mas o bot LuzIA oferece uma solução melhor: transforma tudo em texto. 

Para usar o robô, basta adicionar o número dele, +55 11 97255-3036, como contato no WhatsApp. Aí, na próxima vez em que você receber um áudio, é só encaminhá-lo para o bot – e, alguns segundos depois, você receberá a mensagem transcrita em texto. 

Funciona surpreendentemente bem, inclusive em áudios que tenham ruído de fundo, má pronúncia ou gírias. O serviço é gratuito, e não tem limite de uso. Ele recebeu um aporte de 2,5 milhões de euros, de um grupo de investidores – e, segundo seus criadores, já tem 4 milhões de usuários em 40 países.

O bot, que foi criado pelo engenheiro espanhol Álvaro Higes, também tem outras funções interessantes: você pode conversar com ele, ou usá-lo para gerar imagens – para acionar esse recurso, basta começar sua mensagem com a palavra “imagina”. 

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Em um documento de apresentação do serviço, os criadores do LuzIA afirmam que o bot funciona conectado ao ChatGPT e ao Stable Diffusion (IA de geração de imagens). Porém, nos nossos testes, o robô forneceu respostas diferentes -embora bem elaboradas- que as fornecidas pelo ChatGPT.

Além disso, em algumas tentativas, a função geradora de imagens falhou – quando isso acontece, o bot responde pedindo desculpas. Já a transcrição de áudios e as conversas funcionaram todas as vezes, com rapidez – mesmo áudios longos, de 3 a 4 minutos, foram transcritos de forma quase imediata.  

Dependendo da duração do áudio, a transcrição pode ficar extensa. Mas o robô também dá um jeito nisso: é só digitar “resuma a mensagem acima” e você imediatamente recebe uma versão curtinha, de poucas linhas, só com os pontos mais importantes.

Essa mesma função serve para resumir textões enviados por outras pessoas: é só encaminhá-los para o bot (ou colar na janelinha de chat dele).

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Primo de Luzia ajuda a desvendar o passado do continente Sul-americano

Apesar do termo comum “descobrimento do Brasil”, a gente sabe que na verdade ele não foi bem descoberto. Afinal, por aqui já existia uma grande variedade de povos indígenas que habitavam essas terras antes da chegada dos europeus. Estudos sobre nossos ancestrais aqui são um dos principais tópicos da etnologia e arqueologia sul-americana, e o mais recente indica que um primo de Luzia (o mais antigo fóssil humano já encontrado no continente) é um dos ancestrais dos povos do Brasil.

Em uma pesquisa conjunta da Universidade de São Paulo e da Universidade de Tübingen, na Alemanha, os pesquisadores conseguiram extrair amostras de DNA do esqueleto de Luzio, o um indivíduo de mais ou menos 10.400 anos.

Luzio foi encontrado no Vale do Ribeira, e é o fóssil mais antigo já encontrado no estado de São Paulo. Ao analisar os resultados de seu DNA, os pesquisadores chegaram a uma conclusão: ele é ancestral das comunidades nativas aqui no continente sul-americano.

Isso por si só já seria uma grande descoberta, mas ela tem ainda um bônus. Antes, se acreditava que os primeiros brasileiros por aqui tinham uma origem diferente dos outros povos espalhados pelo continente. A pesquisa, no entanto, mostra que essa hipótese estava errada.

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“Extrair o DNA do esqueleto de Luzio era uma peça central que ainda faltava para desvendarmos as origens dos primeiros americanos. Os resultados que obtemos deixam claro que não existiu no passado uma população humana diferente na América, como se acreditou por décadas”, explica André Strauss, professor do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, e um dos autores do estudo.

Ao mesmo tempo, o estudo de Luzio possibilitou uma outra descoberta. Próximo de onde foi encontrado, os pesquisadores acharam também alguns enfeites feitos com dente de tubarão e rabo de arraia, o que pode indicar uma cultura intermediária entre os povos da costa e os povos do centro do continente.

Assim, a pesquisa também analisou o DNA de fósseis das comunidades costeiras do continente, conhecidas como Sambaquis, povo que habitou uma região de mais ou menos 3 km ao longo de toda a costa da América do Sul (o seu nome é graças às construções feitas com conchas por esses povos, e que você pode ver mais aqui). 

Apesar dos registros arqueológicos encontrados indicarem que esses povos compartilhavam certos aspectos culturais, as análises de seu genoma, na verdade, mostraram algumas diferenças. Segundo os pesquisadores, provavelmente, elas devem ter ocorrido pela interação entre os grupos da costa e do interior, o que pode ser observado no local onde foi encontrado o próprio Luzio.

 

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Conheça o chinelo para o pós-treino e o tênis que faz massagem

Quem tem uma rotina de atividade física deve saber que tão importante quanto a disciplina e a regularidade nos treinos é o descanso para o corpo se recompor.

O devido repouso é peça-chave inclusive para manter as sessões de suadouro em dia, sem percalços pelo caminho. Atenta a essa demanda, a Asics acaba de apresentar um chinelo especialmente desenhado para o pós-exercício, o Actibreeze 3D Sandal.

Projetado e produzido por cientistas da marca de origem japonesa via impressão 3D, ele conta com design e material propícios à recuperação dos pés: ajuda a controlar a temperatura e a umidade local com o máximo de conforto a cada passo.

Testamos: de fato, é como pisar nas nuvens. O preço sugerido: 799,99 reais.

Merecido descanso

O calçado foi pensado para otimizar a recuperação após uma corrida. Veja as características:

Respirar: O novo chinelo da Asics é todo feito de treliças abertas e espessas, que permitem aos pés respirar e resfriar depois de um treino ou uma prova.

Proteger: Ele dispõe de uma tecnologia para deixar os níveis de temperatura e umidade na região mais baixos, fator que resguarda a pele de fungos e outros chabus.

Acolher: O calçado tem uma base mais larga dentro de uma plataforma que prima por maciez e conforto. Com isso, consegue abraçar melhor os pés.

Revigorar: Somados, esses atributos, frutos de anos de pesquisa, ensejam uma sensação de relaxamento e favorecem a recuperação do organismo.

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+ Leia também: Pé (e suor) na areia – a moda dos esportes de praia

Um tênis que faz massagem

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Go Walk Massage Fit, da Skechers, tênis que propicia uma leve massagemFoto: Divulgação/Divulgação

As estruturas do corpo que nos levam pra lá e pra cá bem que merecem uma trégua de vez em quando. Então por que não fazer um agrado aos pés enquanto a gente anda?

Essa é a proposta do novo Go Walk Massage Fit, da Skechers, um tênis que propicia uma leve massagem enquanto você dá suas voltas por aí.

+ Leia também: Freio nos pés nas quadras de tênis

Ideal para caminhadas, ele combina sola em ondas, espuma high-tech mais leve e resistente e palmilha que promete melhor retorno de energia para oferecer passadas mais suaves a despeito do tipo de solo.

Chega às lojas por 899,99 reais.

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Vacinar meninos ajuda a evitar um câncer comum em mulheres

Com cerca de 40 mil casos previstos para 2023, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de cabeça e pescoço compreende uma série de tumores em órgãos nesta região.

Os mais comuns nos homens são os de laringe e cavidade oral e, nas mulheres, os cânceres de tireoide.

Estamos encerrando o Julho Verde, oportunidade para conscientizar a população sobre como prevenir e diagnosticar precocemente essas doenças.

Seis vezes mais comum nas mulheres, o câncer de tireoide, felizmente, tem uma baixa letalidade.

Por sua vez, nos preocupamos com os cânceres de cavidade oral (boca, língua, gengiva, etc), laringe e orofaringe (garganta). Esses tumores são quatro a seis vezes mais prevalentes nos homens.

Os principais vilões nesse caso são o tabagismo, o consumo de álcool e a infecção pelo papilomavírus humano (HPV). Este último fator de risco está associado com o aumento dos casos, principalmente, de câncer de orofaringe (base da língua e amígdalas).

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Queda na cobertura vacinal contra o HPV

A prevenção do HPV é possível por meio de vacinação. Uma boa notícia é que a vacina quadrivalente (que protege contra os HPVs 6, 11, 16 e 18) está disponível no Sistema Único de Saúde para todos os meninos e meninas a partir dos 9 anos.

Os tipos 16 e 18 são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo de útero, e são os mais presentes também entre os tumores de cabeça e pescoço causados por HPV. Os tipos 6 e 11 provocam 90% das verrugas genitais.

A má notícia é que é baixa a taxa de cobertura vacinal no país.

Dados divulgados pelo Ministério da Saúde em 2023 apontam que 87% das meninas brasileiras entre 9 e 14 anos receberam a primeira dose da vacina contra HPV em 2019. Em 2022, a cobertura caiu para 75,81%.

Entre os meninos, a taxa de imunização foi de 61,55%, em 2019, para 52,16%, em 2022.

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+ Leia também: Vacina do HPV: “a melhor cura para o câncer é não ter o câncer”

Com essa queda de adesão, perde-se uma janela de oportunidade de prevenir a grande maioria dos casos de tumores de cabeça e pescoço, assim como o câncer ginecológico mais comum, que é o de câncer de colo do útero.

Aliás, é justamente com o câncer de colo uterino a mais estreita relação entre uma etiologia (causa) e um tipo de câncer. O HPV é responsável por quase todos os casos de tumores malignos colo uterinos.

A chance de eliminar um câncer

Quando a imunização contra HPV é oferecida para meninos e meninas, ocorre uma quebra na cadeia de transmissão. Está depositada na vacina a definição da meta, estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de eliminar do mundo o câncer de colo do útero.

Dentre os países que alcançaram altas taxas de cobertura vacinal contra o HPV, estão a Austrália e o Canadá.

Eles já notaram na prática o impacto da imunização coletiva, com reduções significativas nas infecções por HPV, lesões cervicais pré-cancerosas (NIC) e verrugas genitais — estas últimas tanto em mulheres quanto em homens.

Além da vacina, o uso de preservativo durante a relação sexual é fundamental para prevenir doenças sexualmente transmissíveis, dentre elas o HPV.

Porém, não impede totalmente o risco de infecção, pois o vírus pode estar presente em áreas não protegidas pela camisinha como vulva, região pubiana e perineal ou na bolsa escrotal.

*Glauco Baiocchi Neto é cirurgião oncológico, presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) e líder do Centro de Referência em Tumores Ginecológicos do A.C.Camargo Cancer Center (SP).

Thiago Bueno de Oliveira é oncologista clínico, presidente do Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço (GBCP) e líder do grupo de cabeça e pescoço do Departamento de Oncologia Clínica do A.C.Camargo Cancer Center (SP)

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domingo, 30 de julho de 2023

Por que sonhamos?

Os sonhos servem para nos manter dormindo, diria Freud, sem pestanejar. Há mais de um século, ele apontou que os sonhos continham material que nos era de profundo interesse, para que o trabalho do sono pudesse acontecer. 

Quem nunca esteve diante de uma criança com sono que começa a manifestar o desejo de comer, brincar ou qualquer outra coisa que a mantenha acordada?

O criador da psicanálise conclui, com base nesta constatação e outras, que o sonho é uma forma de realização desses desejos durante a noite.

Freud contribuiu significativamente para a compreensão do funcionamento psíquico com o famoso A Interpretação dos Sonhos e todos os materiais adjacentes. 

+ Leia também: Encontro marcado com Freud

É fato que alguns pesquisadores atacaram suas proposições ao longo do tempo e que ainda hoje o fazem, sobretudo aqueles que se reconhecem como cientistas, baseados em evidências. 

Só que os neurocientistas vêm confirmando, sistematicamente, em estudos de neuroimagem e de marcadores fisiológicos, a validade do pensamento deste que foi um expoente neurocientista, antes de se dedicar exclusivamente à psicanálise. 

Freud estava, literalmente, 100 anos à frente de seu tempo.

A psicanálise, o método construído por ele, é, ao mesmo tempo, uma forma de investigação, uma terapêutica e uma maneira de produzir conhecimento crítico e com rigor científico. 

Foi por meio desse método que pudemos conhecer o funcionamento dos sonhos um século antes do desenvolvimento das tecnologias que estão começando a confirmar hoje o que nós, psicanalistas, já sabíamos.

No livro O Oráculo da Noite (Companhia das Letras), Sidarta Ribeiro, neurocientista dos mais respeitados de nosso país, recupera, já no título, uma ideia central, que também é de valia para esse breve texto. 

Os sonhos tiveram papel importantíssimo para a vida nas sociedades antigas, ocupando o lugar de prever o futuro, como um oráculo. Tal lugar social do sonho foi substituído pelos avanços científicos e tecnológicos. 

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Este lugar de previsão do futuro ficou relegado à vida privada, quando ainda acontecia. Freud nos mostra que o papel de oráculo conferido ao sonho faz total sentido.

Uma vez portadores e mensageiros de desejos, sobretudo aqueles que não temos consciência, eles seriam a porta para um futuro esplendoroso.

+ Leia também: O que os sonhos revelam sobre tempos críticos

Quem se ateve à trama Piratas do Caribe percebeu que o Capitão Jack Sparrow (Johnny Depp) tinha uma bússola que parecia estar quebrada, pois não apontava para o norte. 

A parte genial do filme está na sutileza, que faz com que alguns telespectadores percebam que se trata, na verdade, de uma bússola mágica. Em vez do norte, ela apontava para onde o Capitão deveria ir: ao encontro daquilo que deseja. 

A bússola está para Jack Sparrow, na fábula, assim como o sonho para nós, na vida real. A “magia” da interpretação do sonho ganha método pela psicanálise.

Freud nos ensinou analisar o sonho como um método de decodificação dessa “bússola mágica” presente em cada um de nós.

Eu ousaria ir além de Freud ao responder à pergunta contida no título, evidentemente reconhecendo a inegável contribuição dele e de Sidarta para meu arrojo. Sonhamos porque navegar é preciso! Os sonhos são a bússola.

Se você está à deriva, provavelmente é por ter jogado a sua ao mar.

*Ronaldo Coelho, psicólogo, mestre em psicologia institucional pela Universidade de São Paulo (USP) e idealizador e professor do curso Análise do Discurso na Clínica Psicanalítica. Atua como psicanalista em seu consultório particular e mantém o canal Conversa Psi no YouTube.

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sábado, 29 de julho de 2023

Uma breve história da cadeira de plástico

Em 2008, baixou a lei na Basileia: para preservar a paisagem urbana da cidade (a terceira maior da Suíça, com 195 mil habitantes), as cadeiras de plástico foram banidas de todo tipo de espaço público.

“Preservar a paisagem urbana” é um jeito educado de dizer que a prefeitura achava as cadeiras um horror. De 2008 a 2017 (quando a proibição caiu), a Basileia foi o único lugar do mundo sem os assentos de plástico – e não é exagero dizer isso.

As cadeiras estão em todo lugar. Não falo apenas do boteco que você bate ponto ou do salão de festas do seu condomínio. Com os mais variados formatos e cores, elas são onipresentes – há uma galeria colaborativa no Flickr, inclusive, em que os usuários compartilham fotos das cadeirinhas nos cantos mais aleatórios do planeta.

Esse tipo de cadeira é chamado de Monobloc (“monobloco”). Faz sentido – afinal, ela não é montada em partes: todo o móvel consiste numa única peça de plástico (no caso, o polipropileno). A versão atual nasceu nos anos 1980 – inspirada em diversos modelos que já existiam desde os anos 1940.

Quer você ache a Monobloc bonita ou não, é inegável que ela talvez seja uma das peças de designs mais bem-sucedidas do século 20. Mas, afinal, como essa cadeira surgiu? E como conquistou o mundo? Vamos à sua história.

Dança das cadeiras

Em 1946, o designer canadense Douglas Simpson criou a avó das atuais cadeiras de plástico (você pode ver uma foto do móvel na imagem abaixo). Mas foi apenas um protótipo: a tecnologia da época impedia que o molde fosse usado para produzir peças em larga escala (foi só nos anos 1950 que a indústria do plástico deslanchou, com processos mais baratos de produção).

Linha do tempo de cadeiras de plásticos.
<span class="hidden">–</span>Neo/Youtube/Cristielle Luise/Arte/Montagem sobre reprodução

Em 1960, o designer dinamarquês Verner Panton lançou a Panton Chair – a primeira cadeira de plástico feita a partir de molde único produzida em larga escala. Também chamada de “cadeira S” pelo seu formato, ela virou um clássico instantâneo: é prática (as cadeiras, empilháveis, foram ficando cada mais leves com o passar das décadas) e bonita – apareceu em inúmeros ensaios de revistas e integra até hoje coleções permanentes de museus como o MoMA (Nova York) e o Museu do Design (Londres).

Na década de 1960, outros designers, inspirados pela Panton Chair, criaram as suas próprias versões de cadeiras de plástico. As mais notáveis são a Bofinger Chair, do arquiteto alemão Helmut Bätzner (Bofinger é o nome da empresa que produziu as cadeiras), e a Chair Universale, do designer italiano Joe Colombo (feita não em um único molde como as outras, mas a partir de várias peças montáveis).

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Na década de 1970, ficou ainda mais barato usar termoplásticos para fazer móveis e outros tipos de objetos (termoplásticos são plásticos que, a partir de altas temperaturas, conseguem ser moldados com facilidade). Não faltaram, então, novos modelos de cadeiras – como a Fauteuil 300, do francês
Henry Massonnet, lançada em 1972.

Em 1983, a empresa francesa Grossfillex lançou a Resin Garden Chair (“cadeira de jardim de resina”). Ela era branca e o encosto era vazado (característica que a maioria das Monoblocs incorporaram posteriormente). Produzida em massa e por um preço acessível, virou um fenômeno – e consolidou a onipresença das cadeiras de plástico mundo afora.

Modo de fazer

Para produzir uma Monobloc, usa-se polipropileno. Em uma máquina, grãos desse plástico são aquecidos a 220ºC para virarem uma pasta maleável. Esse material, então, é injetado em um molde. Assim que o plástico esfria, a cadeira está prontinha (você pode ver mais detalhes desse processo neste vídeo do canal neo).

Os moldes são caros – chegam a custar alguns milhões de dólares. Mas o investimento compensa: a matéria-prima é barata, a produção é rápida e demanda pouca mão de obra. Para produzir uma única cadeira, gasta-se US$ 3, em média (o preço de venda é de US$ 10; no Brasil, você encontra cadeiras entre R$ 30 e R$ 50).

Importante ressaltar que, mesmo com o sucesso do modelo da Grossfillex, não existe nenhum registro de patente para o design das cadeiras monobloco – o que também ajuda a explicar porque esse método de produção se espalhou pelo mundo.

Símbolo da globalização

A Monobloc já virou tema de discussões acadêmicas – como a que o professor Ethan Zuckerman levantou em 2011, quando ocupava o cargo de diretor de estudos de mídia cívica no MIT, nos EUA. Na época, Zuckerman ficou fascinado pelo fato da Monobloc ser um dos poucos objetos “livre de contexto” que existem:

“Praticamente todo objeto sugere um tempo e um lugar”, escreveu Zuckerman em seu blog. “O Monobloco é um dos poucos objetos em que consigo pensar que está livre de qualquer contexto específico. Ver uma cadeira de plástico branca em uma fotografia não oferece nenhuma pista sobre onde ou quando você está. Tenho dificuldade em pensar em outros objetos que produzam o mesmo efeito.”

O professor argumenta que mesmo marcas com forte presença internacional, como Coca-Cola e McDonald`s (dois dos grandes símbolos da globalização), investem em produtos e identidades locais para se consolidar – você só encontra o Cheddar McMelt num Méqui brasileiro, por exemplo.

“Os poucos objetos como o Monobloc (…) merecem alguma forma especial de reconhecimento”, continua. “Eles alcançaram um nível de perfeição de design em que não precisam de adaptação para darem certo, seja na África, seja nos rincões da América.”

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A saúde das jogadoras de futebol feminino

O futebol feminino hoje é uma realidade indiscutível, basta ligar a TV e assistir a um jogo da Copa do Mundo para comprovar. Mas nem sempre foi assim. Apesar de não ser o único, o caso do Brasil é um dos mais emblemáticos quando se trata da proibição às mulheres no futebol.

Isso porque, diferentemente de outros países, o governo não impediu apenas a existência de associações femininas no esporte, mas a prática da modalidade como um todo. O futebol feminino só foi devidamente regulamentado por aqui em 1983.

Desde então, a modalidade vem crescendo e se profissionalizando. O número de praticantes aumentou exponencialmente, e a busca pela melhor performance trouxe maior exposição às atletas. Isso resultou, por consequência, em um aumento no número de lesões.

+ Leia também: Ganho muscular é igual em treinos com carga alta ou mais repetições

As lesões entre elas

Os estudos na modalidade avançaram, e, nos últimos 20 anos, os números mostram não só que as mulheres estão se lesionando mais, mas em taxas maiores do que os homens.

No futebol, por exemplo, atletas do sexo feminino têm um risco quatro vezes maior de sofrer uma lesão ligamentar do joelho.

As lesões mais frequentes são as entorses de tornozelo, seguidas pelas de joelho, sendo a lesão do LCA (Ligamento Cruzado Anterior) a mais frequente desse segmento.

E esses dados se extrapolam pra outras modalidades. Na corrida de rua, o índice é de um homem para sete mulheres lesionadas para a mesma intensidade e volume dos treinos.

Para o basquete, a taxa foi de 0,6 por 1.000 atletas mulheres em comparação com 0,07 por 1.000 atletas homens.

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Lesões mais frequentes são as entorses de tornozelo, seguidas pelas de joelhoFoto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Divulgação

Por que elas se machucam mais?

Existem várias teorias para explicar a diferença.

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Características anatômicas, neuromusculares, hormonais são alguns dos fatores que nos diferenciam e nos aproximariam dessas lesões.

Pesa também para isso o fato de a profissionalização do esporte ainda estar em andamento. Muitos clubes da série A, por exemplo, ainda não possuem estrutura suficiente pra prestar suporte físico adequado a essas atletas.

+ Leia também: Pé (e suor) na areia – a moda dos esportes de praia

Prevenção é ação contínua

Independente da causa das lesões, o fato é que elas acontecem, e cada vez mais a medicina do esporte se direciona para tentar preveni-las.

Enxergar a prevenção como um conjunto de medidas, e não como uma ação específica, nos coloca em um cenário mais positivo.

É tarefa de todos os profissionais envolvidos nos bastidores – comissão técnica, staff, departamento médico, preparadores físicos, equipe de performance – buscar soluções para reduzir o número de lesões.

Ter bons profissionais juntos nesse processo é fundamental.

Na fisioterapia, além de condutas focadas na recuperação, há um trabalho voltado a biomecânica do gesto esportivo, buscando, por meio da melhora do padrão motor, garantir a qualidade do movimento em situações de risco.

Tais ações são imprescindíveis para manter a segurança e longevidade das nossas atletas.

*Jessica Fernandes, fisioterapeuta líder na Care Club – Ibirapuera, gestora dos cursos de especialização em Fisioterapia Esportiva do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do setor de Fisioterapia do Futebol Feminino Profissional do SPFC.

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sexta-feira, 28 de julho de 2023

Hepatite viral: muitos brasileiros vivem com a doença, poucos sabem

As hepatites virais são infecções que afetam o fígado, consideradas um problema de saúde pública.

Em geral, são doenças silenciosas, que podem permanecer anos sem apresentar sintomas. Para se ter ideia, estima-se que um milhão de brasileiros tenha hepatite B, mas apenas 264 mil foram diagnosticados e uma parcela ainda menor, de 41 mil, faz o tratamento.

Em alguns casos, porém, despertam quadros agudos e exigem atenção médica imediata. Os impactos para o organismo variam conforme a intensidade da doença, mas ela pode se tornar crônica levar a complicações como cirrose e câncer no fígado.

No Brasil, a maior parte dos casos está associada aos vírus A, B e C. As hepatites D e E ocorrem com menos frequência, sendo o vírus D mais comum na região Norte do país.

+ Leia também: O maior órgão de todos os tempos nas últimas semanas

Tipos de hepatite viral

Hepatites A e E

As infecções pelas hepatites A e E acontecem principalmente a partir do consumo de água e alimentos contaminados com fezes que contenham os vírus. Áreas desprovidas de saneamento básico, sem tratamento de água e esgoto, favorecem a propagação das duas doenças.

O contágio também ocorre a partir do contato próximo entre pessoas, como indivíduos que convivem na mesma casa ou crianças em creches, como no momento da troca de fraldas sem a higienização correta das mãos.

As doenças podem ainda ser transmitidas a partir de relações sexuais que incluam interações entre boca e ânus.

No caso específico da hepatite E, o vírus também é disseminado pela ingestão de carne mal cozida ou produtos derivados de animais infectados, como fígado de porco, por exemplo.

As duas doenças podem não apresentar sinais. Entre os sintomas mais comuns estão cansaço, mal-estar, febre e dores musculares.

Os pacientes também têm impactos gastrointestinais como enjoo, vômitos, dor abdominal, constipação ou diarreia, além da presença de urina escura, pele e olhos amarelados — quadro chamado de icterícia.

+ Leia também: Hepatites virais: não podemos deixar ninguém para trás

O diagnóstico é feito a partir de exame de sangue, a partir do qual se realiza a pesquisa por anticorpos contra os vírus A e E.

Geralmente, os casos são autolimitados e a evolução das doenças é benigna. Não existem medicamentos específicos para o tratamento desses dois tipos de hepatite.

Os cuidados recomendados são evitar a automedicação, para reduzir os riscos de sobrecarga do fígado, além de alimentação equilibrada e a ingestão de água para reposição de fluidos perdidos.

Hepatites B e C

A transmissão desses dois tipos de vírus pode ocorrer por relações sexuais desprotegidas ou da mãe para o filho, durante a gestação ou no momento do parto — embora as duas formas sejam menos frequentes no caso da hepatite C.

O contágio também se dá pelo contato com sangue contaminado, que pode estar presente em materiais capazes de furar ou cortar a pele, incluindo seringas, equipamento utilizado para fazer tatuagem e itens de manicure, como alicates de unha.

A maioria dos indivíduos com hepatite B não apresenta sintomas, o que atrasa o diagnóstico.

Em muitos casos, a detecção é feita décadas após a infecção, já em fase avançada, devido a sinais relacionados a problemas no fígado, como cansaço, tontura, enjoo e vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados.

O surgimento de sintomas causados pela hepatite C também é muito raro, sendo que cerca de 80% das pessoas não apresentam qualquer manifestação, de acordo com o Ministério da Saúde.

Para as duas doenças, o diagnóstico inicial pode ser feito a partir da realização de testes rápidos, oferecidos em Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Ensaios laboratoriais confirmatórios podem ser solicitados pelo médico responsável pelo atendimento.

“É importante pedir para fazer o exame de hepatite em consultas médicas ou procurar os postos de saúde que tenham o teste rápido. Recomendamos a realização a partir dos 30 anos para hepatite B e a partir dos 40 anos para hepatite C”, diz Livia Villar, chefe do Laboratório de Hepatites Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

A hepatite B não tem cura. O tratamento, disponibilizado pelo SUS, reduz o risco de progressão e de complicações, como a cirrose e o câncer hepático. Os medicamentos prescritos são a alfapeginterferona, o tenofovir, o entecavir e o tenofovir alafenamida, que podem ser tomados ao longo da vida.

A hepatite C, por sua vez, tem cura, e foram alcançados avanços significativos na terapia nos últimos anos. Os pacientes recebem antivirais pelo prazo de 8 ou 12 semanas, em média, e os remédios são disponibilizados pelo SUS.

“Hoje, existem medicamentos antivirais de ação direta, como o sofosbuvir, que vão proporcionar uma taxa de cura superior a 95%. O tempo de tratamento pode variar de acordo com o grau de lesão hepática de cada pessoa, mas não é um medicamento para se tomar a vida toda”, afirma Livia.

As hepatites B e C são consideradas a principal causa de câncer no fígado. Daí a importância de fazer os testes e, melhor ainda, prevenir as infecções.

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Prevenção das hepatites virais

Além da adequação de redes de saneamento, a prevenção das hepatites A e E inclui a manutenção de hábitos de higiene, com destaque para a lavagem das mãos e de alimentos e a limpeza regular de pratos, copos e talheres.

O mais importante é que existem vacinas contra a hepatite viral disponíveis gratuitamente para a maioria dos tipos.

O imunizante contra a hepatite A faz parte do calendário infantil do Ministério da Saúde, no esquema de uma dose aos 15 meses de idade (podendo ser utilizado até 5 anos incompletos nas Unidades Básicas de Saúde).

As sociedades brasileiras de Pediatria (SBP) e de Imunizações (SBIm), contudo, recomendam duas aplicações, aos 12 e 18 meses de idade.

A vacina também é disponibilizada gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) para pessoas com condições clínicas de risco para a hepatite A.

A lista inclui portadores de doenças crônicas do fígado, pessoas com o vírus das hepatites B e C, distúrbios de coagulação, pessoas que vivem com HIV, imunodeprimidos, transplantados de órgão sólido ou de medula óssea, entre outros.

+ Leia também: Já olhou para o seu fígado?

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Para a prevenção da hepatite B, a vacina está disponível no SUS para pessoas de todas as idades.

O Ministério da Saúde recomenda a imunização com quatro doses: ao nascer, aos 2, 4 e 6 meses de idade (na forma da vacina pentavalente). Para os adultos, o esquema completo conta com três doses.

“Inicialmente, era uma vacina apenas para crianças. O Ministério da Saúde foi ampliando para grupos específicos e agora ela está disponível em qualquer posto de saúde, para qualquer idade. Se você fez o teste e não tem proteção para hepatite B, recomenda-se a busca pela vacinação”, orienta Livia.

Para a hepatite C, não há imunização. As medidas preventivas, que também valem para a hepatite B, são: usar preservativo sempre, não compartilhar objetos como lâminas de barbear, escovas de dente e equipamentos de manicure, além de ter atenção quanto à higiene de serviços de tatuagem e aplicação de piercings.

+ Leia também: HIV: 17% das pessoas com o vírus ainda não fazem o tratamento

Hepatite Delta

A hepatite D, também chamada de Delta, é mais rara e encontrada com mais facilidade na região Norte do Brasil. Para que a transmissão ocorra, uma pessoa precisa obrigatoriamente ter sido infectada previamente com o vírus da hepatite B.

Nesse contexto, as características gerais entre as duas doenças são semelhantes, incluindo formas de transmissão, sinais e sintomas, tratamento e prevenção.

O diagnóstico da hepatite Delta é sorológico, ou seja, consiste na detecção de anticorpos através do exame de sangue. A confirmação também considera informações clínicas, epidemiológicas e demográficas do paciente.

Casos no Brasil

No período de 2000 a 2022, foram confirmados mais de 750 mil casos de hepatites virais no Brasil pelo sistema de vigilância do Ministério da Saúde.

Veja os indicadores por tipo de vírus:

  • hepatite A: 169.094 casos (22,5%)
  • hepatite B: 276.646 casos (36,9%)
  • hepatite C: 298.738 casos (39,8%)
  • hepatite D: 4.393 casos (0,6%)
  • hepatite E: 1.780 casos (0,2%)

A distribuição variou entre as cinco regiões brasileiras.

O Nordeste concentra a maior proporção das infecções pelo vírus A (30%). No Sudeste, estão as maiores proporções dos vírus B e C, com 34,2% e 58,3%, respectivamente.

Por sua vez, a região Norte acumula 73,1% do total de casos de hepatite D.

Segundo Luís Edmundo Pinto da Fonseca, hepatologista do Centro Especializado em Aparelho Digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, as hepatites virais podem ser classificadas  como agudas, que se resolvem em até seis meses, e crônicas, com mais de seis meses de duração.

“É fundamental conscientizar a população sobre as diferentes formas de transmissão das hepatites virais e a adoção de medidas preventivas. Informações precisas e acesso a serviços de saúde são necessários para reduzir a incidência e o impacto dessas doenças”, diz Fonseca.

Julho amarelo e o Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais

Julho é considerado o mês dedicado à conscientização sobre as doenças, com destaque para 28 de julho, o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais. A campanha Julho Amarelo destaca a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado.

“A cor amarela foi escolhida para fazer uma alusão à icterícia, que é caracterizada pela pele amarelada nos casos de hepatite aguda, principalmente. O mês comemorativo reforça ainda necessidade nacional de reforçar a cobertura vacinal, que continua aquém do estabelecido pela OMS”, diz a infectologista Cristiana Meirelles, gerente médica da healthtech Beep Saúde.

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Enquete: você já foi enganado por uma falsa promessa de cura natural?

Se aproveitando de uma fiscalização quase inexistente, empresas e profissionais de saúde lucram vendendo falsas curas na internet.

Os anúncios prometem resolver com medidas alternativas doenças na verdade incuráveis, como Alzheimer e diabetes.

Em geral, as estratégias mesclam terapias com alguma inspiração na ciência, como os ajustes de estilo de vida, à pura pseudociência. Entram na lista ervas milagrosas, suplementos alimentares, medicina ortomolecular, homeopatia e outras práticas.

O discurso é sedutor e capaz de enganar muita gente, incluindo os próprios profissionais de saúde. Portanto, queremos saber:

 

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Novo medicamento muda a vida de pessoas com fibrose cística; falta acesso

A fibrose cística (FC) é uma doença rara, genética, grave e de caráter progressivo que pode colocar a vida do paciente em risco mesmo nos primeiros anos de vida.

Ela decorre de um erro na produção da proteína CFTR. Essa proteína forma um canal de cloro nas células, estrutura responsável por manter o equilíbrio dos íons no corpo humano, que é necessário para que haja uma adequada produção de muco e suor.

Nestes indivíduos, o suor torna-se mais salgado, surgindo daí o nome pelo qual a enfermidade era conhecida no passado: “doença do beijo salgado”.

Dizia-se que se a mãe sentisse esse gosto de sal ao beijar o filho, estaria amaldiçoada e perderia seu filho em poucos meses.

Além do suor, outras secreções no corpo também são alteradas como o muco produzido pelos pulmões, que se torna mais espesso.

Por conta disso, secreções ficam acumuladas nas vias aéreas, favorecendo infecções respiratórias recorrentes e bronquiectasias (danos irreversíveis com dilatação dos brônquios, estruturas fundamentais do pulmão).

Atualmente, a maior parte dos pacientes no Brasil falece antes dos 20 anos por insuficiência respiratória, caso não possam ser encaminhados para lista de transplante pulmonar.

Outros órgãos, como pâncreas e fígado também podem ser acometidos, aumentando a complexidade da doença e seu manejo.

Ela acomete hoje um a cada 2,5 mil nascidos vivos no país, segundo dados do Ministério da Saúde.

+ Leia também: O retrato da fibrose cística no Brasil

Desafios no tratamento

Por se tratar de uma doença multissistêmica e progressiva, um dos maiores desafios do manejo da fibrose cística é a alta carga de tratamento aos quais os pacientes são submetidos.

Atualmente, diversas drogas estão disponíveis, com eficácia comprovada e ganhos tanto na qualidade como na expectativa de vida.

Um dos pilares do tratamento é melhorar a retirada de secreção dos pulmões. Devido ao acúmulo de secreção espessa no órgão, são usados diversos medicamentos por via inalatória com intuito de fluidificar e dissolver o muco.

Outro aspecto fundamental é tratamento gastrointestinal e suporte nutricional.

Entretanto, para tentar manter a função pulmonar e de outros órgãos, estes pacientes recebem em média 4 inalações diferentes por dia e ingerem mais de 20 comprimidos distintos.

É importante ressaltar que todos estes tratamentos atuais focam no controle das consequências da doença. Os remédios agem controlando e retardando a progressão dos sintomas.

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O defeito primário da doença não é atingido por estes tratamentos.

Portanto, mesmo com todo esse arsenal terapêutico, apenas metade dos pacientes vive mais do que 40 anos no mundo.

No Brasil, os dados de sobrevida são piores, com menos de 30% dos pacientes fibrocísticos atingindo idade superior a 18 anos.

Novos horizontes

Atualmente, vive-se uma nova era no tratamento, com promissoras expectativas no manejo da doença.

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Estão sendo estudadas drogas que agem especificamente em determinadas mutações genéticas, com o intuito de restabelecer a função da proteína CFTR.

Desta forma, esses novos fármacos agem diretamente na causa da doença, com a possibilidade de alterar evolução natural da fibrose cística.

Em 2019, foi aprovada nos EUA a terapia tripla elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor, a primeira capaz de tratar de forma efetiva a mutação mais comum na FC, presente em mais de 60% dos pacientes.

O uso da terapia tripla mostrou elevados ganhos de função pulmonar e na melhora nutricional dos pacientes, assim como controle das infecções respiratória e dos sintomas.

Eficácia inédita

Imagine passar uma vida inteira tossindo diariamente e com os pulmões repletos de secreções, sempre cansado e com dificuldade de realizar até mesmo as tarefas mais simples do dia a dia.

Após 3 dias do início deste novo tratamento, os pacientes já relatam uma melhora expressiva dos seus sintomas.

A secreção e a tosse desaparecem, a disposição melhora e o esforço física não mais é incapacitante.

A eficácia do tratamento é tamanha, que, após iniciar a terapia, os pacientes não conseguem mais comprovar a existência da doença através do teste do suor (que mede o quão salgado o suor é).

A função da proteína CFTR é restaurada e, a partir daquele momento, é como se a doença não mais existisse.

É claro que algumas sequelas permanecessem e alguns outros tratamentos precisam ser mantidos. Entretanto, o paciente passa a viver numa situação muito mais favorável.

Além disso, o uso da terapia tripla em estágios mais precoces da doença tem o potencial de até mesmo evitar que as consequências se estabeleçam ao longo dos anos.

Falta o acesso

No Brasil, a FC é diagnosticada com o teste do pezinho. Assim, temos a chance de garantir que milhares de indivíduos que convivem com essa doença possam voltar a sonhar com uma vida sem limitações.

Os benefícios clínicos com essa nova classe de tratamento são incontestáveis. Poucas vezes na medicina nos deparamos com um tratamento tão disruptivo e com potencial de alterar a evolução natural de uma doença tão grave.

O remédio atualmente encontra-se em avaliação pela Conitec, comissão que decide sobre a incorporação de drogas ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Medicamentos para doenças raras são conhecidos pelos seus elevados custos, visto que o processo de desenvolvimento é caro e poucos indivíduos são elegíveis ao tratamento.

Entretanto, precisamos lembrar que um dos princípios do SUS é a equidade. Equidade não significa tratarmos todos de forma igual. O princípio leva em conta que locais e pessoas diferentes têm necessidades diferentes. Por isso, soluções e esforços diferentes devem ser feitos de acordo com o contexto em questão.

A não incorporação de um tratamento tão eficaz e potencialmente modificador de tantas vidas é inaceitável.

A ação conjunta e uma proximidade entre os diversos participantes desse cenário são fundamentais. Governo, sociedades médicas, associações de pacientes e empresas farmacêuticas devem trabalhar juntas para trazer para a prática o que a ciência trouxe de avanço.

A fibrose cística é apenas um exemplo. Várias outros novos tratamentos para outras doenças raras também vêm sendo descobertos, com resultados igualmente promissores.

Ter uma condição de saúde debilitante é muito difícil. Pior ainda é saber que existe algo que pode ser feito e não o acessar.

* Rodrigo Athanazio é pneumologista e médico assistente da Divisão de Pneumologia do Instituto do Coração (InCor) – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

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