Em 2008, baixou a lei na Basileia: para preservar a paisagem urbana da cidade (a terceira maior da Suíça, com 195 mil habitantes), as cadeiras de plástico foram banidas de todo tipo de espaço público.
“Preservar a paisagem urbana” é um jeito educado de dizer que a prefeitura achava as cadeiras um horror. De 2008 a 2017 (quando a proibição caiu), a Basileia foi o único lugar do mundo sem os assentos de plástico – e não é exagero dizer isso.
As cadeiras estão em todo lugar. Não falo apenas do boteco que você bate ponto ou do salão de festas do seu condomínio. Com os mais variados formatos e cores, elas são onipresentes – há uma galeria colaborativa no Flickr, inclusive, em que os usuários compartilham fotos das cadeirinhas nos cantos mais aleatórios do planeta.
Esse tipo de cadeira é chamado de Monobloc (“monobloco”). Faz sentido – afinal, ela não é montada em partes: todo o móvel consiste numa única peça de plástico (no caso, o polipropileno). A versão atual nasceu nos anos 1980 – inspirada em diversos modelos que já existiam desde os anos 1940.
Quer você ache a Monobloc bonita ou não, é inegável que ela talvez seja uma das peças de designs mais bem-sucedidas do século 20. Mas, afinal, como essa cadeira surgiu? E como conquistou o mundo? Vamos à sua história.
Dança das cadeiras
Em 1946, o designer canadense Douglas Simpson criou a avó das atuais cadeiras de plástico (você pode ver uma foto do móvel na imagem abaixo). Mas foi apenas um protótipo: a tecnologia da época impedia que o molde fosse usado para produzir peças em larga escala (foi só nos anos 1950 que a indústria do plástico deslanchou, com processos mais baratos de produção).
Em 1960, o designer dinamarquês Verner Panton lançou a Panton Chair – a primeira cadeira de plástico feita a partir de molde único produzida em larga escala. Também chamada de “cadeira S” pelo seu formato, ela virou um clássico instantâneo: é prática (as cadeiras, empilháveis, foram ficando cada mais leves com o passar das décadas) e bonita – apareceu em inúmeros ensaios de revistas e integra até hoje coleções permanentes de museus como o MoMA (Nova York) e o Museu do Design (Londres).
Na década de 1960, outros designers, inspirados pela Panton Chair, criaram as suas próprias versões de cadeiras de plástico. As mais notáveis são a Bofinger Chair, do arquiteto alemão Helmut Bätzner (Bofinger é o nome da empresa que produziu as cadeiras), e a Chair Universale, do designer italiano Joe Colombo (feita não em um único molde como as outras, mas a partir de várias peças montáveis).
Na década de 1970, ficou ainda mais barato usar termoplásticos para fazer móveis e outros tipos de objetos (termoplásticos são plásticos que, a partir de altas temperaturas, conseguem ser moldados com facilidade). Não faltaram, então, novos modelos de cadeiras – como a Fauteuil 300, do francês
Henry Massonnet, lançada em 1972.
Em 1983, a empresa francesa Grossfillex lançou a Resin Garden Chair (“cadeira de jardim de resina”). Ela era branca e o encosto era vazado (característica que a maioria das Monoblocs incorporaram posteriormente). Produzida em massa e por um preço acessível, virou um fenômeno – e consolidou a onipresença das cadeiras de plástico mundo afora.
Modo de fazer
Para produzir uma Monobloc, usa-se polipropileno. Em uma máquina, grãos desse plástico são aquecidos a 220ºC para virarem uma pasta maleável. Esse material, então, é injetado em um molde. Assim que o plástico esfria, a cadeira está prontinha (você pode ver mais detalhes desse processo neste vídeo do canal neo).
Os moldes são caros – chegam a custar alguns milhões de dólares. Mas o investimento compensa: a matéria-prima é barata, a produção é rápida e demanda pouca mão de obra. Para produzir uma única cadeira, gasta-se US$ 3, em média (o preço de venda é de US$ 10; no Brasil, você encontra cadeiras entre R$ 30 e R$ 50).
Importante ressaltar que, mesmo com o sucesso do modelo da Grossfillex, não existe nenhum registro de patente para o design das cadeiras monobloco – o que também ajuda a explicar porque esse método de produção se espalhou pelo mundo.
Símbolo da globalização
A Monobloc já virou tema de discussões acadêmicas – como a que o professor Ethan Zuckerman levantou em 2011, quando ocupava o cargo de diretor de estudos de mídia cívica no MIT, nos EUA. Na época, Zuckerman ficou fascinado pelo fato da Monobloc ser um dos poucos objetos “livre de contexto” que existem:
“Praticamente todo objeto sugere um tempo e um lugar”, escreveu Zuckerman em seu blog. “O Monobloco é um dos poucos objetos em que consigo pensar que está livre de qualquer contexto específico. Ver uma cadeira de plástico branca em uma fotografia não oferece nenhuma pista sobre onde ou quando você está. Tenho dificuldade em pensar em outros objetos que produzam o mesmo efeito.”
O professor argumenta que mesmo marcas com forte presença internacional, como Coca-Cola e McDonald`s (dois dos grandes símbolos da globalização), investem em produtos e identidades locais para se consolidar – você só encontra o Cheddar McMelt num Méqui brasileiro, por exemplo.
“Os poucos objetos como o Monobloc (…) merecem alguma forma especial de reconhecimento”, continua. “Eles alcançaram um nível de perfeição de design em que não precisam de adaptação para darem certo, seja na África, seja nos rincões da América.”
Uma breve história da cadeira de plástico Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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