A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) divulgou novas diretrizes para a detecção precoce do câncer no ânus, com destaque para a triagem em indivíduos considerados de risco para o tumor anal.
As medidas de rastreamento são recomendadas para homens que fazem sexo com homens, pessoas vivendo com HIV e pacientes imunossuprimidos — incluindo transplantados de órgãos sólidos e de medula óssea —, assim como mulheres com história prévia de câncer de vulva (a parte externa do aparelho genital feminino).
Para o grupo, é recomendada a realização de um exame preventivo anual a partir dos 35 anos, como explica o cirurgião oncológico Marcus Valadão, diretor científico da SBCO e um dos autores das diretrizes.
“Essa triagem começaria aos 35 anos, mesmo em pessoas que não apresentam nenhum sintoma relacionado ao canal anal. Os estudos epidemiológicos mostraram que a partir dessa idade as chances de desenvolvimento deste tipo de câncer aumentam”, diz Valadão, que destaca que diretrizes do tipo são inéditas no Brasil.
Como é feito o rastreamento
Um dos exames de rastreamento do câncer no ânus é a chamada citologia anal, semelhante ao teste Papanicolau utilizado na investigação do câncer de colo do útero. O médico proctologista realiza, no próprio consultório, a coleta de material para análise com o uso de cotonete específico e esfoliação da região.
“O conteúdo é encaminhado para a patologia para avaliar se há alguma célula com alterações suspeitas. Caso seja identificada alguma alteração, o paciente é encaminhado a um exame mais detalhado chamado anuscopia”, detalha o médico.
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A anuscopia é um exame que permite observar a região anal com a utilização de um microscópio. Com o método, o médico pode verificar a presença de lesões associadas ao desenvolvimento de tumores.
Análise e definição dos grupos de risco
Para chegar às recomendações, os pesquisadores brasileiros analisaram 121 estudos. A definição dos grupos de risco foi feita considerando fatores como a causa e a incidência da doença.
As diretrizes foram elaboradas por uma comissão de 14 especialistas — entre cirurgiões, oncologistas e radioterapeutas — criada pela SBCO para revisar a literatura e formular orientações sobre 30 tópicos relevantes da doença. Os resultados foram publicados no periódico científico Journal of Surgical Oncology.
“O objetivo foi criar uma publicação que reunisse orientações em linguagem clara e acessível, com base nas melhores evidências científicas atuais sobre aspectos do manejo do câncer anal, da triagem dos pacientes ao tratamento, além de esclarecer sobre a vacinação como estratégia de prevenção”, diz Valadão.
Entre as questões associadas aos tumores anais estão as infecções virais pelo papilomavírus humano (HPV) e o vírus da imunodeficiência humana (HIV), este por conta da sua associação com a imunossupressão (diminuição de resposta do sistema imunológico).
Além disso, também compõem a lista de fatores de risco para desenvolvimento de câncer no ânus: histórico de infecções sexualmente transmissíveis, como herpes genital, gonorreia e clamídia, a prática do sexo anal e o tabagismo.
Impactos da infecção pelo HPV
A infecção pelos subtipos do HPV mais associados ao câncer é cada vez mais reconhecida como uma das principais causas de tumores no ânus. Estima-se que mais de 90% dos casos estejam associados ao vírus.
A transmissão acontece principalmente a partir de relações sexuais, incluindo penetração anal ou vaginal, além de práticas como masturbação entre parceiros.
A principal forma de prevenção é a vacinação contra o HPV. No Brasil, o imunizante é disponibilizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde para grupos específicos, incluindo crianças e adolescentes de 9 a 14 anos.
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A vacina também está disponível no SUS para pessoas que vivem com HIV/Aids, pacientes transplantados de órgãos sólidos, de medula óssea ou indivíduos com câncer de 9 a 45 anos.
Diagnóstico precoce
O rastreamento, com foco no diagnóstico precoce, visa reduzir a mortalidade pela doença, de acordo com a SBCO.
Um levantamento do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos (NCI, em inglês) aponta que, quando ela é descoberta em fase inicial, ainda restrita ao ânus, a chance de cura é de 83,7%. No caso de metástase, quando a doença se espalha para outros órgãos, a taxa cai para 36,2%.
Dados do Atlas de Mortalidade por Câncer, do Ministério da Saúde, indicam que esse tumor foi responsável por 1.040 mortes em 2020 no Brasil. O câncer de ânus representa de 1% a 2% de todos os tumores colorretais, sendo considerado um tipo relativamente raro.
A forma de tratamento depende da evolução do tumor, que pode ser avaliada após o diagnóstico. Os pacientes são submetidos a procedimentos cirúrgicos e clínicos, sendo mais comum a combinação de quimioterapia e radioterapia.
Sintomas do câncer anal
A doença pode ser assintomática em um número considerável de casos.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o sintoma mais comum é o sangramento anal durante a evacuação, associado à dor na região. Também são sinais de alerta coceira, ardor, secreções incomuns, feridas na região anal e impossibilidade de controlar a saída das fezes.
É possível ainda que a pessoa apresente alterações de hábitos intestinais e presença de sangue nas fezes.
Diretrizes inéditas apontam grupos de risco para triagem de câncer no ânus Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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