quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Bebê nasce com anticorpos contra Covid-19 após mãe se infectar na gravidez

Celine Ng-Chan, uma mulher de 31 anos natural de Cingapura, foi diagnosticada com Covid-19 em março deste ano após retornar de uma viagem à Europa. Na época, ela estava grávida de dez semanas. Apesar das preocupações iniciais, o seu bebê nasceu sem a doença (hoje, meses após o início da pandemia, os dados mostram que a transmissão do vírus da mãe para o feto é rara). Mas o episódio foi especial por outro motivo: o filho de Ng-Chan nasceu com anticorpos contra o Sars-CoV-2. 

A informação foi divulgada pelo jornal The Straits Times, de Cingapura. O bebê, chamado Aldrian, nasceu em novembro, saudável e sem testar positivo para Covid-19. No entanto, um exame sorológico detectou a presença de anticorpos contra o Sars-CoV-2 no organismo do bebê. “Meu médico suspeita que transferi meus anticorpos para ele durante a minha gravidez”, contou Ng-Chan ao jornal.

A mulher foi infectada durante uma viagem à Europa em março, ainda no início da pandemia; ela teve sintomas leves e ficou internada para observação, juntamente com sua filha mais velha. A mãe de Ng-Chan, com 58 anos, apresentou um quadro severo da doença e passou quatro meses no hospital, dos quais 29 dias com ventilação mecânica para respirar. As três mulheres se recuperaram, e Ng-Chan já não testava mais positivo na época em que deu à luz.

Como havia preocupação de que o bebê pudesse ter pegado a doença, testes PCR foram feitos na criança, e todos deram negativo. No entanto, Aldrian apresentava um alto nível de anticorpos contra o vírus, o suficiente para os médicos acreditarem que ele está imune à doença, pelo menos temporariamente. Os anticorpos da mãe já haviam praticamente desaparecido na época do parto.

O caso é mais uma peça no quebra-cabeças que cientistas enfrentam para entender a relação entre a Covid-19 e gravidez. Segundo a Organização Mundial da Saúde, ainda não se sabe se uma mulher grávida com Covid-19 pode transmitir o vírus ao feto ou bebê durante a gravidez ou o parto. Até o momento, o vírus ativo não foi encontrado em nenhuma amostra de fluídos no útero ou no leite materno.

No entanto, um estudo publicado em outubro na revista JAMA Pediatrics concluiu que o risco de transmissão de mãe para feto é raro; outras pesquisas tiveram resultados semelhantes.

A transferência de anticorpos, por sua vez, é ainda menos compreendida. Pesquisadores na Espanha e na China já haviam identificado o fenômeno em recém-nascidos de mães diagnosticadas com Covid-19; no entanto, não se sabe o quão comum essa transferência é, quanto tempo esses anticorpos duram no corpo da criança e se eles de fato garantem uma imunidade efetiva contra o vírus. No caso de Cingapura, o hospital que fez o parto de Ng-Chan contou ao The Straits Times que poucas mulheres foram diagnosticadas com Covid-19 durante a gravidez, dificultando o entendimento do processo.

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Além disso, os protocolos de saúde dos hospitais, em geral, não exigem testes invasivos nos bebês dessas mulheres, desde que as mães testem negativo na época do parto e as crianças não apresentem sintomas. Por isso, não há uma base de dados robusta para explorar a questão até agora – é possível que outros recém-nascidos possuam anticorpos contra a doença, por exemplo, mas isso tenha passado despercebido.

Os cientistas suspeitam que os anticorpos podem ser transferidos de mãe para filho através da placenta. Não seria algo incomum: a ciência já sabe que outras defesas naturais, contra vírus e bactérias diversos, passam da mãe para o feto dessa maneira. No entanto, ainda faltam muitos estudos para se entender como a gravidade da Covid-19 afeta os níveis de anticorpos transferidos, como o tempo de infecção durante a gravidez afeta o processo e quão efetiva e duradoura é a suposta imunidade dos bebês.

Um pequeno estudo feito com mães diagnosticadas com Covid-19 em Wuhan, na China, sugere que esses anticorpos herdados da mãe podem desaparecer rapidamente dos filhos – ou seja, talvez eles não estejam realmente imunes por muito tempo.

A ciência já sabe que as mães transferem proteção a seus filhos através da amamentação. Não está claro, porém, se isso também acontece no caso da Covid-19. Um estudo de setembro, ainda não revisado por outros cientistas e publicado em um periódico, analisou 37 amostras de leite materno de mulheres que testaram positivo para a doença; todas as amostras tinham anticorpos contra o coronavírus, e nenhuma trazia o vírus em si.

Esse é um dos motivos pelos quais autoridades de saúde, como a própria OMS, recomendam que mães que testem positivo para Covid-19 continuem amamentando seus filhos, desde que usem uma máscara e mantenham uma boa higiene.

 

 

 

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