A massa total do planeta Terra essencialmente não muda. Tudo bem: ela até aumenta alguns quilos quando cai algum pedregulho espacial por aqui – e diminui alguns quilos quando Elon Musk manda um foguete para a ISS. Mas essas poucas toneladas que chegam do espaço e vão para o espaço são simbólicas em relação à massa total da Terra, de 5.9722 x 1024 kg (ou seja, 5.972.200.000.000.000.000.000.000 kg).
Nascem 385 mil bebês por dia no mundo. Considerando que cada um pese, em média, uns três quilos, temos 1,155 milhão de quilos. Ou seja: 1.155 toneladas de bebês fresquinhos. Nenhum deses pirralhos adiciona um quilo sequer à massa total da Terra, porque a matéria-prima usada pelas gestantes para fazer esses bebês veio da própria Terra: proteínas, carboidratos e lipídios provenientes de plantas, animais e fungos que já estavam por aqui.
É o ciclo da vida, a eterna reciclagem que Mufasa martelou na cabeça de mllenials como eu em O Rei Leão.
É estranho pensar que as cidades também não adicionam um mísero quilo ao planeta: o alumínio, o aço, o vidro, os tijolos e telhas, o asfalto e a gasolina… tudo veio, em última instância, da própria Terra. Seres vivos são máquinas de transformar a natureza em mais de si mesmos; indústrias humanas são máquinas de transformar a natureza em coisas úteis para os humanos. Que, com frequência, vão parar no lixo depois.
Essa corrida entre a fabricação de seres vivos e a fabricação de coisas humanas finalmente está desiquilibrada para o lado humano. Em um estudo publicado no periódico Nature, ambientalistas do Instituto Weizmann, em Israel, calcularam que, no ano de 2020, a massa total das coisas produzidas por nós igualou e passou a massa total das coisas vivas na Terra: ambas estão em aproximadamente 1,1 teratoneladas. Em quilos, isso dá o número 11 seguido de 14 zeros.
Nosso ritmo é estonteante: a massa de coisas produzidas pelo homem aumenta 30 gigatoneladas por ano – o que, usando a mesma conversão para quilos do parágrafo anterior, dá 3 seguido de 10 zeros. Isso significa que, até 2040, iremos de 1,1 teratoneladas para 3 teratoneladas.
No começo do século 20, há apenas cem anos, tudo que já havia sido produzido pelo Homo sapiens correspondia a apenas 3% da biomassa da Terra. O crescimento aconteceu em um ritmo estonteante. Boa parte dele pode ser atribuído a um boom na industrialização e na construção civil (estradas e prédios, principalmente) no período de prosperidade após a 2a Guerra Mundial. Hoje, o ser humano fabrica ou constrói, toda semana, o peso de todos os seres humanos da Terra somados.
“Não podemos mais negar nosso papel central na natureza”, disse à AFP Emily Elhacham, uma das autoras do estudo. “Nós somos uma presença significativa, e precisamos nos responsabilizar.”
Objetos feitos pelo ser humano acabam de superar, em peso, toda a vida na Terra Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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